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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Balança comercial do setor apresenta déficits crescentes (Petróleo)

25.8.2014
Por Roberto Rockmann | De São Paulo
O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto costuma dizer que o cenário macroeconômico do Brasil ao longo das últimas décadas tem enfrentado dois obstáculos recorrentes: déficits vultosos em transações correntes e escassez de energia. Explorar a camada pré-sal poderá mudar isso, já que o país poderá contar com um excedente de exportação superior a 1,5 milhão de barris por dia a partir da próxima década.
Transformar o futuro em realidade não será tarefa fácil. O principal obstáculo é a política de preços dos derivados de petróleo. O controle sobre os preços dos combustíveis, em especial gasolina e diesel, desde 2008 somou-se à política de incentivo à aquisição de veículos, com redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI). De um lado, se aumentou a frota. De outro, a gasolina teve seu preço subsidiado, o que reduziu a competitividade do setor sucroalcooleiro, que pisou no freio.
Entre 2010 e início de 2014, as importações do derivado da gasolina cresceram 490%, segundo estimativas de Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "Hoje 12% da gasolina nacional é importada e 17% do diesel vem de fora e, a se manter essa política, esses números irão aumentar e a participação do etanol cairá ainda mais", observa.
O controle de preços tem impacto direto sobre o caixa da Petrobras. Segundo estimativa de Pires, cerca de 60% do caixa da empresa está diretamente relacionado às vendas de gasolina e diesel.
Sem liberdade para acompanhar os preços internacionais, a estatal enfrenta um cenário que combina investimentos crescentes no pré-sal e alta do endividamento. No balanço do segundo trimestre, a Petrobras atingiu uma relação de dívida líquida e Ebitda de 3,9 vezes e uma relação entre dívida e de capitalização de 40%, acima dos 35% estipulados pelo conselho da petroleira. Para driblar os percalços, a estatal tem trabalhado em aumento da eficiência e venda de algumas operações consideradas não estratégicas.
O governo federal já acenou que poderá reajustar os preços dos derivados para reduzir a defasagem dos preços dos combustíveis no Brasil em relação ao exterior. Seria a primeira vez que isso seria feito em um ano eleitoral desde 2001, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. "A expectativa é de que possa ser feito em duas etapas, com parcelas de 5% cada", diz o economista Fabio Silveira, da GO Associados.
Para ele, a recuperação da capacidade de investimento da estatal está ligada à resolução da política de preços. "Uma decisão a favor de reajuste leva meses para ser sentida na melhoria da margem e capacidade de investimento da empresa, que tem sido corroída ao longo dos últimos anos", aponta.
O setor tem apresentado déficit na balança comercial. Desde a década de 1980 não se assistiu à construção de nenhuma nova refinaria, tendência apenas revertida na metade da década passada, com o sinal verde dado à construção da Refinaria Abreu Lima (PE) e aos projetos de outras três refinarias. Em 2012, a balança setorial ficou negativa em US$ 13,7 bilhões, segundo dados da GO Associados. Um ano depois, o número piorou: US$ 27,9 bilhões. Para este ano, prevê-se déficit de US$ 22,5 bilhões.
Fonte Internet: Valor Econômico, 25/08/14

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Anfavea crê em vendas melhores no 2º semestre

Cleide Silva - O Estado de São Paulo 
24 Agosto 2014 | 23h 01

Entidade diz que estímulo ao crédito, anunciado pelo governo, melhora o cenário, mas consultores não veem recuperação


