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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Ter , 17/12/2013 às 07:54

GO Associados prevê queda da Selic para 9,5% em 2014

Gustavo Porto | Agência Estado
A GO associados estima que a taxa básica de juros (Selic) deve recuar para 9,5% no primeiro semestre de 2014, ante os atuais 10%, medida a ser adotada para estimular o crescimento do crédito, do Produto Interno Bruto (PIB) e da produção industrial no segundo semestre do ano. A projeção diverge das feitas pela maioria dos analistas de mercado, que apontam uma alta de até 0,50 ponto porcentual na Selic no começo de 2014, para até 10,50% ao ano, e uma estabilidade no indicador até o início de 2015.
Segundo a consultoria, 2014 será um ano com ambiente externo ruim para exportações e manutenção do nível de importados, o que levará o País a um déficit de US$ 3 bilhões nas transações comerciais. Com o fim do afrouxamento monetário nos Estados Unidos, o dólar deve seguir volátil no Brasil, ficando entre US$ 2,20 e US$ 2,45, valor que deve ser o teto suportado pelo Banco Central brasileiro para intervenções na tentativa de impedir altas maiores.
O cenário de inflação e de PIB brasileiro em 2014 deve seguir praticamente estável ante o deste ano. A GO Associados avalia que a inflação (IPCA) deve encerrar 2013 em 5,6% e ficar em 5,8% em 2014. Já o PIB, sustentado pelo consumo das famílias, algum avanço nos investimentos e ainda um melhor desempenho da indústria, deve crescer 2,5% em 2014, ante 2,2% este ano.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Plano difícil de cumprir no esgoto

  • Em 43% dos lares, não há saneamento. Após 6 anos, governo lança programa com meta irreal

