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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Receita do etanol supera a do açúcar nesta safra

Por Fabiana Batista | De São Paulo
A receita bruta das usinas do Brasil com o etanol vai superar o montante alcançado com o açúcar no ciclo 2013/14. A projeção, divulgada pela GO Associados, indica para o período uma receita de R$ 35,6 bilhões para a commodity e de R$ 35,9 bilhões para o biocombustível. No ciclo 2012/13, a receita do açúcar superou em 48% a do etanol.
A produção brasileira de etanol deve crescer 16,3%, para 27 bilhões de litros - aumento inferior ao avanço previsto para a receita, de 26,8%. A consultoria projeta que os preços internacionais do biocombustível vão cair 13% em 2013, mas considerando o valor em reais (etanol anidro), o efeito dessa desvalorização será de 8%. Além disso, internamente, espera-se que as usinas tenham maior remuneração com o hidratado, dado o "melhor alinhamento do preço interno da gasolina com o preço internacional".
Já a receita bruta das usinas do Brasil com açúcar deve cair 15% no período, reflexo dos preços mais baixos da commodity nos mercado internacional e doméstico, segundo a GO Associados. A consultoria projeta que em 2013, os preços médios do açúcar vão se situar em 17,4 centavos de dólar por libra-peso, um recuo de 19% em comparação ao realizado em 2012. Em reais, o valor por tonelada será de R$ 904, projeta a consultoria, ante R$ 1,096 mil por tonelada do ano anterior. No mercado interno brasileiro, os preços médios do açúcar cristal devem recuar 18% em 2013, conforme a GO.
Para 2014/15, pode haver uma recuperação da receita bruta com açúcar de cerca de 10%, para R$ 30 bilhões, segundo a consultoria. O preço médio do produto deve ficar 3% mais alto, a 17,9 centavos de dólar por libra-peso, dada a expectativa de algum recuo do estoque mundial.
Nas últimas semanas, com o fortalecimento do dólar em relação ao real, a remuneração gerada pelo açúcar ficou superior à alcançada pelo etanol, no entanto, a produção da commodity continuou caindo no Centro-Sul, região que responde por 90% da produção brasileira.
Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), na 1ª quinzena de agosto a produção de açúcar caiu 3,92%, para 2,9 milhões de toneladas. "Isso ocorreu porque a flexibilidade das usinas é limitada neste período da safra, quando as indústrias trabalham próximo de sua total capacidade de fabricação", explicou o diretor da Unica, Antonio de Padua Rodrigues. No acumulado da safra, no entanto, o saldo ainda é de aumento de 9,30% na produção da commodity na região.
Ontem, a consultoria Datagro revisou para baixo a produção de açúcar na região Centro-Sul devido à menor moagem de cana-de-açúcar e à menor qualidade da cana. A nova estimativa é de produção de 34,18 milhões de toneladas de açúcar, quase 1 milhão a menos do que as 35,25 milhões de toneladas estimadas em meados de julho. "O açúcar contido na cana (ATR) está mais baixo do que se imaginava, devido a chuvas e a geadas, que provocam um mix mais alcooleiro. De 136,5 quilos por tonelada, o ATR foi reduzido para 135,39 quilos", afirmou o presidente da Datagro, Plínio Nastari durante a Fenasucro, feira de equipamentos e serviços para usinas que está sendo realizada esta semana em Sertãozinho (SP).


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Dólar alto alivia os agricultores, mas não garante festa no campo

Desvalorização cambial compensa a queda nos preços, mas pressiona o valor de insumos
Receita agrícola bruta deve ter alta de 3% acima da inflação em 2013, bem menor que expansão vivida em 2012
TATIANA FREITAS, DE SÃO PAULO

A alta do dólar vai beneficiar o produtor rural neste ano, mas não será suficiente para garantir os altos lucros da safra passada, quando os preços das commodities dispararam sob a influência da maior seca já vista nos EUA.
Em 2014, a desvalorização cambial, caso seja mantida, não deve evitar uma queda na rentabilidade do campo.
A retração nos preços dos grãos observada nos últimos 12 meses --e que pode se intensificar nos próximos-- deve limitar os ganhos dos agricultores no próximo ano.
A receita agrícola bruta deve atingir R$ 266,3 bilhões em 2013, segundo estimativa feita pela GO Associados a pedido da Folha. A projeção considera um dólar médio de R$ 2,19 para o ano e de R$ 2,40 ao fim de dezembro.
A projeção indica um crescimento nominal de 9% em relação a 2012, mas a inflação "comerá" parte dos ganhos. Em termos reais, o avanço ficaria próximo de 3%.
"Haverá ganho real no campo, mas num ritmo menor do que nos anos anteriores", afirma Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados.
O impacto do "novo dólar" é limitado porque a maior parte dessa renda já está no bolso do produtor. Quase toda a safra de soja, cultura mais representativa para a receita total, já foi vendida.
Para a próxima safra, que está às vésperas do plantio, o ganho deve ser menor. Segundo Silveira, a receita agrícola somará R$ 270,6 bilhões em 2014, um aumento de apenas 2% em relação a 2013. Descontada a inflação, a receita cairá entre 3% e 4%.
"Haverá uma perda de rentabilidade. O câmbio não compensará o aumento de custos e a queda nos preços", diz Silveira, que estima uma taxa de câmbio média de R$ 2,44 para o próximo ano.
Já André Pessôa, sócio da Agroconsult, acredita em uma equação positiva para o setor, embora também não espere os altos lucros da safra passada. "O resultado entre aumento de custos, queda nos preços e desvalorização do câmbio deve ser favorável para o produtor", diz.