O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, ainda aposta numa melhora das vendas de veículos no segundo semestre, principalmente após as medidas de apoio ao crédito anunciadas pelo governo na quarta-feira.
A recuperação, contudo, não será suficiente para reverter as perdas da produção na primeira metade do ano. Apenas deve minimizá-las para uma retração de 10%, o que significará voltar à produção de quatro anos atrás, quando 3,3 milhões de veículos deixaram as linhas de montagem. No ano passado foram 3,7 milhões.
“Essa melhora no segundo semestre aponta que teremos em 2015 uma performance muito melhor do que em 2014”, diz Moan. O executivo ressalta a importância do setor ao comentar a extensão da cadeia automotiva como um todo. “Demonstra o papel fundamental que o setor tem para o desenvolvimento da indústria brasileira.”
Moan cita ainda que, no ano passado, a cadeia automotiva foi responsável pela arrecadação de R$ 180 bilhões em impostos, o equivalente a 12% de todo o que foi pago em impostos no País.
Sem sinais. O diretor de pesquisa da consultoria GO Associados, Fabio Silveira, está menos otimista que Moan. “Não vejo, por enquanto, sinais mais fortes de que haverá uma retomada neste ano”, diz. Ele projeta queda de 12% na produção de automóveis, o que significará “um baque” para o setor, com reflexo direto nos resultados financeiros.
“É difícil hoje uma montadora ganhar dinheiro no Brasil”, admite o presidente da Volkswagen, Thomas Schmall.
Silveira ressalta que houve um processo de contração acentuada da rentabilidade operacional das empresas, esmagadas pelo custo de financiamento do capital de giro. “A queda na rentabilidade e na produtividade levou os empresários a terem mais cautela em relação ao futuro e muitos deixaram de fazer investimentos”, afirma o economista.
Paulo Butori, presidente do Sindipeças, confirma que o setor não está investindo o necessário em modernização. Há alguns anos, estatísticas indicavam que, para cada R$ 1 investido pela montadora, as autopeças investiam R$ 1,70. “Essa conta está longe de ocorrer”, diz o executivo.
As montadoras, por sua vez, não alteraram seus planos de investimento e falam em aplicar R$ 75,8 bilhões no período 2012-2018. Com novas fábricas e ampliação das atuais, o País terá um excesso ainda maior de capacidade instalada – que hoje já está em mais de 1 milhão de unidades, pois as fábricas estão preparadas para produzir 4,5 milhões de veículos ao ano.
Com tantos fabricantes (já são 21 atualmente e mais oito estão se instalando no País), “vislumbro um monte de gente se acotovelando”, diz Butori. “Será um jogo sem rentabilidade, com todo mundo tentando se manter, pois a oferta será imensa para uma demanda retraída.” / C.S.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Petrobras tem menor defasagem no preço de combustíveis no exterior desde 2013

  • 21/08/2014, 19:47
  • REUTERS
A defasagem do preço da gasolina e do diesel vendidos pela Petrobras no Brasil deve atingir, neste mês, seu menor patamar desde o ano passado, pelo menos, na comparação com os valores internacionais, seguindo uma queda nos preços do petróleo nos mercados globais. As cotações do petróleo Brent, negociado na Europa, e as do WTI, nos Estados Unidos, tiveram queda de cerca de 10 dólares o barril desde junho, atingido mínimas de vários meses, o que pressiona os preços dos combustíveis no exterior, que não são controlados como ocorre no Brasil.

A situação deve trazer um alívio para a Petrobras, que tem amargado prejuízos na área de Abastecimento, segundo dados de um estudo da GO Associados divulgados nesta quinta-feira e de acordo com avaliação de especialistas. A defasagem do preço da gasolina, ante o valor registrado na refinaria nos EUA, deve ficar em 11% em agosto, abaixo da defasagem de 13% em julho e dos 18% de junho, segundo cálculos da GO.
Esse percentual para a gasolina é o menor registrado pela consultoria desde novembro do ano passado, quando houve o último reajuste do combustível no Brasil, de 4% nas refinarias. Já a diferença do preço do diesel, o combustível mais vendido pela Petrobras, deverá ficar em 4%, de acordo com a GO, o menor nível desde os registros divulgados pela consultoria, que vão até agosto de 2013.

Em agosto do ano passado, a defasagem do diesel ante a cotação externa era de 22%. O diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira, comentou que, a despeito dos muitos problemas geopolíticos globais, o preço do barril de petróleo está cedendo devido às mudanças no cenário financeiro.

