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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Crise na Petrobras piora o cenário para a economia

Publicação: 16/12/2014 09:13 


A crise na Petrobras pode prejudicar dois pontos-chave da economia brasileira: os investimentos e o setor externo. A piora provocada pela estatal na economia vai se somar ao cenário já ruim para o ano que vem: a economia brasileira deverá crescer pouco - menos de 1% -, e a inflação continuará pressionada, próxima ao teto da meta. O envolvimento da Petrobras e grandes construtoras num esquema de corrupção é investigada na Operação Lava Jato. Nas últimas semanas, o agravamento das denúncias tem produzido impactos no andamento dos projetos da companhia.

A Petrobras detém uma grande fatia dos investimentos programados para a economia brasileira no ano que vem. A estatal planeja investir cerca de R$ 100 bilhões - a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) deverá ficar entre R$ 800 bilhões e R$ 900 bilhões, segundo estimativa da Tendências Consultoria Integrada. “É difícil mensurar quanto desse investimento pode ser realmente afetado, quanto vai deixar sair do papel, mas deve haver algum impacto”, afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.

O estrago da Petrobras nos investimentos pode ser ainda pior quando se leva em conta o efeito multiplicador. Para cada real gasto, R$ 1,9 é gerado na economia como um todo. “Se estamos falando (de um peso da Petrobras) de 10%, com o efeito multiplicador, chega ao redor de 20%”, diz a economista. A melhora do investimento se tornou fundamental para o avanço da economia brasileira. Por muitos anos, o consumo das famílias funcionou como o motor do PIB brasileiro, o que não ocorre mais. Dessa forma, era esperado que o investimento suprisse essa lacuna.

Por ora, há um desânimo com o crescimento previsto para a economia do País em 2015. A expectativa do relatório Focus, feito pelo Banco Central, estima um crescimento de 0,69%. Para o economista-chefe do banco de investimentos BTG Pactual, Eduardo Loyo, a crise da Petrobras adiciona incerteza na economia, num momento em que se esperava uma melhora. O fim do processo eleitoral e a credibilidade do ajuste na política econômica a ser liderado pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, eram dois fatores que poderiam trazer confiança. “Há uma quantidade de ruídos e fricções no cenário tanto político quanto empresarial associado a esse caso da Petrobras. Esse cenário de ruídos e fricções pode acabar tendo sobre o desempenho da atividade, em particular sobre o apetite dos investimentos, efeito semelhante ao que houve ao longo de 2014”, diz.

A possível lentidão dos investimentos da Petrobras também deve tornar difícil a recuperação consistente do comércio internacional, no médio e longo prazo. Neste ano, o Brasil deverá ter um déficit comercial de petróleo e derivados de cerca de US$ 21,5 bilhões, segundo projeções da consultoria GO Associados. Na balança comercial como um todo, o cenário é desalentador. Entre janeiro e novembro, o déficit acumulado é de US$ 4,22 bilhões - o pior resultado para o período desde 1998.

“A empresa poderia reduzir o déficit comercial como forma de compensar o ciclo de baixa de commodities que o mundo vive hoje e que não vai ser equacionado no curto prazo”, diz Fabio Silveira, diretor de pesquisas da GO Associados.