BRASÍLIA — A empregada doméstica Reny Nunes de Melo, que mora no assentamento Fercal, a 26 quilômetros do centro de Brasília, vive um drama que afeta 43% dos domicílios brasileiros: a falta de redes de esgoto. Em períodos de chuva, principalmente, as fossas dos vizinhos transbordam e o esgoto corre em volta da sua casa. Depois de ficar na gaveta por seis anos, o governo lançou, no início deste mês, o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) com o objetivo de resolver o problema da falta de acesso a água e esgoto tratados no país. Mas, na avaliação de especialistas, a proposta é irreal e cheia de falhas, o que ameaça o sucesso da meta de universalização dos serviços em 20 anos.
No caso do esgoto, o Plansab promete elevar a cobertura para 92% da população até 2033. Hoje, apenas 57% dos domicílios brasileiros são ligados à rede de esgoto, mas este número inclui as fossas sépticas. No acesso à água tratada, a meta é estender o acesso a 99% da população, em áreas urbanas e rurais, com aporte de R$ 508,5 bilhões. Porém, o plano não informa como o país dará um salto no nível de execução dos investimentos no setor — tradicionalmente baixo. E está baseado em cenários econômicos bem mais otimistas que o atual, com crescimento elevado e inflação baixa.
O investimento total do Plansab para o saneamento foi projetado num cenário em que o Brasil chegará a 2030 com taxa de crescimento de 4% ao ano e inflação de 3,5%. Porém, este ano o Brasil deve crescer só 2,3% e a inflação deve ser de 5,8%.
No cenário traçado pelo governo, os aportes federais pulariam de R$ 7,9 bilhões em 2011 para R$ 13,5 bilhões em 2014 e 2015 e R$ 17,5 bilhões em 2017, totalizando R$ 300 bilhões até o fim do plano. O restante seria complementado por estados, municípios, operadores privados e financiamentos externos.
Meta exige ampliar aportes em 60%
Nos dois cenários mais pessimistas para a economia, o crescimento é estimado em 3% ao ano e a inflação, em 6% ao ano, com investimentos federais de R$ 220 bilhões entre 2014 e 2033. O documento admite que, neste caso, haveria necessidade de aperto monetário para controlar a inflação e dificuldades de implementação de políticas públicas, com retração dos investimentos, mas mantém inalteradas as metas de universalização dos serviços.
— O Plansab é mais um protocolo de intenções do que um planejamento de longo prazo que se propõe, de fato, a atingir a meta de universalizar os serviços. É uma carta de intenção, porque está muito distante da realidade — disse o presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), José Carlos Barbosa.
De acordo com o Plansab, nos próximos cinco anos, o país terá de investir R$ 87,5 bilhões em saneamento, uma média anual de R$ 17,5 bilhões. Entre 2003 e 2011, foram contratados R$ 79,879 bilhões, mas desembolsados R$ 43,448 bilhões, o que equivale a R$ 4,8 bilhões por ano. Mesmo quando se analisam os projetos incluídos no PAC, que têm prioridade, a situação não é diferente: dos R$ 40 bilhões anunciados para o setor, entre 2007 e 2010, o Ministério das Cidades selecionou 1.700 projetos, num total de R$ 35,6 bilhões, mas foram executados somente R$ 9,8 bilhões, contando recursos só da União (média de execução de 31%).
Para especialistas, olhando a evolução da cobertura dos serviços de tratamento de água e esgoto e a média de investimento anual, nos últimos dez anos (entre 2002 e 2012), fica claro que as metas do Plansab não são factíveis. Nesse período, o índice de cobertura do serviço de água tratada subiu 2,4% e foram investidos R$ 28 bilhões, ou seja, foram gastos R$ 12 bilhões para cada ponto percentual a mais na cobertura. O índice está hoje em 84% e, para chegar a uma cobertura de 99%, por exemplo, será preciso investir por ano mais de três vezes o valor médio aplicado na última década, algo em torno de R$ 9 bilhões. Mantido o ritmo atual, o país chegaria a 2030 com cobertura de 88%.
No caso do esgoto, que hoje tem cobertura de 57%, a situação é ainda mais complicada: nos últimos dez anos foram investidos R$ 33 bilhões, ou seja, foram gastos em média R$ 3 bilhões por ano. Para alcançar a meta pretendida, seria preciso ampliar o investimento em mais de 60%. Mantido o ritmo atual, o Brasil chegará a uma cobertura de 76% em 2030. Segundo cálculos da Aesbe, nesse ritmo a universalização levaria 57 anos.
— O cheiro é insuportável e não tem o que fazer. Tem que esperar secar — reclama Reny Melo, que precisa conviver com o esgoto a céu aberto.
Vizinha de Reny no assentamento Fercal, em Brasília, a dona de casa Edna Aquino de Sousa contou que um caminhão jogou brita e pedras em cima da fossa para abafar o mau cheiro. Ela disse que as crianças adoecem com frequência e atribui o problema à falta de rede de esgoto:
— Os meninos adoecem muito. Têm diarreia e virose. Acho que é o esgoto.
Outra crítica ao Plansab é a falta de prioridade para ações destinadas ao tratamento do esgoto, um problema grave no Brasil e de solução onerosa. Estima-se que mais da metade do esgoto produzido no país é jogada diretamente em rios e no mar, poluindo o ambiente e mananciais.
— Isso agrava a escassez hídrica e encarece a conta de água para os consumidores — disse o economista Marcos Thadeu Abicalil, especialista sênior de Água e Saneamento do Banco Mundial.
— O plano apresenta medidas muito amplas e genéricas no sentido de orientar a efetiva execução dos investimentos necessários à universalização do saneamento no Brasil — observa o economista Gesner Oliveira, sócio da Go Associados e especialista na área.
Para ministério, cenário é factível
O Ministério das Cidades rebateu, em nota, as críticas ao Plansab: “No entendimento técnico do Ministério das Cidades, o plano é real, os cenários trazem uma visão factível e fortalecem o plano. Ademais, o monitoramento e avaliação do plano será permanente e sistemático para que possam ser identificadas possíveis distanciamentos da realidade prevista, de forma a se fazer as correções necessárias".
Segundo o presidente da Aesbe, o governo precisa deixar claro quanto a União vai aplicar no setor, a fundo perdido, para ajudar estados onde a situação é mais grave e nos quais não há capacidade de endividamento, sobretudo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
globo.globo.com/economia/plano-dificil-de-cumprir-no-esgoto-11139042#ixzz2oI8w4epq 
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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Nosso sócio, Fernando Marcato, comentou  o resultado da concessão da rodovia BR-163/MS, no Jornal da Globo News, edição das 16h.
Para assistir a entrevista, clique aqui.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

'O Brasil só fazia puxadinho'

Os investimentos em infraestrutura, decorrentes dos recentes leilões de concessões, vão ajudar a economia brasileira a conseguir em 2014 um desempenho um pouco melhor do que e...