Ele destacou que os EUA estão sinalizando um aumento dos juros a partir do próximo ano e que outros países como Inglaterra e Japão, e até mesmo a União Europeia, podem fazer o mesmo. "O petróleo é o maior mercado futuro. Se o juro sobe, o preço cai", afirmou Silveira.
Silveira explicou que a queda do preço do barril de petróleo só não é mais acentuada porque os conflitos geopolíticos em locais como Iraque e Líbia carregam certo temor de interrupções de abastecimento.

Positivo para Petrobras
O cenário é positivo para os resultados da Petrobras no terceiro trimestre, segundo a avaliação do analista da Coinvalores Corretora, Bruno Piagentini. A empresa amargou um aumento de 55% no prejuízo na Área de Abastecimento no segundo trimestre, de R$ 3,9 bilhões, devido à política do controle de preços dos combustíveis que mantém a defasagem nos valores de venda da Petrobras ante o mercado externo.
Entretanto, Piagentini ponderou que as perdas da estatal com as importações permanecerão acentuadas. Isso porque, além dos preços permanecerem defasados, a Petrobras permanece exposta à volatilidade do preço do barril do petróleo. "Ainda que exista possível maior folga no terceiro trimestre, o risco continua para o quarto trimestre e ele só vai ser amenizado de forma consistente quando a companhia tiver produção de derivados que faça frente a demanda", disse Piagentini.

O analista da Coinvalores disse ainda que a variável câmbio pode se mostrar desfavorável para a Petrobras. Ele lembrou que hoje o Banco Central está atuando de forma a segurar a desvalorização do real. "Mas existe uma expectativa de que essa atuação (do BC) perca força ao longo do segundo semestre e que esse câmbio volte a ficar em torno de R$ 2,40", afirmou Piagentini.

Um dólar mais forte frente ao real encarece as importações. O analista destacou que a queda do preço do barril do petróleo está associada ao aumento da produção de países como Líbia e Arábia Saudita.

Piagentini ressaltou ainda que o mercado aguarda um reajuste dos preços de combustíveis ainda para este ano e não acredita que uma melhora da defasagem possa impedir um reajuste, já que o preço do barril é muito volátil. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse no início do mês à Reuters que em todos os anos houve correção nos preços da gasolina, e que o comportamento do governo é continuar com reajustes normais.
Procurada, a Petrobras não comentou o assunto imediatamente.