Câmbio ajuda exportador, mas eleva inflação

17/12/2014 09:00
São Paulo - A disparada do dólar em relação ao real, que fechou ontem cotado a R$ 2,74, o maior valor em mais de nove anos, mais que compensa a queda no mercado internacional dos preços em dólar dos bens exportados pelo País, a maior parte matérias-primas.
Isso melhora as expectativas para exportações a médio prazo, mas aumenta a pressão sobre a inflação em 2015.
Entre dezembro de 2013 até a terça-feira, 16, a moeda americana se valorizou 11,3%, descontada a inflação, nos cálculos do economista Bruno Lavieri, da consultoria Tendências. De dezembro do ano passado até outubro deste ano, os preços dos produtos exportados em dólar caíram 7%.
Segundo as projeções do economista, até o fim do ano essas cotações terão recuado 8,4%. "É uma diferença favorável ao dólar de quase 3 pontos porcentuais", diz Lavieri.
Segundo ele, esse diferencial melhora as expectativas para as exportações, mas não terá efeito nas vendas externas de imediato por dois motivos.
Primeiro, porque as exportações foram contratadas num período anterior à alta do câmbio. O segundo é que os exportadores normalmente fazem seguro (hedge) para se protegerem das oscilações do dólar.
O diretor de pesquisas da GO Associados, Fabio Silveira, endossa a avaliação de Lavieri. "Na margem, o avanço do câmbio compensa a queda dos preços das commodities em dólar, excluindo a retração do petróleo nos últimos 30 dias."
Ele ressalta que, em reais, nenhuma commodity agrícola teve queda importante nos últimos 30 dias, o que aumenta as preocupações sobre a inflação.
Soja
Quem está comemorando são os produtores de soja, pois conseguiram recuperar parcialmente a perda provocada pela queda de preços em dólar. "Foi uma boa surpresa", diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Ricardo Tomczyk.
Ele conta que os 8,86 milhões de hectares do Estado destinados à soja já foram plantados e não há possibilidade de ampliar a área. No entanto, o avanço do câmbio surtiu efeito nos custos e na venda antecipada do grão.
Até meados de setembro, a venda antecipada de soja correspondia a 11%, fatia bem inferior à do mesmo período do ano passado (40%). Hoje, com a alta do dólar, esse porcentual já oscila entre 45% e 48%, o mesmo nível de dezembro do ano passado.
Além de acelerar a venda antecipada de soja, a valorização do dólar ante o real melhorou os preços em reais do grão. A cotação média da saca de 60 quilos em Mato Grosso está agora em R$ 50, ante os R$ 40 em setembro.
"Com esse câmbio recuperamos parte da competitividade, mas não tudo pois também temos custos em dólar."
Eletrônicos
Enquanto os produtores de soja comemoram a alta do dólar, os fabricantes de eletrônicos, especialmente de TVs, que importam 80% dos componentes usados nos aparelhos, estão preocupados.
"Todas as empresas estão preocupadas especialmente com os pedidos de componentes para março, já que os itens importados para uso nos dois próximos meses estão comprados", diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne a indústria de eletrônicos.
O diretor de uma fabricante de TV que prefere o anonimato diz que a saída é adiar encomendas de componentes importados na expectativa de que o câmbio recue.
De toda forma, ele diz que pelos aumentos de custos neste ano até agora, incluindo o câmbio, será necessário elevar em 15% o preço das TVs em 2015. Difícil é saber se vai emplacar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

GO Associados: desafio de equipe econômica será 'árduo'


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O diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fábio Silveira, considerou "árduo" o desafio dos três indicados para comandar a área econômica do governo a partir de 2015 - Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central) - e a expectativa, segundo o economista, é de que a equipe busque em primeiro lugar o resgate da credibilidade fiscal. O tema, aliás, abriu o discurso de Levy, ao ser apresentado, esta semana, como o futuro ministro da Fazenda, quando ele propôs metas de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2015 e de no mínimo 2% para 2016 e 2017.

"O resgate da credibilidade fiscal é o primeiro indicador que os investidores olham. Isso passa por reduzir ao máximo as despesas e aumentar tributação onde puder para gerar o desejado superávit primário, que hoje está um desastre", disse Silveira. Ao ser indagado por uma jornalista se aumentaria tributos e cortaria benefícios, Levy afirmou apenas que as medidas necessárias para equilibrar as contas públicas serão tomadas e reafirmou a responsabilidade de cumprir a meta do superávit. "O ministro terá de mexer em focos que são sabidamente problemáticos, como seguro-desemprego, pensões e aposentadorias", afirmou Silveira.
O diretor de pesquisa econômica da GO Associados lembrou que a volta da credibilidade fiscal é importante para que "o mercado internacional não piore a visão do Brasil, que, ao contrário do muitos falam, não é ruim, pois o Brasil ainda tem uma injeção de recursos externos e risco país baixo", disse.
Ainda segundo Silveira, a segunda meta dos próximos comandantes da economia será reduzir os quase 5% do PIB de déficit de transações correntes, o que passa principalmente pelo incentivo à competitividade da indústria por meio do aumento da produtividade do setor, como destacou o futuro ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. "É preciso melhorar a competitividade com redução de carga tributária e até com uma redução de juros, pois o custo de capital de giro é gás venenoso com destruição progressiva para as empresas que precisam disso a todo segundo", disse Silveira.
O economista destacou ainda um maior controle da inflação, o qual não envolve apenas juros. No entanto Tombini no discurso desta semana sinalizou que o controle da inflação seguirá por meio do aumento da Selic. "Eles vão tomar um susto no final do ano e vão ter de passar o Natal e o revéillon em Brasília por conta da pressão inflacionária", disse Silveira.