IMPACTOS
Além dos gargalos logísticos, que vêm provocando aumento dos custos com frete, a alta do dólar também afeta os gastos do produtor.
O primeiro impacto é a alta dos insumos, como fertilizantes, cuja maioria é importada e cotada em dólar.
Mas, dessa vez, isso não será problema. Como a compra de insumos para a próxima safra foi antecipada para evitar mais filas nos portos, a maioria dos agricultores fechou essa operação antes da explosão do dólar.
Haverá, porém, efeitos indiretos, como a esperada alta do diesel --importante componente dos custos.
Com a queda esperada para os preços agrícolas, causada pela provável recomposição dos estoques mundiais de grãos, a redução dos lucros será inevitável.
Sem contar os efeitos que a queda do real causa nas cotações de produtos comercialmente dominados pelo Brasil, como café e açúcar. "O importador se aproveita da situação e derruba os preços em dólares", diz Pessôa.
Thiago Campaz, da consultoria FG/Agro, lembra que muitas usinas têm dívidas em dólar e devem gastar mais para honrar os compromissos, anulando ganhos com a alta.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Paraguai: parceiro estratégico que demonstrou maturidade

Regis Arslanian*

Cerimônia de posse do novo presidente do Paraguai, Horácio Cartes. Foto: Reprodução de TVFui convidado para participar, na semana passada, da cerimônia de posse do novo presidente do Paraguai, Horácio Cartes, e de um café da manhã por ele oferecido para mais de 300 empresários e investidores estrangeiros.
Presenciei mais do que um evento protocolar no país vizinho. Pude testemunhar uma grande festa cívica. E assisti a um ato que considero como de fortalecimento da democracia paraguaia, que muitos estrangeiros ainda a veem como incipiente; de demonstração de alto nível de maturidade da parte de um país tido por nós como irmão e parceiro estratégico. O objetivo principal do novo governo foi o de mostrar, desde sua inauguração, as oportunidades econômicas e comerciais do Paraguai, como nação que se consolida em uma nova etapa de seriedade e credibilidade. Esta foi a tônica de todos os pronunciamentos dados pelo presidente Cartes e pelo seu novo gabinete.
A história recente do Paraguai, na qual o ex-presidente Lugo foi submetido, há um ano e meio, a um impeachment - relâmpago, porém constitucional - reuniu todos os elementos para que o país mergulhasse em uma fase de incertezas, de desgoverno e de atraso. Muitos julgaram, em meio a especulações e rumores alarmistas, que se fazia necessário salvaguardar a democracia naquele país, desde fora de suas fronteiras, através de medidas punitivas, de maneira a conduzir os paraguaios para o caminho correto, evitando que enveredasse para uma situação de instabilidade política, que pudesse, pior ainda, contagiar os vizinhos. Essa avaliação provavelmente orientou a decisão de suspender o Paraguai do Mercosul e da Unasul.
Paradoxalmente, o que se viu no Paraguai, desde a destituição do presidente Lugo e durante o governo de transição, foi totalmente o inverso: o Paraguai resolveu sua situação política de forma pacífica, consistente com a Constituição e sem qualquer ingerência externa. Não foi dado um só tiro; as Forças Armadas, ao contrário de sua postura no passado, permaneceram submetidas ao poder constitucional, dentro de seus quartéis. Os três Poderes do Estado funcionaram sem qualquer impedimento; as liberdades civil e de imprensa foram respeitadas; realizaram-se, em abril, eleições livres e transparentes, as quais foram monitoradas por vários países e organizações internacionais. Para completar esse quadro, o PIB do país deverá crescer 13% neste ano.
Apesar das teorias conspiratórias, o presidente exonerado fez campanha política e foi eleito Senador; o presidente interino, Federico Franco, entregou a faixa presidencial, na data prevista pela Constituição e o Presidente vitorioso nas urnas, Horácio Cartes, assumiu a Presidência em uma grande festa, assistida por mais de 30 mil pessoas, incluindo 100 delegações oficiais estrangeiras, entre elas, a brasileira, chefiada pela Presidenta Dilma Rousseff.
Sintomático foi testemunhar que todos os ex-presidentes da era democrática paraguaia pós-Stroessner que continuam vivos estiveram presentes na posse, prestigiando o momento democrático, inclusive os dois - Cubas e Lugo - que, submetidos a juízo político, perderam seus mandatos. No passado, isso seria impensável no país vizinho.
Ainda que o Mercosul e a Unasul tenham levantado, só a partir da data da posse, a suspensão política do Paraguai, habilitando-o a voltar a participar das deliberações daqueles dois blocos, o presidente Cartes, agora, se vê impossibilitado de reintegrar os trabalhos do Mercosul. Além de traduzir o sentimento do povo paraguaio, que se sentiu injustiçado pela medida de suspensão, o governo do Paraguai não pode sentar à mesa de negociação no Mercosul junto com a Venezuela, cuja adesão foi consumada na ausência forçada do Paraguai e à revelia de seu Congresso. Aceitar a presença da Venezuela no Mercosul, sem a anuência de seu Legislativo, constituiria, aí sim, uma ruptura da ordem democrática paraguaia.
Muito tempo tem sido perdido, em detrimento de nossa relação com o país vizinho e de nosso processo de integração no Mercosul. O mundo está longe de dar sinais de que se dispõe a esperar pacientemente até que superemos essas desavenças injustificáveis. Caberá a todos nós, e principalmente ao Brasil, de longe a maior economia da América do Sul, empreender todos os esforços e usar de sua criatividade para encontrar, o quanto antes, uma saída jurídica e honrosa para todos, e continuar, com isso, unindo, e não dividindo, o nosso continente.