por: Roberto Muller Filho / Liliana Lavoratti
foto: Paulo BaretaGesner Oliveira: Inevitáveis ajustes em preços administrados e no BNDES ficarão para o novo governo, em 2015
Gesner Oliveira: Inevitáveis ajustes em preços administrados e no BNDES ficarão para o novo governo, em 2015
Os investimentos em infraestrutura, decorrentes dos recentes leilões de concessões, vão ajudar a economia brasileira a conseguir em 2014 um desempenho um pouco melhor do que em 2013, já que o fôlego do consumo será cada vez menor para tirar o Produto Interno Bruto (PIB) das baixas taxas de crescimento dos últimos anos e as indústrias permanecem sem competitividade para enfrentar a concorrência e ampliar a capacidade de produção. E a expansão dos gastos públicos está limitada pela situação desfavorável das contas do governo. A avaliação é do professor da Fundação Getulio Vargas, ex-presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e sócio da consultoria GO Associados, Gesner Oliveira.
“Quando a gente olha para 2014, observamos que é o investimento que pode acelerar a economia. O consumo continuará crescendo, porém a uma taxa menor. Pelo lado das exportações, o PIB também não vai avançar. A Europa está estagnada, a China desacelera e a recuperação dos Estados Unidos é lenta. As importações continuarão pressionando muito a indústria nacional, pela falta de competitividade das nossas fábricas. O gasto público já está exagerado e não sabemos se o superávit primário das contas do governo vai melhorar. Então, um empurrão no PIB vai ter que ser pelo investimento”, afirma ao DCI o economista que atuou na equipe econômica do governo FHC.
Governo e setor privado estão, hoje, mais atentos à infraestrutura, segundo Gesner. “O Brasil se desacostumou a fazer grandes projetos e só fazia puxadinho. Ainda tem muito puxadinho, mas começamos a pensar grande, a pensar a demanda daqui a 20, 30 anos”, ressalta.
No entanto, ele defende que, a exemplo da preservação do tripé da política econômica implantada no governo tucano – a austeridade fiscal, o câmbio flutuante e a responsabilidade fiscal –, também é preciso ter um tripé para infraestrutura. “Planejamento público e privado, boa regulação e gestão constituem o tripé da infraestrutura que ainda falta ao País”, enfatiza.
Para Gesner, vários ajustes necessários na política macroeconômica atual ficarão mesmo para 2015, para o governo eleito nas urnas em outubro próximo. “Existe uma pressão inflacionária bem forte”, avisa. 
A seguir, a entrevista.
DCI: 2014 será melhor que 2013?
Gesner Oliveira: A economia cresce bem abaixo do esperado. Estimávamos 2,6% de avanço do PIB para 2013, reduzimos para 2,2% e, em 2014, deve ficar pouco abaixo de 3%. A isso se junta uma inflação em níveis desconfortáveis há alguns anos. A meta de 4,5% é alta, e a banda, relativamente larga, de mais 2% e menos 2%. Há sentimento de frustração, na medida em que a economia desacelera e a preocupação inflacionária é constante. Cerca de 6% de inflação significa a média de evolução de preços livres, às vezes chega a 8% ou 9%. Existe uma pressão inflacionária e pela reindexação da economia. Mas os preços administrados estão baixos e revelam a necessidade de descomprimir esses preços em algum momento, à frente. O que vai gerar choques inflacionários inevitáveis.
DCI: Além dos combustíveis, quais os preços nesta situação?
GO: As tarifas de ônibus e tantas outras de utilidade pública terão de ser revisadas. Elas vinham sendo reajustadas conforme cronogramas obrigatórios, mas as manifestações de junho travaram esses aumentos em todas as esferas de governo. Não defendo reajustes acentuados, mas em alguns casos, não reajustar gera desajustes que terão de ser corrigidos no futuro. Podemos esperar para 2014 uma inflação represada que terá de ser descomprimida em algum momento. É melhor não manter esse represamento durante muito tempo, sob pena de um choque inflacionário muito forte, um desequilíbrio econômico-financeiro nos contratos. O baixo investimento também é fonte de frustração. É um problema histórico do Brasil, cuja taxa de investimento está entre 18% e 19% do PIB, bem aquém do necessário para a economia deslanchar.