GO Associados: IBC-Br mostra economia tendendo a crescimento zero em 2014


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O diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira, afirmou nesta segunda-feira, 15, que a queda de 0,26% no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em outubro ante setembro, com ajuste sazonal, "mostra que seguimos rumo ao crescimento nulo da economia em 2014". Segundo ele, a projeção de crescimento de 0% no Produto Interno Bruto (PIB) da consultoria para este ano segue mantida e foi reforçada pelo desempenho negativo do IBC-Br de outubro.
Para Silveira, a economia brasileira deve seguir estagnada durante o primeiro semestre de 2015, até uma melhora no segundo semestre puxada principalmente pela recuperação nas exportações. "As coisas vão ficar estagnadas por um bom tempo, com uma série de obstáculos para o mercado doméstico, como o juro elevado, a perda de dinamismo no varejo e as exportações ainda sem reação, mesmo com a melhora do câmbio", disse.
Com o dólar em torno de R$ 2,80, as exportações na segunda metade de 2015 devem melhorar, segundo Silveira, principalmente pelo dinamismo de setores de maior valor agregado da indústria, como o da siderurgia. "Já o agronegócio, apesar da melhora cambial, deve seguir 'de lado', por causa da queda de preços das commodities", concluiu.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Inflação dá um salto e aluguel vai a 0,98% em novembro

Publicação: 2014-11-28 00:00:00 | Comentários: 0
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São Paulo (AE) - Puxada pelos preços de três matérias-primas no atacado - soja, milho e bovinos-, a inflação medida pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), deu um salto este mês e acendeu um sinal de alerta sobre as pressões maiores que devem ocorrer no custo de vida do consumidor neste ano e no próximo, especialmente por causa dos preços dos alimentos. Em novembro, o IGP-M subiu 0,98%, com alta de 0,70 ponto porcentual na comparação com outubro, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 12 meses, a inflação que estava perdendo o fôlego por seis meses seguidos voltou se acelerar em novembro e acumulou alta de 3,66%. Só soja, milho e bovinos responderam por quase a metade do resultado de IGP-M de novembro. No atacado, a soja subiu 6,05% este mês, seguida por bovinos (5,86%) e pelo milho em grão (10,92%).
Houve um choque agrícola em outubro, provocado principalmente pela seca, com reflexos nos preços dessas commodities em novembro”, afirma Salomão Quadros, superintendente adjunto de preços da FGV. Ele pondera que o choque agrícola atual não foi tão forte quanto o que houve no início do ano. Em março, O IGP-M subiu 1,67% por causa dos alimentos. Mas ele ressalta que a escalada de preços dessas commodities deve ter impactos na inflação ao consumidor em dezembro e no ano que vem.

Adriana Molinari, economista da consultoria Tendências, prevê que o grupo alimentação no IPCA, o índice oficial de inflação, tenha uma trajetória ascendente. Para este mês, projeta 0,73%; para dezembro, 0,78%, e 0,90% para janeiro de 2015. 

Nesta semana o Boletim Focus do Banco Central apontou que o mercado elevou de 6,40% na semana anterior para 6,43% a inflação ao consumidor medida pelo IPCA para este ano, Para 2015, a expectativa foi ampliada de 6,40% para 6,45%.

“Foi apressada a leitura feita a partir do IPCA-15 de novembro, que subiu 0,38%, de que a inflação estava perdendo força”, observa Quadros. Em outubro, o índice tinha subido 0,48%. Na sua avaliação, a alimentação em 2015 não vai ajudar a inflação. “Não haverá novas rodadas de queda de preços das commodities”, prevê. Entre maio e agosto, o IGP-M teve deflação por causa do recuo dos preços das matérias-primas. 

Quadros observa que, além do fato de as commodities agrícolas deixarem de contribuir para segurar a inflação, em 2015 haverá pressão exercida pelos preços administrados, que vão ser reajustados. Também a perspectiva da volta do imposto sobre combustíveis deve pressionar a inflação. 