* Regis Arslanian é embaixador, foi chefe-negociador do Brasil no Mercosul e é sócio-sênior da GO Associados

Dólar e estoques altos projetam Natal fraco

MÁRCIA DE CHIARA - Agencia Estado
SÃO PAULO - A disparada do dólar e a desaceleração de vendas no varejo complicaram as negociações entre indústria e comércio para o fim do ano e derrubaram as projeções para o Natal. A expectativa é que o volume de vendas cresça 4,5% no Natal em relação à mesma data de 2012, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). É praticamente a metade da alta no Natal de 2012 (8,1%) e a menor variação para a data em quase dez anos.
"Há possibilidade de que essa taxa de crescimento seja ainda menor por causa do avanço do câmbio, que pressiona os preços", diz o economista da CNC, Fábio Bentes. Ele considera nas suas contas o dólar a R$ 2,30, a mediana das projeções do mercado, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central. Na sexta-feira, o câmbio fechou a R$ 2,35, acumulando alta de 15,21% no ano e de 17,68% desde abril.
As encomendas de fim de ano do varejo para a indústria começam a ser fechadas no mês que vem num cenário turbulento, que combina forte pressão de custos, provocada pela subida do dólar, com desaceleração de vendas no varejo e acúmulo de estoques indesejados na indústria. "O momento é ingrato para fechar os pedidos", resume o diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados, Fabio Silveira. Em junho e julho, os preços dos insumos industriais acumulam alta de 4% em reais, mostra o indicador elaborado pela consultoria a partir de 13 itens, a maioria deles matérias-primas.
Além das altas já ocorridas, as pressões de preço continuam. A CSN, por exemplo, anunciou reajuste entre 5,5% e 6,75% do aço neste mês. A Braskem, gigante na produção de resinas plásticas usadas em embalagens e nos eletroeletrônicos, elevou em 5%, em média, os preços em julho por causa da alta da nafta, cotada em dólar, conta o vice-presidente de Poliolefinas e Renováveis, Luciano Guidolin. "Deveremos ter uma complementação desse reajuste este mês de 4% a 5%."
Segundo um industrial que prefere não ser identificado, fazia muito tempo que não ocorriam tantos reajustes de preços de insumos simultaneamente. Um segmento no qual a pressão do dólar logo aparece é na linha de aparelhos de áudio e vídeo. Mais da metade dos componentes usados nas TVs, por exemplo, é importada.
"O reajuste é inevitável", diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros, associação de fabricantes de eletroeletrônicos. Segundo ele, "alguma coisa" vai chegar no preço ao consumidor, pois a indústria tem limite para absorver alta de custo.
"Não mexemos nos custos ainda, mas, dependendo da flutuação do dólar, poderemos aumentar preços", diz a gerente de marketing de Home Entertainment da LG Electronics do Brasil, Fernanda Summa, fazendo referência aos televisores.
Contrapeso. Apesar de a indústria se declarar "no limite" para absorver aumentos de custos sem repassar para os preços, ela carrega um contrapeso que pode ser um fator desfavorável nas negociações com o varejo: o aumento de estoques. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que, desde abril, as fábricas acumulam um volume indesejado de produtos acabados. Esse acúmulo é nítido nas indústrias de grande porte. Em julho, último dado disponível, o indicador de estoques atingiu 54,5 pontos, a maior marca desde junho de 2012. Acima de 50, o índice revela acúmulo e abaixo dessa marca, redução. "O estímulo à produção que viria com as encomendas de Natal deve ser atenuado pelo peso dos estoques", diz Renato da Fonseca, gerente de Pesquisa da CNI. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Moeda americana subiu 5,28% na semana

CLEIDE SILVA, MARCIA DE CHIARA E AE - Agencia Estado
SÃO PAULO - O dólar registrou, na sexta-feira, 16, a maior alta diária ante o real desde o fim de 2011 e fechou cotado a R$ 2,39, o maior patamar em mais de quatro anos. Preocupações relacionadas à economia brasileira e ao programa de estímulo dos Estados Unidos favoreceram a alta desvalorização, que levou a moeda americana a encostar nos R$ 2,40.