DCI: Ou mudar o motor do crescimento, do consumo para o investimento.
GO: Exato, do consumo para o investimento. Em 2014, os investimentos chegarão a 20% do PIB, mas teríamos que aumentar para 25% essa taxa para que a economia cresça 5% ao ano. Comparado a outros emergentes, o Brasil está abaixo de Rússia, China, Índia. O mais preocupante é o comportamento dos investimentos em infraestrutura,  aqueles aportes de capital para a infraestrutura. Aqui o  problema é mais grave ainda. Estudo da McKinsey & Company [consultoria empresarial americana] mostra que nas últimas duas décadas investimos 2,2% do PIB em infraestrutura, ou seja, em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, não incluindo petróleo e gás. Isso de uma taxa total de investimentos que em 2014 vai ser de cerca de 20% do PIB. A Índia investiu nas últimas duas décadas em infraestrutura, na média, 4,7% do PIB. É mais do que o dobro do Brasil. Na China, foi de 8,5%, e a média mundial foi de 3,8%. 
DCI: Estamos inclusive aquém do que investimos no passado.
GO: Nos anos 1970, o Brasil chegou a investir quase 5% do PIB em infraestrutura. A Tailândia investe 15% do PIB, o Vietnã, 9,9%. Isso chama a atenção sobre como o Brasil está muito parado nessa área. Enquanto a capacidade ficou estagnada, a demanda interna cresceu por várias razões, inclusive algumas boas, como o aumento de renda e maior integração regional. Hoje existem muito mais empresas operando em escala nacional, no entanto, as rodovias, ferrovias e portos não acompanharam essa evolução. Há excesso de demanda em praticamente todos os serviços de infraestrutura. Em outros países com renda per capita compatível à nossa, ao redor de US$ 13 mil, não há tanta negligência em relação a um serviço tão essencial quanto o saneamento  básico, por exemplo, ainda inexistente para 50% da população.
DCI: Esta realidade começa a ser modificada?
GO: A boa notícia é que, embora tenha sido tardio, o programa de concessões começou a andar. No caso dos aeroportos, os resultados são bons. A competição foi muito acirrada nos leilões: tivemos ágios elevados, de 374%, no caso de Guarulhos, até de 673%, em Brasília. As quantias arrecadadas também foram expressivas. Nos aeroportos, nos próximos anos veremos melhora e investimentos sendo realizados. Infelizmente, as obras não ficarão totalmente prontas antes da Copa, mas a coisa está andando. Nos portos, novos leilões vão ocorrer em 2014, além dos já realizados. Em aeroportos está andando, em portos está andando, em rodovias também. Ferrovias ainda é um problema porque não há muita segurança em relação ao modelo das concessões. Essa é uma questão que talvez o governo vá precisar trabalhar melhor para arrancar, mas de qualquer maneira há movimento. No saneamento, crescem as  parcerias público-privadas e os recursos por parte do setor privado nesses projetos. Tem havido um avanço significativo relativamente ao passado.
DCI: Esses investimentos darão um gás para a economia?
GO: Quando a gente olha para 2014, observamos que o que pode acelerar é o investimento. O consumo continuará crescendo, mas menos. Há desaceleração das vendas do varejo e do crédito. Pelo lado do consumo, o PIB não vai avançar; pelo lado das exportações, também não porque a Europa está estagnada, a China desacelera e a recuperação dos Estados Unidos é lenta. As importações continuarão pressionando a indústria nacional, pela falta de competitividade. O gasto público já está exagerado e não sabemos se o superávit primário das contas do governo vai melhorar. Então, um empurrão no PIB vai ter que ser pelo investimento. E dois setores são importantes para isso: a construção civil e a indústria. Como a indústria anda lentamente, o investimento industrial não avançará muito, até porque a demanda não está muito forte. Resta a construção, que depende muito do programa de concessões. A grande esperança para a economia não desacelerar tanto daqui para frente reside no programa de concessões.
DCI: Qual o impacto no PIB?