Tamanho do ajuste de preços contralados em 2015 divide analistas

Fonte: Valor Econômico   
Seg, 18 de Agosto de 2014
O avanço da discussão sobre o tamanho do reajuste necessário para realinhar os preços públicos - que tem aparecido com força no debate econômico-eleitoral - esbarra na dificuldade dos analistas econômicos em calcular a inflação represada em energia elétrica, gasolina e ônibus urbano. Juntos, esses três preços representam 9 pontos percentuais do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Em energia, a sucessão de repasses do Tesouro, empréstimos, renovação de contratos e maior uso da energia térmica praticamente impede a conta do reajuste represado. Na gasolina, os cálculos de defasagem do preço doméstico em relação ao preço internacional apontam uma diferença entre 11% e 18%. Já no ônibus urbano, a principal referência sempre foi a inflação passada, pois poucas prefeituras mantém planilhas detalhadas de custos desse serviço. Pelo critério "histórico" e considerando que os preços estavam equilibrados no ano passado, antes dos protestos, e foram beneficiados por redução de impostos, as tarifas acumulam entre um e dois anos de inflação não repassada, já que algumas capitais aumentaram os preços este ano e outras não.
A Tendências Consultoria projeta alta de 17% para energia elétrica, 10% para gasolina ao consumidor (significa 15% na refinaria) e 8,8% na média de ônibus urbano para 2015. O impacto desses preços seria de 0,46 ponto em energia, 0,38 ponto na gasolina e 0,22 ponto em ônibus urbano. Assim, os três, sozinhos, responderiam por uma inflação de quase 1,1% no próximo ano. Os percentuais projetados, explica Adriana Molinari, economista que acompanha inflação na Tendências, não tomaram como princípio o fim das defasagens. Eles representam uma projeção do que deve acontecer. "A conta de energia é complexa, mas esse percentual, com certeza, não zera o passivo", diz Adriana.
A Rosenberg Associados estima 20% para o aumento de energia para 2015,10% para a gasolina (que se seguiria a 5% ainda neste ano) e 10% em ônibus urbano. No conjunto dos administrados, a alta seria de 8,5%, com impacto de 1,9 ponto percentual, informa o economista Leonardo França Costa.
Newton Rosa, economista-chefe da Sulamérica Investimentos, estima alta de 7% nos administrados e IPCA cheio de 6,48% em 2015. Fabio Silveira, da GO Associados, tem uma inflação mais acomodada: alta de 5,8% no IPCA. Sua diferença em relação aos demais está no comportamento benigno das commodities, com impacto na inflação de alimentos. Embora calcule a defasagem da gasolina em 15% (média do mês de julho), ele não espera toda correção dessa diferença em 2015. "Os reajustes da gasolina e do diesel devem vir em prestação", diz, esclarecendo que a projeção vale mesmo se a oposição vencer as eleições. Mas a primeira prestação, pondera, pode chegar ainda este ano.
Se a defasagem no cálculo do preço da gasolina não varia tanto e depende dos parâmetros tomados (ela vai de 11% na estimativa de Newton Rosa até 18,8% nas contas da Tendências) e pode mudar no curto prazo dependendo do preço do petróleo e do câmbio, a conta da energia é muito mais complexa.
Existe uma parte da conta conhecida: o empréstimo total de R$ 17,7 bilhões feito às distribuidoras (R$ 11 bilhões na primeira ajuda e mais R$ 6,6 bilhões agora). Cada bilhão representa um reajuste necessário de 0,8% a 1% por um ano na conta de energia para ser pago. A própria Aneel já estimou que o impacto referente a esse empréstimo seria de 8% em 2015 e seria mantido por dois anos (é como se metade dele fosse pago/recolhido em um ano e a outra metade, no outro ano). Mas o reajuste de 2015 (e o de 2016) levará em conta outros fatores, como ocorre todo ano.
Nos outros fatores, há elementos que pesam para aumentar a tarifa (como a taxa de câmbio e a manutenção das térmicas ligadas) e outros que vão agir para reduzi-la. Nos dois casos, parte desses elementos ainda não está definida e depende do que vai acontecer (câmbio, volume de chuvas e renegociação de contratos, mais especificamente). E é em fatores benignos, mas ainda indefinidos, que o governo ancora sua previsão de um baixo reajuste.
Na semana passada, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, afirmou que o reajuste necessário nas contas de energia para saldar a dívida das distribuidoras será de 2,5% em 2015, de 5,6% em 2016 e de 1,4% em 2017. Segundo Tolmasquim, o passivo das distribuidoras soma R$ 23 bilhões (os R$ 17,7 bilhões mais juros), a serem saldados em três anos. Tolmasquim divide esse pagamento em três anos, mas deduz dele o que pode ser obtido com a renovação de contratos de energia que vencem a partir de 2015. Como a energia será vendida mais barata, eles entram na conta como redutor de preço.