Dúvidas sobre a política de intervenção do Banco Central no mercado de câmbio também alimentaram a disparada da moeda americana. O dólar à vista subiu 2,09%, maior alta diária desde 23 de novembro de 2011. Também foi o maior nível de fechamento para a divisa desde 3 de março de 2009, quando ficou em R$ 2,41. Na semana, o avanço foi de 5,28%. Esse movimento foi determinante para a elevação dos juros futuros, que passaram a indicar apostas em uma Selic de 10% ao fim do ano, com mais três altas consecutivas de 0,50 ponto porcentual.
"Não seria nada absurdo a gente observar no curtíssimo prazo o câmbio migrando para patamares de R$ 2,40 ou R$ 2,50, mas acredito que BC tem instrumentos para evitar isso, porque ao longo dos anos conseguiu acumular reservas", disse o economista da Tendências Consultoria, Felipe Salto.
Ele acredita que a intervenção feita pelo BC, com ofertas de contratos de swap - operações que funcionam como uma espécie de venda de moeda no mercado futuro, o que ajuda a reduzir a cotação da moeda - que vencem em setembro, é um sinal de que vai operar para manter o câmbio em torno do equilíbrio. Salto trabalha com projeção do dólar a R$ 2,25 no fim do ano, ainda que ocorram oscilações para cima no curto prazo.
Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, procurou dissipar o pessimismo do mercado. Disse que o câmbio mais desvalorizado beneficia a indústria. Reconheceu, porém, que a volatilidade não beneficia a economia e deve ser combatida. As declarações foram interpretadas por parte dos investidores como sinal favorável à desvalorização do real, o que elevou a pressão no câmbio.
Para o diretor da GO Associados, Fabio Silveira, a disparada do câmbio é reflexo do desequilíbrio do setor externo brasileiro, provocado pela queda dos preços de matérias-primas, combinado à crença do mercado na recuperação dos EUA. "A valorização do câmbio é uma mudança estrutural", disse o economista, para quem a mudança deve durar pelo menos até 2014. Segundo ele, o mercado acredita que os EUA vão crescer e, por isso, os capitais estão migrando dos países emergentes para a compra de títulos do Tesouro americano.
Para Silveira, o mercado está testando os limites do câmbio. "O Banco Central não vai dormir no ponto", disse ele, fazendo referência às operações de venda de dólar pela autoridade monetária. Ele diz que, levando em conta os parâmetros atuais da economia brasileira (inflação, saldo comercial e juros), o limite de alta do câmbio estaria entre R$ 2,40 e R$ 2,50. "Mas, se houver alguma alteração desses vetores, a taxa de câmbio pode ser maior."
Embora o BC tenha concentrado sua atuação em ofertas de swap cambial tradicional, alguns analistas acham que apenas intervenções no mercado à vista conseguirão segurar o dólar. "As empresas não têm interesse em swap com o dólar neste nível, então quem está comprando os contratos são os especuladores. Além disso, o mercado à vista está sem liquidez. A pressão vem daí", afirmou o diretor da NGO Corretora, Sidnei Nehme./