Essa também é a avaliação do diretor de pesquisas da consultoria GO Associados, Fabio Silveira. “Diante do resultado do IGP-M, a inflação de 2015 começa muito pressionada.” Além do efeito das cotações das commodities que, segundo ele, que foram pressionadas mais pela alta do câmbio do que pela seca, o fato de o IGP-M ter se acelerado piora o quadro para o ano que vem. É que o IGP-M é usado para reajustar outros preços, como os aluguéis. “Há também a inflação gregoriana, que é o reajuste que ocorre na virada do ano.”

Sem queda de 1,9% na agropecuária, PIB teria crescido 0,7% no terceiro trimestre



RIO - O tombo de 1,9% na Agropecuária no terceiro trimestre frente ao trimestre anterior surpreendeu analistas e roubou crescimento do PIB. Pelos cálculos do economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, o PIB teria crescido 0,7% e não 0,1%, não fosse o desempenho do setor que sofreu efeitos da estiagem sobre safras importantes como cana de açúcar e café. A expectativa da consultoria é que setor permanecesse estável no período.

— Apesar de pesar pouco no PIB, a agropecuária tem variado muito, com uma volatilidade comparável ao das passagens aéreas no IPCA — afirma Borges.

O desempenho da agropecuária fez com que a LCA revisasse para baixo o crescimento esperado para o PIB neste ano de 0,4% para 0,2% e também o do ano que vem, de 1,1% para 1%.

CAFÉ E CANA PESAM NO PIB AGRÍCOLA

O resultado na comparação com o segundo trimestre surpreendeu a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que previa queda de, no máximo, 0,6%.

— Pesou bastante a estimativa de queda de produção do café e da cana, que são bastante representativos dentro do escopo da agropecuário. Capitalizaram o resultado negativo — afirma Renato Colchon, economista da CNA

Para analistas do setor, a agricultura colheu, no terceiro trimestre, as consequências da seca que começou a atingir o país no fim do ano passado. A principal lavoura afetada foi a do café. Segundo estimativa do IBGE, a produção de café deve recuar 6,6%. De acordo com os especialistas, a colheita, que normalmente ocorre no inverno, foi prejudicada porque o período de floração, entre dezembro e fevereiro, foi de seca.

O IBGE destaca também a queda da produção de cana, terceira lavoura mais importante da agricultura brasileira. De acordo com os dados do instituto, a expectativa é de recuo de 5,9%. No caso da cana, além da seca, o setor enfrenta dificuldades por causa da falta de rentabilidade do etanol, que competa com a gasolina, cujo preço é controlado pelo governo.

— A cana foi afetada por dois fatores. Além do clima, essa cultura está sendo prejudicada pelo enfraquecimento do etanol. Você tem um problema de rentabilidade que se estende há muito tempo, que é um fator de inibição da atividade — explica Fábio Silveira, economista da consultoria Go Associados.

Para ele, o desempenho do café não deve se recuperar no ano que vem. Isso porque o produto é uma cultura que os especialistas chamam de bianual: um ano positiva, outro negativa. A expectativa era que esse ano fosse o bom, mas a seca da primavera do ano passado quebrou esse ciclo. Agora, espera-se que mais um ano fraco para a plantação.

— O café não tem como expandir rapidamente a sua oferta porque teve problemas e estiagem forte. Até recuperar leva um tempo. Não se planta e colhe café como se planta e colhe soja. Não há expectativa de recuperação de produção para 2015 — diz Silveira.

Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que a queda no preço das commodities influenciou o resultado. Para ele, é muito muito cedo para estimar o desempenho do setor no ano que vem:

— Tem vários fatores que devem interferir, como o clima. A expectativa da Conab é de aumento da safra, mas é muito cedo.