GO: Esse programa vai ajudar e o Brasil vai crescer próximo a 3% em 2014. Os mais pessimistas acham que não vai acelerar e que, portanto, a economia andará em torno de 1%, 1,5%. Eu sou mais otimista. Existe um bom potencial para o programa de concessões andar. De novo, não na velocidade e intensidade que gostaríamos, mas ele vai, de fato, trazer uma contribuição para o crescimento no próximo ano. Dá para melhorar os modelos para as várias áreas de infraestrutura. O governo já assimilou que não é possível a intervenção artificial sobre as taxas de retorno dos capitais privados. Ficou claro que é preciso planejar os leilões e a modelagem ficou melhor. Junto com isso, o próprio setor privado está hoje mais capacitado para a infraestrutura. Empresas e instituições financeiras têm atentado para a infraestrutura. O Brasil passou tanto tempo negligente nesta área e nos desacostumamos a pensar grande. O Brasil só fazia puxadinho. Ainda tem muito puxadinho, mas a gente está começando a pensar a demanda daqui a 20, 30 anos, no financiamento de longo prazo, a desenvolver um mercado de debêntures.
DCI: As soluções estão dadas?
GO: Não, e os problemas são inúmeros. Não quero ser ufanista e dizer que a capa da The Economist [revista britânica] de 2009 é que estava certa, que ninguém segura o Brasil. Mas também a capa mais recente da mesma revista [mostrando o Cristo Redentor caindo] é muito pessimista. Temos um país que é um mercado relativamente grande para padrões internacionais, que por razões diversas, teve uma estagnação da capacidade de infraestrutura e a demanda cresceu muito. Mas tudo isso também significa uma excelente oportunidade de negócios. Com o mínimo de marco regulatório, de segurança jurídica, o Brasil tem todas as condições de dar um salto na infraestrutura, e as empresas privadas brasileiras são muito pujantes, ao contrário de outras economias emergentes. Com participação do setor financeiro, fundos de private equity e operadores internacionais, pode haver uma grande mudança no País. A retirada dos estímulos do Tesouro norte-americano à economia, a grande bomba a ser desligada, gera incerteza, mas tudo indica que isso será feito com cuidado.
DCI: Como acelerar esses investimentos?
GO: Assim como precisamos preservar o tripé da política econômica – austeridade fiscal, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal –, precisamos de um tripé para infraestrutura: resgate do planejamento, tanto privado quanto estatal; boa regulação e uma boa gestão.
DCI: Corremos risco de perder o grau de investimento?
GO: Existe ameaça de um downgrade por conta da complicada questão fiscal. A política macroeconômica foi negligente na parte fiscal, com  falta de esforço de contenção de gastos e tentativa de disfarçar o mau desempenho dos resultados. É hora de dar provas inequívocas de que será gerado caixa suficiente para honrar o pagamento dos juros da dívida pública. A presidente Dilma sinalizou estar afinada com isso quando procurou os congressistas para um pacto contra as propostas em tramitação que elevam os gastos.
DCI: Em ano de eleição não é mais difícil conter gastos?
GO: Sim, mas um eventual downgrade ou barbeiragem na economia internacional geraria desconfiança e forte depreciação do real, com impacto na inflação, elevando o custo eleitoral para o governo em relação a uma postura firme de contenção de despesas. Precisamos de política econômica cautelosa nesse momento. Economia desacelerada e inflação desconfortável já são ruins. Se houver depreciação forte, em função de uma crise de confiança gerada por evento internacional ou por barbeiragem interna, teríamos o pior cenário, com desequilíbrio acentuado. Temos desajustes, a gente está andando de uma forma desajustada. Se houver um choque externo ou um descuido interno grande, do desajuste passaremos à crise.
DCI: Ajustes só em 2015?
GO: Não esperaria grandes ajustes de gastos ou de receitas em ano eleitoral, nem fortes ajustes de tarifas, dos preços da gasolina, além do necessário para sobreviver. Ajustes inadiáveis de gastos e de preços administrados ficarão para o governo que assumir em 2015. Assim como ajustes no relacionamento do Tesouro Nacional com o setor de energia elétrica, cujas contas foram comprimidas. O financiamento de longo prazo do BNDES, que requer aportes grandes do Tesouro, também terá de ser equacionado. 