Combater as perdas de água

Por Gesner Oliveira, Rogerio Pilotto e Fernando S. Marcato

A cada 100 litros de água tratada produzida no Brasil, cerca de 40 litros não chegam aos usuários ou não são cobrados. Esta é uma das evidências alarmantes destacadas em estudo realizado pela International Finance Corporation - IFC, braço para o setor privado do Banco Mundial. As companhias de saneamento brasileiras perdem em média mais do que o dobro daquilo considerado padrão internacional satisfatório (10 a 15%).
Reduzir perdas significa, portanto, atender mais usuários com a mesma quantidade de água retirada da natureza. Nosso maior manancial está em nossa ineficiência. Combatê-la é uma forma eficaz de responder às legitimas manifestações populares pela melhora na qualidade dos serviços públicos. Só é possível oferecer melhores serviços públicos a preços módicos se houver mais eficiência, isto é, se se produzir mais com menos. No setor de saneamento, reduzir perdas permite postergar investimentos em captação, bem como aumentar a receita das concessionárias, atenuando a necessidade de aumentos reais significativos das tarifas.
Se os atuais níveis de perda de água fossem reduzidos em 50% estima-se que as concessionárias de saneamento teriam ganho adicional de R$ 37 bilhões nos próximos 17 anos. Esse valor corresponde a quase quatro vezes o investimento médio anual em saneamento no país.
A agenda ambiental deve acolher a eficiência operacional como vetor para a qualidade dos serviços públicos
As perdas de água têm duas origens: as físicas e as comerciais. As perdas físicas são causadas por redes antigas, vazamentos e extravasamento em função de pressão irregular na rede de distribuição. Ligações ilegais e roubo de água também contribuem para o problema. As perdas comerciais derivam de hidrômetros desregulados, incapacidade de cobrança, cadastro de usuários incompleto, além de fraude de medidores.
Nos últimos anos o tema da água passou a integrar, ainda que timidamente, a pauta ambiental de governos e organizações não governamentais. Iniciativas como a pegada hídrica, que procura aferir quanto determinada atividade econômica consome de água, se multiplicaram. Governos têm promovido campanhas de conscientização do uso racional da água. A proteção de mananciais, por meio da desocupação de suas margens, despoluição e plantio de árvores constituem práticas recorrentes de entidades ambientalistas.
Pouca atenção, porém, tem sido dada à questão da eficiência operacional das concessionárias de água e seus altos níveis de perdas de água. Reduzi-las significa aumentar a capacidade de atender maior demanda com a mesma quantidade de água. Consequentemente há redução da necessidade de ampliar a captação de água e a pressão sobre os mananciais. Estudo do Instituto Trata Brasil indica que das 100 maiores cidades brasileiras 39% delas precisam ampliar seus sistemas de captação e tratamento de água e 33% precisam de um novo manancial. Ao reduzir perdas, os investimentos em ampliação de produção de água podem ser postergados, diminuindo o estresse hídrico e o custo de capital e liberando recursos para tantas outras prioridades de política pública.
Para tentar reverter esse quadro, a IFC lançará manual que servirá de ferramenta para gestores públicos e privados para estruturar novas formas de contratação de programas de redução de perdas de água. As diretrizes abordam as dimensões técnica, jurídica e econômico-financeira. O modelo proposto tem como base os contratos de performance e está pautado em três pilares: redução do custo de transação, financiamento privado e remuneração por resultado.
Diferentemente das contratações públicas tradicionais, onde os diversos serviços associados a um programa de redução de perdas de água são contratados por meio de diferentes licitações, o manual propõe uma contratação integrada. Esse modelo, além de reduzir custos de formatação de projetos, diminui riscos associados à descoordenação de ações interdependentes. Além disso, a remuneração do prestador de serviços é vinculada aos resultados obtidos com o programa. Na prática, as concessionárias de saneamento não são obrigadas a desembolsar qualquer recurso caso as metas estabelecidas não sejam atendidas. E o valor a ser desembolsado será gerado pelo próprio projeto. Cabe ao contratado obter os recursos financeiros necessários à realização do projeto. Esse mecanismo diminui a pressão financeira sobre as operadoras de saneamento, muitas delas com acesso limitado a crédito e dependentes de recursos dos governos estaduais. A IFC e outros órgãos multilaterais já dispõem de linhas de financiamento específicas para esse tipo de projeto.
A contratação integrada e por performance assegura ainda que o prestador de serviços traga para o projeto todo o seu know-how e conhecimento, pois deverá atingir metas e entregar resultados.
Diferentemente do que se pode pensar, o conhecimento sobre redução de perdas de água não é exclusivo do setor privado. Algumas empresas estatais de saneamento têm importantes programas de redução de perdas e já exportam tecnologia para outras empresas públicas. É o caso da parceria público-público entre Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo) e a Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas). A parceria reduziu em vinte pontos percentuais as perdas em determinadas regiões do município de Maceió. Isso significou, sem a necessidade de investimento em captação em novos mananciais, o fim do rodízio de água em alguns bairros e a disponibilidade de maior volume para abastecimento da orla, onde estão localizados os principais hotéis e restaurantes da cidade.
A sustentabilidade do uso dos recursos hídricos não se limita às ações de consumo racional da água - indispensáveis para reduzir o desperdício pela população. É fundamental que a agenda ambiental e social acolha a eficiência operacional e redução das perdas de água como vetor para a preservação do meio ambiente e qualidade dos serviços públicos.

Gesner Oliveira é economista, professor da EASP-FGV, sócio da GO Associados e ex-presidente do Cade e da Sabesp

Rogerio Pilotto é executivo sênior de investimentos para infraestrutura da IFC

Fernando S. Marcato é professor de pós-graduação de Direto da Infraestrutura da FGV e sócio da GO Associados

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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Analistas veem PIB menor devido a incerteza econõmica

