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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Importação cresceu mais e afetou saldo em 2013

Por Rodrigo Pedroso e Marta Watanabe | De São Paulo 03/01/2014 às 00h00
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) deve divulgar nesta quinta-feira o pior resultado da balança comercial pelo menos desde 2001. Depois de encerrar 2012 com superávit de US$ 19,4 bilhões, o saldo de 2013 deve ter ficado entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões, em um resultado influenciado por fatores atípicos e estruturais. Na última semana do ano, as chuvas afetaram embarques de minério de ferro e podem ter afetado um pouco mais a balança.
O atraso no embarque de minério de ferro para a exportação pela Vale pode ter um impacto de US$ 400 milhões (a menos) no resultado da balança comercial de dezembro, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A Vale informou na semana passada que, em função das fortes chuvas que atingiram o Sudeste do país, entre três milhões e quatro milhões de toneladas de minério de ferro tiveram o cronograma de transporte até o porto prejudicados. O presidente da AEB, José Augusto de Castro, explicou, porém, que a companhia pode registrar a exportação na saída da mina. Se o registro for feito só no embarque em navio, aí pode ocorrer a "perda" de US$ 400 milhões, diz ele.
A piora no saldo comercial brasileiro em 2013 é atribuída a dois fatores preponderantes. O primeiro se deve - mesmo com o desconto dos registros atrasados - ao comportamento da balança de petróleo, específico de 2013. O segundo decorre do crescimento das importações em contraste com a estagnação das exportações, tendência do comércio exterior brasileiro nos últimos anos.
A balança de petróleo e derivados, que estima-se que tenha carregado US$ 4,5 bilhões em importações de petróleo e derivados realizados em 2012 para 2013, foi o setor que mais deprimiu os superávits entre um ano e outro. Fernando Ribeiro, técnico de pesquisa e planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), salienta que o petróleo "jogou contra" no ano passado.
No total, até a terceira semana de dezembro de 2013, as importações cresceram 6,5%, enquanto as exportações recuaram 1,2%, em valor, apesar da ajuda "extra" dada pelas plataformas de petróleo, que apesar de serem produzidas no Brasil entram na contabilidade do comércio exterior como uma exportação. "A importação acompanhou o crescimento da economia. A indústria, principalmente, demandou muito mais bens intermediários, enquanto nossas exportações têm ido mal há um tempo. Outro elemento que alimentou essa assimetria foi a queda média de 2% nos preços dos produtos embarcados", diz Ribeiro, do Ipea.
O forte avanço das importações também chamou a atenção da pesquisadora e professora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Lia Valls, embora ela veja sinais de moderação. "No fim de 2013 houve diminuição desse ritmo, o que tem certa influência da desvalorização cambial ocorrida ao longo do ano", afirma.
Mesmo onde ocorreu aumento em volume das vendas ao exterior, o efeito foi reduzido pela queda de preço. Nos cálculos da GO Associados, o preço da soja - segundo produto mais exportado - caiu 5% em 2013 em relação ao ano anterior. O café teve recuo de 15%, o milho de 17% e o açúcar de 19%, sempre olhando para o mercado internacional. O minério de ferro manteve o volume embarcado, mas o preço caiu em média 2%.
"Do lado dos manufaturados, vendemos mais veículos à Argentina. Mas não dá para contar com isso em 2014, pois o comportamento do governo argentino é difícil de prever. Não fosse a desvalorização cambial, que ajudou um pouco alguns produtos com maior valor agregado, dificilmente iríamos manter o mesmo nível de exportação em relação a 2012", afirma o diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira.

O economista prevê que o total da exportação some US$ 240 bilhões em 2013. "O problema é que estamos importando em um ritmo alto ainda que o consumo esteja desacelerando. O saldo da balança em 2011 foi de US$ 30 bilhões, em 2012 caiu para US$ 19 bilhões e no ano passado ficou próximo do zero. Isso mostra que por um lado estamos com oferta interna insuficiente, enquanto por outro vimos o início de ciclo de redução gradual dos preços das commodities."


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