"Plano de voo": OMC: faltou liberar o comércio agrícola

Brasil terá de negociar melhores condições para agricultura...


O acordo fechado na Organização Mundial do Comércio (OMC) em Bali deve ser aplaudido – afinal, o Brasil apostou no sistema multilateral de comércio e no diretor-geral da instituição, o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo. A opinião é do embaixador Regis Aslanian, que foi chefe negociador do Brasil na Organização, em 2004, e sócio da GO Associados. O colapso de Bali significaria um revés para o esforço feito pelo Brasil desde o lançamento da Rodada Doha, em 2001. No entanto, Aslanian faz uma ressalva em relação ao acordo multilateral sobre facilitação do comércio. “O pacote de Bali vai pouco além de uma declaração política, ao prever que, em agricultura, os trabalhos continuarão, em Genebra, sobre a mesa de negociações”, enfatiza. Como um dos maiores exportadores de produtos agrícolas, caberá ao Brasil buscar a liberalização efetiva do comércio agrícola e o fim dos subsídios “imorais”.
Implicação para o Brasil
Os 159 países-membros da OMC concordaram com o primeiro acordo comercial nos 18 anos da organização, mas quais suas implicações para o Brasil e o comércio mundial? Essas questões serão debatidas pelos embaixadores Rubens Ricupero, ex-secretário da Conferência para as Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, e Clodoaldo Hugueney, que foi negociador na OMC. Nesta quinta (12), no Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em São Paulo.
Agora vai...
O governo autorizou ontem a concessão de cinco novos terminais portuários, já que o Palácio do Planalto corre para agilizar o programa de concessões, pois como disse ontem a presidente Dilma – e o professor da FGV em entrevista ontem no DCI, Gesner Oliveira –, os investimentos nas obras de infraestrutura darão um “empurrão” para o PIB em 2014, ano da corrida presidencial.
Rumo ao Nordeste
A Apdata do Brasil, especializada no desenvolvimento de softwares de alta tecnologia e serviços de outsourcing para gestão de pessoas, é mais uma que se move rumo ao mercado do Nordeste para aproveitar o elevado ritmo de crescimento da economia. Ela desembarca em Recife (PE) e pretende inaugurar novas unidades de negócios em outras capitais da região em 2014.
Espionagem e terrorismo
“Cibersegurança no Brasil” é o evento que abordará, hoje, na sede da Fiesp, na capital paulista, os motivos pelos quais a maioria das empresas não está preparada para enfrentar os riscos virtuais, como terrorismo e espionagem. William Beer, sócio da consultoria global Alvarez & Marsal, falará sobre o que as empresas brasileiras pensam sobre o tema.
Inocentes, educados...
De um lado, um profissional em licenciamento de produtos no Brasil e no exterior, o publicitário Luiz Angelotti. Do outro, uma empresária circense, Marlene Querubin, presidente do Circo Spacial. Juntos, ingressam no crescente mercado de licenciamento com os personagens da Família Spacial.
....e amigos da natureza
Para Luiz Angelotti, que tem em seu portfólio personagens como Lilica Ripilica, a “Família Spacial” vem atender a uma demanda da sociedade por uma marca infantil brasileira, que transmite a inocência da criança e ensina sobre preservação do meio ambiente, boas maneiras e educação de modo geral.
Mediação de família
Roberto Pasqualin, presidente do Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem (Conima), participa hoje de conferência nacional de mediação de família e práticas colaborativas. No Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília (DF).