GUSTAVO PORTO E RICARDO LEOPOLDO - Agencia Estado
SÃO PAULO - As incertezas econômicas e políticas do País, refletidas na queda dos índices de confiança de consumidores e empresários, devem resultar em um Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre menor do que o do segundo trimestre, se não nulo. Um grupo de especialistas consultado pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, reconhece que o nível de atividade no terceiro trimestre está apresentando sinais mais fracos do que o esperado, mas por enquanto descarta números negativos.
Também contribui para essa análise mais pessimista o alto nível da inflação, que reduz o impulso para o consumo, e o juro em alta, que inibe as iniciativas de investimento do setor privado. Nem a valorização do dólar traria alívio neste ano para as empresas exportadoras, dada a desvalorização das commodities e a demanda global fraca. Além disso, o legado das manifestações de junho foi o aumento da preocupação e da cautela tanto na ponta da demanda como na de oferta.
A professora da PUC-RJ Monica Baumgarten de Bolle pondera que as famílias e empresários perceberam que "não há liderança do governo sobre os rumos do País" e isso afetou de forma substancial o consumo e os investimentos no terceiro trimestre. Ela estima que o PIB deve apresentar um resultado nulo entre julho e setembro, depois de ter registrado, segundo sua projeção, uma expansão de 1% no segundo trimestre.
"Temos dois Brasis diferentes neste ano. No primeiro semestre, a atividade registrou uma certa expansão, enquanto no começo do segundo semestre ela está em queda", destacou. De acordo com a acadêmica, de janeiro a junho a economia deve ter apresentado um ritmo de expansão de 3,5%, em termos anualizados, enquanto a velocidade deve ficar bem menor (0,6%) no segundo semestre, na mesma forma de cálculo. Neste contexto, ela espera que o PIB deverá avançar 2% neste ano.
Para a professora da PUC-RJ, além da inflação alta e do elevado endividamento das famílias registrados na primeira metade do ano, as manifestações populares iniciadas em junho agregaram mais um elemento que está corroendo a confiança dos consumidores e diminuindo as perspectivas de investimentos no curto prazo. "Isso aconteceu por causa de fatores diretos e indiretos: os diretos porque muita gente deixou de fazer compras com medo das manifestações", destacou. O reflexo indireto, diz, estaria na cautela gerada na população pela percepção de que as condições sociais e econômicas do País pioraram.
"Um fator que chama a atenção é que a popularidade da presidente (Dilma Rousseff) caiu 30 pontos porcentuais no auge das manifestações, mas depois que elas passaram a melhora registrada foi muito baixa, de quase seis pontos porcentuais", ponderou Monica de Bolle. Segundo ela, esse fato sinaliza que muitos cidadãos estão reticentes com o governo e isso acaba tendo impactos mais prolongados sobre o consumo, com geração de estoques indesejados nas indústrias.
Lista negativa
Apesar de ainda prever um crescimento de 0,2% a 0,3% para o PIB do terceiro trimestre, o diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados, Fabio Silveira, também traça um cenário negativo para a economia brasileira da metade 2013 até o final do próximo ano. "A indústria cresce pouco e não vai ser beneficiada pela alta do dólar, a massa salarial perdeu o dinamismo e deve crescer 2,5%, o varejo vai crescer menos e o investimento industrial não tem evidências de um crescimento legítimo", disse.
Silveira lembra que o juro real elevado vai pesar no segundo semestre e irá colaborar para frear a atividade econômica. "Isso é que dá ter economia desequilibrada. No primeiro semestre foi a inflação e, no segundo semestre, o juro elevado. No meio do caminho, a desvalorização cambial."
Para o diretor da GO Associados, a indústria brasileira pouco vai se beneficiar da alta do dólar, porque os setores exportadores de alto e médio valores agregados, minoria na pauta, sofrem com uma demanda fraca por conta do baixo crescimento dos mercados externos. "Já as commodities, que poderiam ser beneficiadas, tiveram uma queda forte nos preços em dólar no exterior que não foi compensada pela alta da moeda aqui."
Diante do cenário negativo e dos juros reais altos, Silveira foi um dos primeiros economistas a prever, há um mês, que o governo pode reduzir a Selic no início de 2014 para tentar reaquecer a economia. "Mesmo assim, olhando todo esse tabuleiro, não é difícil imaginar que possamos revisar o crescimento do PIB do próximo ano de 3% para 2,5%."
Luz amarela
O economista e estrategista para o Brasil do banco Barclays, Guilherme Loureiro, se mostra menos pessimista e diz que os indicadores de junho, como a alta da produção industrial de 1,9% na margem, "afasta o risco de um resultado negativo" do PIB entre julho e setembro. Contudo, ele destaca que resultados do setor manufatureiro colhidos no mês passado "acenderam uma luz amarela."
Ele estima que a produção industrial no período deve ter caído 0,5% em julho ante junho. Neste contexto, ele acredita que o PIB desacelerou de uma alta de 0,8% entre abril e junho para 0,6% no terceiro trimestre. Ele ressalva, no entanto, a queda dos indicadores de confiança das empresas e dos consumidores pode levar a uma expansão ainda menor no terceiro período do ano.
"O ritmo do PIB perdeu força no final do segundo trimestre, o que trouxe mais dificuldades para o crescimento do País neste trimestre", destacou Loureiro, lembrando que a alta, ainda que contida, da taxa de desemprego, também cria incertezas sobre os rumos da economia. Esses fatores, diz, "não são favoráveis para que o segundo semestre apresente uma expansão maior do que a registrada na primeira metade do ano".
Loureiro avalia que a economia de julho a dezembro exibirá uma alta de 2,4% em termos anualizados, abaixo dos 2,8% que ele estima para a primeira metade deste ano. Para o ano completo, Loureiro estima crescimento de 2,3%. 