Agronegócio pode ter fatia menor do PIB em 2015

Safra de soja é vista em área na cidade de Tangara da Serra, em Cuiabá
Soja: Aumento da oferta de commodities no mercado mundial, puxada pela supersafra norte-americana, pode prejudicar o setor
Gustavo Porto, do Estadão Conteúdo
Ribeirão Preto – O cenário de incerteza do agronegócio – com a safra brasileira de grãos ainda sendo plantada e preços das commodities em queda – pode levar o setor a perder, em 2015, um de seus vários rótulos: o de sustentador do Produto Interno Bruto (PIB).
No entanto, especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, ainda divergem sobre o tamanho do impacto da cadeia agropecuária no PIB brasileiro no próximo ano.
A avaliação é de que a provável perda de renda do setor possa ser superada pela safra também recorde do País, o aumento da demanda global por alimentos, com destaque à proteína animal, bem como uma correção cambial, o que favoreceria as exportações em 2015.
Esses fatores freariam, ao menos em parte, o viés negativo que a maior oferta das principais commodities pode trazer, principalmente após a supersafra norte-americana. Além disso, o agronegócio deve seguir líder em competitividade e produtividade em relação aos outros setores da economia brasileira.
"A renda (do produtor) cairá, mas o PIB do agronegócio não necessariamente recuará, porque a variação de quantidade (produzida) será maior em 2015 e isso influencia muito. E o agronegócio ainda continua sendo muito bom (em termos de competitividade) comparativamente com o resto", disse Amaryllis Romano, sócia da Tendências Consultoria.
Para a economista, o clima pode trazer o impacto negativo, mas o câmbio, com a alta do dólar, deve ampliar a já elevada competitividade do País.
O coordenador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, segue a mesma linha de Amaryllis e avalia que o PIB do agronegócio deverá contribuir positivamente para o crescimento da economia do País em 2015, na esteira de um crescimento menor dos demais setores econômicos.
"Não se vislumbra uma recuperação significativa da indústria. Por um lado, a produtividade vai mal e, por outro, o consumidor está endividado; e, finalmente, o governo não dispõe de recursos para incentivar sua demanda", exemplificou.
Levantamento do Cepea/Esalq e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgado em outubro apontou que o PIB do agronegócio acumulou alta de 1,9% nos primeiros sete meses de 2014, enquanto o PIB brasileiro está próximo a zero.
A alta acumulada foi puxada pela produção agropecuária, com aumento de 4,23%, pelos insumos, com 1,78%, e pela distribuição, com crescimento de 1,56% entre janeiro e julho de 2014. O aumento só não foi maior por conta justamente da agroindústria, que recuou 0,02% no período.
Sem fatores "relevantes estimulando o agronegócio", Barros supõe que, por conta do aumento da produtividade, o setor "siga crescendo a uma taxa anual média de 3,5% ao ano, que é o valor esperado para 2015". Já a agropecuária, considerada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na apuração do PIB, deve avançar 4%, desde que ponderadas as incertezas climáticas, na avaliação do coordenador do Cepea.
Menos otimista, o diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fábio Silveira, espera um crescimento modesto para o PIB da agropecuária em 2015, com um impacto pequeno, mas positivo no PIB oficial do País.
Na mesma linha, o PIB do agronegócio, que considera os setores "fora da porteira" – insumos, distribuição e agroindústria – "não deve ter desempenho equivalente em 2015", segundo Silveira, mas também contribuirá positivamente em uma economia que deve crescer apenas 1,3% no próximo ano, na avaliação da GO Associados.
De acordo com Silveira, a desvalorização cambial deve repor a perda de renda com os preços menores de grãos e ainda ajudar a indústria a recuperar um papel mais proativo no PIB brasileiro no próximo ano. "O agronegócio vai perder muito do charme em 2015. A indústria pode resgatar a força, por conta da desvalorização cambial, e empurrar produtos para mercados que mostram dinamismo, como o norte-americano e alguns da América do Sul, como Colômbia, Peru e, talvez, Argentina", comparou.
Após um levantamento do Programa de Pesquisas em Agronegócios da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (AgroFEA), da USP, apontar que o índice de confiança do produtor agrícola bateu o recorde negativo em outubro, o coordenador do programa, Roberto Fava Scare, é totalmente pessimista quanto ao crescimento do setor em 2015.
Ele minimiza os efeitos do dólar no setor e lembra que a alta recente na moeda norte-americana impactou o custo das lavouras, pois ocorreu na época da compra dos insumos. "Se essa mudança de patamar do dólar, de R$ 2,20 para R$ 2,50, persistir até a comercialização da safra, ainda será muito pouco", diz. Ele destaca que o recuo dos preços das commodities foi maior. Scare cita ainda as desacelerações previstas para o mercado chinês, principal destino do grão brasileiro, e também para o mercado interno. "O que pode segurar um pouco é o mercado de proteína animal, cuja produção tende a crescer. Essa contribuição do agronegócio para sustentar a economia brasileira nos últimos 10 anos não será igual em 2015", concluiu.
Fonte: Exame
Paulo Whitaker/Reuters