09/12/2013 09h01

Como Ficamos Depois de Bali?
Regis Arslanian*

É de se comemorar o resultado da Conferência Ministerial de Bali. Afinal, o Brasil apostou todas suas fichas no sistema multilateral de comércio e, no mesmo sentido, na eleição do Diretor-Geral da OMC, o Embaixador Roberto Azevêdo. O fracasso de Bali significaria um revés para o todo nosso esforço empreendido, desde o lançamento da Rodada Doha, em 2001.
Mais ainda, significaria perder, definitivamente, a possibilidade de obter um acordo multilateral que assegurasse maior acesso aos mercados dos países desenvolvidos para nossas exportações agrícolas. Isso se afigurava necessário inclusive porque o Brasil não conseguiu fechar acordos bilaterais abrangentes de comércio, a exemplo do que fez a maioria de seus principais parceiros. Significaria, ainda, ver deteriorada a credibilidade do próprio sistema de solução de controvérsias da OMC, no qual, por diversas vezes, nos escudamos, como no caso dos subsídios norte-americanos para o algodão. Salvar a OMC em Bali era, assim, crucial para o Brasil.
Não se conseguiu, infelizmente, fazer com que a agenda negociadora de Bali pudesse retomar os trabalhos a partir do ponto em que foi suspensa a Rodada Doha. As conquistas que alcançamos os países em desenvolvimento naquela Rodada, sobretudo na área dos subsídios agrícolas às exportações, já não fizeram parte do repertório da agenda negociadora. É importante lembrar que a agricultura era o tema que havia ficado, desde a Rodada Uruguai, de fora do processo de liberalização do comércio, enquanto em todas as demais áreas eram feitos avanços. O entendimento de Doha era de que cabia aos países em desenvolvimento continuar fazendo concessões em bens industriais e serviços, mas os desenvolvidos deveriam, de sua parte, reduzir suas tarifas proibitivas e eliminar grande parte de seus subsídios agrícolas.
Foi, assim, adequado o recuo estratégico do Brasil de se somar ao consenso para que o pacote de Bali, ainda que menos ambicioso, não fosse o tiro de misericórdia na agricultura. No afã de homologar os entendimentos alcançados no passado na Rodada Doha teria sido um equívoco insistir em Bali em um pacote de resultados que contemplasse necessariamente um compromisso dos desenvolvidos para a eliminação ou redução dos subsídios às exportações. Teríamos corrido o risco de por tudo a perder e fechar para sempre as perspectivas de retomaremos as conquistas obtidas na Rodada Doha. O espírito construtivo do Brasil no G-20 de agricultura foi decisivo para preservar a sobrevivência da OMC.
Além do consenso alcançado no tema da facilitação do comércio, que é, aliás, parte do mandato de Doha, o pacote de Bali vai pouco além de uma declaração política, ao prever que, em agricultura, os trabalhos continuariam, em Genebra, sobre a mesa de negociações. É preciso, aqui, assinalar que os países em desenvolvimento, os demandantes em agricultura, tampouco fizemos, na Conferência de Bali, quaisquer concessões adicionais em bens industrializados e serviços.
Mas, como um dos maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas, temos a grande responsabilidade de não permitir que o tema da agricultura venha a perecer em uma mera declaração política da OMC. Caberá, agora, às nossas delegações fazer uso de toda sua habilidade para buscar, em Genebra, entendimentos efetivos que permitam a liberalização do comércio agrícola e que ponham fim aos subsídios imorais que tanto prejudicam a competividade de nossas exportações. Deveremos, é claro, estar preparados para a barganha negociadora, mas sempre através de uma estreita articulação com o setor privado sobre nossas possíveis concessões em termos de bens industrializados e serviços.
De Bali, fica uma grande lição: não podemos nos dar o luxo de colocar todas nossa fichas unicamente no multilateralismo. Devemos abrir o leque, também, em paralelo e com o mesmo empenho, para as negociações de comércio bilaterais e regionais. Com isso, o risco que acabamos de correr com o quase fracasso de Bali poderá ser em muito atenuado.


* O embaixador Regis Arslanian foi Chefe Negociador do Brasil e é Sócio Sênior da GO Associados

Fonte: http://www.sidneyrezende.com/noticia/221226+como+ficamos+depois+de+bali

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Edição do dia 04/12/2013
05/12/2013 01h49 - Atualizado em 05/12/2013 01h49


Governo leiloa mais mil quilômetros de 



rodovias em novas concessões


Levou a disputa a empresa que apresentou a menor tarifa de pedágio.
A vencedora foi a Triunfo Participações e Investimentos.

Laura CassanoSão Paulo, SP
2 comentários
O governo leiloou mais de mil quilômetros de rodovias em uma nova rodada de concessões para conseguir investimentos em infra-estrutura.
Em alguns leilões, ganha quem oferece mais. Em outros, quem oferece menos. No de hoje, levou a disputa a empresa que apresentou a menor tarifa de pedágio ao consumidor: R$2,85 por cem quilômetros rodados.
O valor foi 52% menor do que o teto fixado pelo governo, de R$5,94. A vencedora foi a Triunfo Participações e Investimentos, integrante do consórcio que levou a concessão do aeroporto de Viracopos, em Campinas, no ano passado.
“É uma região economicamente importante e muito tráfego de veículos, não é um modal que vai sofrer concorrência forte de ferrovia, estamos muito felizes por voltar ao setor de rodovias, há muito tempo estávamos ausentes”, afirmou Carlo Bottarelli, presidente da Triunfo.
O ministro dos transportes, Cesar Borges, ficou satisfeito com o resultado. “O que está se projetando é o futuro do país. Todos estão acreditando que o país vai crescer e que por isso terá uma demanda que vai fazer o retorno do capital do investimento privado”.
A Triunfo vai explorar por 30 anos trechos das BRs 60, 153 e 262 que passam por 47 cidades, como Brasília e Goiânia. São mais de 1.100 quilômetros de extensão.
A empresa vai investir mais de R$ 7 bilhões para duplicar pistas, melhorar acessos e garantir a manutenção da rodovia. Pelo edital, a maior parte desses recursos deve ser desembolsada já nos primeiros cinco anos de concessão.