Sem potássio, campo importa 70% dos adubos que utiliza

Renê Gardim, De DCI (Diário Comércio, Indústria & Serviços)

A carência de potássio no solo brasileiro dificulta a perspectiva do Brasil de diminuir sua dependência de importações de fertilizantes, que hoje representam 70% de todo o consumo interno


Apesar de o setor ter anunciado no ano passado investimentos na ordem de US$ 18,9 bilhões, que podem reduzir essa proporção para 36,5% até 2017, as projeções são menos animadoras para o curto prazo.
Segundo estimativa feita pela consultoria GO Associados, até o fim do ano o setor de fertilizantes deverá produzir 9,9 milhões de toneladas, uma ligeira variação positiva de 2% com relação ao volume produzido no ano passado. Já as importações são estimadas em 20,4 milhões de toneladas, alta de 4%, ou o equivalente a 66,8% de todo o consumo projetado para o fim de 2013.
Segundo Fabio Silveira, diretor da consultoria, "o mercado está praticamente andando de lado. A posição está acompanhando a evolução modesta do mercado domestico". Não há muito fundamento para elevar sua produção de maneira importante".
Mas os números deste ano indicam um mercado mais aquecido. Desde janeiro até julho, foram entregues aos produtores agrícolas 15,1 milhões de toneladas de fertilizantes, aumento de 5,5% em relação a 2012. Já a produção nacional no mesmo período foi de 5,437 milhões de toneladas, crescimento de apenas 1,5%. A importação, por sua vez, ficou em 11,8 milhões de toneladas, num aumento 13,2%, de acordo com a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda). Dessa forma, as importações representaram 77,9% do total de fertilizantes consumidos pelo campo - acima da proporção do ano passado.
Em 2012, a Agricultura consumiu 29,5 milhões de toneladas de fertilizantes. Desse total, 9,7 milhões de toneladas foram produzidas aqui e 19,5 milhões de toneladas foram importadas.
Insumos importados
O País importa 93% do potássio, 51% dos fosfatados e 78% dos nitrogenados consumidos, segundo dados oficiais. E não por acaso: o cenário favorável desenhado pelas indústrias do setor esbarra na qualidade das jazidas exploradas, com baixo teor de nutrientes.
"Não possuímos potássio em volume suficiente para extração e ficamos dependentes da compra externa", lembra David Roquetti, presidente da entidade.
O economista Fabio Silveira afirma que, para contornar a deficiência de potássio, o País "teria que aumentar a produção de Petróleo e de nafta". "Mas o Brasil está tendo problemas para aumentar a produção de Petróleo e derivados", observou.
Os projetos em andamento, além de exigirem maturação de três a sete anos, requerem capital intensivo para funcionar. Alguns dos principais competidores do Brasil têm menor dependência da importação: os Estados Unidos compram 43% dos fertilizantes; a Índia, 36%; e a China, apenas 7% do consumo dos produtos destinados ao consumo final.
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) pode decidir, nos próximos dias, a restauração da Tarifa Externa Comum (TEC), suspensa em 2006, sobre várias matérias-primas, entre elas de fertilizantes. Os ministérios contrários à recomposição argumentam que, dependendo do período e do produto, paga-se no Brasil o triplo do preço no mercado internacional. Os industriais dizem que a "zeragem" da TEC fazia sentido apenas em um momento de baixa rentabilidade da produção Agrícola. A taxa de retorno, segundo o setor, é pouco atrativa.
Fábrica de amônia
A presidente Dilma Rousseff confirmou na segunda-feira (12) a escolha de Uberaba (MG) para a construção de uma fábrica de amônia da Petrobras.
A presidente disse que Uberaba "é um polo na produção de rocha fosfática" e pode "atender a demanda de Minas, Goiás, Mato Grosso, Tocantins e uma parte de São Paulo", que consomem cerca de 75% da amônia produzida.

Receita agrícola bruta poderá crescer para R$ 263,2 bilhões

Por Fernando Lopes | Valor
SÃO PAULO  -  A receita agrícola bruta das principais culturas do país deverá alcançar R$ 263,2 bilhões em 2013, conforme estimativa divulgada pela GO Associados. Se confirmado, o montante representará um aumento de 7,7% em relação ao cálculo da consultoria para a receita do ano passado.
A GO continua a estimar incremento no grupo formado pelos grãos e queda no que envolve as lavouras perenes. Puxados pela soja, os grãos tendem a atingir uma receita conjunta de R$ 142,4 bilhões, 17,2% mais que em 2012. Pressionadas pelo café, as lavouras perenes poderão cair para R$ 91,4 bilhões, 6,7% menos em igual comparação.
(Fernando Lopes | Valor)


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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Câmbio eleva defasagem no preço da gasolina

Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo
A desvalorização cambial dos últimos meses, aliada à manutenção dos preços do petróleo no mercado internacional, fez com que disparasse a defasagem, em reais e na média de julho, dos preços da gasolina e do diesel praticados no mercado interno, em comparação com aqueles adotados no exterior. Apesar de não ser novidade a Petrobras importar combustíveis e vender mais barato no mercado interno, há uma diferença no movimento atual, segundo analistas. Como a perspectiva para os próximos meses é de permanência de um cenário de menor lucratividade à estatal, há projeção de aumento em até 10% do preço do óleo diesel até o fim do ano.
Depois de a defasagem da gasolina atingir 9% na média de abril, no mês passado a distância entre preços internos e externos chegou a 23%, segundo levantamento da GO Associados. A última vez em que a diferença ficou acima dos 20%, em abril do ano passado, a distância entre preços voltou no mês seguinte ao patamar médio, que gravita em torno dos 10%. Contudo, no acumulado de fevereiro - quando houve o último reajuste da gasolina - a julho, a defasagem ficou em 13,5%, abaixo dos 21% registrados no mesmo período do ano anterior.
O diesel também foi afetado pelo dólar a R$ 2,25 na média de julho e a defasagem ficou em 10%. Em maio, o litro do combustível era vendido 4% acima do praticado no exterior, já que o barril do petróleo permaneceu estável ao redor de US$ 100 e a moeda norte-americana registrou média de R$ 2,04.
Para Fabio Silveira, economista da GO Associados, a defasagem da gasolina "atingiu nível crítico", na comparação com os preços praticados no Golfo do México. A média do litro na América do Norte é utilizada como referência para preços internacionais em função da importância da região e da proximidade com preços praticados em outras praças globais de venda e refino petróleo.
O aceno com a diminuição dos estímulos do governo norte-americano à economia do país é um dos fatores principais que compõem o cenário de manutenção ou desvalorização do real frente ao dólar até o fim do ano. "Não há nada que indique que o câmbio vai voltar a se valorizar. Já foi retirada a Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico] e aumentada a mistura de etanol na gasolina. A única forma de minimizar a diferença é o câmbio, que não vai ajudar neste ano", diz Silveira.
Quando a gasolina ou o diesel ficam mais caros lá fora em relação à venda da produção nacional, a principal perda para a Petrobras se dá no repasse às distribuidoras de combustíveis, que não pagam o total desembolsado pela estatal ao importar os produtos. De janeiro a maio deste ano - último mês com dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) - a importação de gasolina A, utilizada pelos automóveis brasileiros, aumentou 34% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a mais de 14 milhões de barris. A importação de petróleo e derivados de janeiro a julho chegou a US$ 21,3 bilhões, já descontados os US$ 4,5 bilhões de registros referentes a compras externas realizadas em 2012.
A gasolina não tinha relação favorável à Petrobras desde dezembro de 2010, quando a gasolina nacional era vendida por R$ 1,05, dois centavos acima do litro vendido no Golfo do México. O controle nos preços dos combustíveis serve mais para segurar a inflação do que para aumentar o lucro da estatal, segundo Luiz Caetano, economista da Planner Corretora. "O que existe hoje é uma defasagem exacerbada pelo câmbio. Não houve grande variação dos preços em dólar da gasolina, do diesel e do petróleo cru. O futuro vai depender basicamente da variação do dólar", afirma.
A desvalorização cambial ganhou força nos últimos dois meses, período em que a Petrobras registrou aumento da produção de petróleo, que havia caído desde o início do ano em função de paradas de plataformas para manutenção e da queda de rendimento de poços maduros. Atualmente, a estatal tem produção diária de cerca de 2,1 milhões de barris.
Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria, diz que o apetite do mercado interno e a produção no limite das refinarias instaladas, contudo, não devem tornar dispensável o aumento no preço de pelo menos um dos combustíveis. "Obviamente que quando se fala no crescimento da distância entre os preços há reflexos no caixa da Petrobras, que vai precisar calibrar essa diferença", diz.
Como um aumento da gasolina "teria um custo político muito alto", em função da inflação perto do teto da meta e da impopularidade da medida, a consultoria estima majoração entre 5% e 10% do diesel até o fim do ano. "Apesar de chegar a todo mundo, não é um aumento de custo direto, pois ele vai ser embutido no preço do frete das mercadorias", diz Vitto.


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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Produção industrial crescerá 1,5% no ano, diz GO Associados

Francisco Carlos de Assis

São Paulo - A despeito do razoável desempenho ao longo de junho, com expansão de 1,9% na série com ajuste sazonal sobre maio, a produção industrial deverá encerrar o ano em curso com um crescimento de 1,5% em relação à queda de 2,5% no fechamento do ano passado.
A previsão é da equipe de especialistas da GO Associados, comandada pelo analista Fábio Silveira. De acordo com a consultoria, a expectativa em relação à atividade fabril em 2013 se forma no âmbito de um cenário de menor dinamismo da economia chinesa.
Sobre a variação da atividade fabril em junho - expansão de 1,9% na leitura com ajuste sazonal -, a equipe da GO Associados a relaciona à evolução favorável do varejo em decorrência da expansão da massa real de rendimento e do crédito e do melhor desempenho das exportações em virtude da desvalorização do real no segundo trimestre.
As vendas do varejo, segundo o IBGE - os dados disponíveis são de maio - ficaram estáveis, mas cresceram 4,5% na comparação com maio do ano passado. As exportações em junho somaram US$ 21,227 bilhões para um total de US$ 18,833 bilhões em importações.
A massa de renda real habitual dos trabalhadores em junho manteve-se estável na comparação com maio, mas cresceu 1,5% em comparação com junho do ano passado e o dólar em junho fechou com alta de 3,91% na passagem de maio para junho, acumulando 9,10% de alta no semestre.