Em 2015, vencem R$ 5,9 bilhões, mas R$ 3,3 bilhões oriundos dos novos contratos vão abater esse valor e deixar R$ 2,5 bilhões (ou 2,5%) para serem pagos no ano. Em 2016, a correção de 5,6% viria do pagamento de R$ 5,6 bilhões da dívida, já que parte dos R$ 10,5 bilhões devidos pelas distribuidoras será coberta por R$ 4,9 bilhões dos novos contratos. No ano seguinte, o saldo líquido seria de R$ 1,4 bilhão (R$ 6,8 bilhões a pagar e R$ 5,6 bilhões de receitas com a renovação dos contratos de distribuição), como informou na ocasião ao Valor PRO - serviço de informação em tempo real do Valor.
No mercado de energia, as contas de Tolmasquim referentes ao impacto dos empréstimos são consideradas otimistas porque se estima uma redução menor oriunda da renegociação dos contratos. Além disso, a perspectiva do ano começar com as térmicas ligadas, já encareceria, de novo, a conta. Um terceiro ponto, lembra Adriana, da Tendências, é a partir de que momento o repasse feito pelo Tesouro às distribuidoras em 2013 (R$ 9 bilhões para a Conta de Desenvolvimento Energético) começará a ser cobrado nas contas de luz para ser devolvido.
Além da dúvida sobre o tamanho do reajuste, o impacto do aumento da energia elétrica no IPCA é mais complexo do que no caso da gasolina, cujo preço sobe ao mesmo tempo em todo o país. Na energia, a situação é menos linear. Nas capitais que entram no IPCA e com reajuste até julho (oito das 13 cidades), o aumento médio autorizado varia de 9,4% a 23,8%, e os aumentos autorizados se transformaram em uma inflação nacional de 9,73% até julho, equivalente a um impacto de 0,26 ponto percentual na inflação de 3,76% acumulada de janeiro a julho. Deflações que ainda persistem em outras capitais ajudaram a amenizar o impacto e, no caso de São Paulo, parte do reajuste ainda entrará em agosto.
Por fim, para compor o trio de reajustes incertos para 2015, as tarifas de ônibus urbanos também são uma incógnita. Algumas prefeituras reajustaram o preço este ano (como Rio de Janeiro e Porto Alegre). Outras (como São Paulo) não fizeram nenhum reajuste. Em casos como o paulistano, Adriana, da Tendências, não vê espaço político para um reajuste mais expressivo, que compense dois anos de aumento de custos de uma só vez.
Newton Rosa chegou a fazer um exercício quase matemático estimando qual o impacto de realinhamento total das tarifas de energia e transporte urbano, além do preço dos combustíveis, planos de saúde e demais administrados. Com alta de 27% na energia e 20% na gasolina, ele chegou a um reajuste médio de pouco mais de 12% nos administrados. Como o peso desse conjunto de itens é de 23% no IPCA, sozinhos eles responderiam por uma inflação de 3%. "Não consideramos essa uma hipótese, foi um exercício com diferentes variáveis. Trabalhamos com reajustes menores", explicou ele.
Apesar de estimar um aumento maior dos administrados em 2015, Silveira, da GO Associados, projeta uma alta de 5,8% no IPCA no próximo ano. Seu cenário difere dos demais por uma aposta maior no impacto benigno da queda do preço das commodities. "Os preços estão cedendo esse ano e vão ceder mais no ano que vem", diz Silveira. O pano de fundo dessa projeção é a combinação de safras boas e juros em alta, que farão recursos migrarem dos fundos de commodities para os papéis do Tesouro americano. Parte da ajuda já virá nesse segundo semestre (quando os preços dos alimentos subirão menos que em outros anos, estima ele), e parte virá em 2015, mesmo em um quadro de câmbio mais valorizado.

Economia brasileira cai no 2º tri e reforça possibilidade de recessão

Camila Moreira, Reuters, 
A economia brasileira recuou 1,20 por cento no segundo trimestre sobre o primeiro, ao cair 1,48 por cento em junho sobre maio, indicando que a economia brasileira pode ter entrado em recessão no primeiro semestre do ano e sem perspectivas de recuperação com vigor em breve.
No primeiro trimestre, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,02 por cento em relação aos três meses anteriores, número revisado nesta sexta-feira, de alta de 0,03 por cento informada antes.
Ao mostrar dois trimestres seguidos de contração, a economia entra em recessão técnica. O resultado de junho veio pior do que o esperado em pesquisa Reuters, cujas projeções indicavam recuo mensal de 1,30 por cento.
A queda de junho do indicador --considerado espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB)-- foi a quinta seguida na comparação mensal, com contrações de 0,8 e 0,01 por cento em maio e em abril, respectivamente. Foi também o pior resultado mensal desde maio do ano passado.
Logo após a divulgação, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, buscou evitar conexão direta entre o IBC-Br e o PIB, afirmando que "não é correto afirmar, nem informar, com base no IBC-Br, que a variação do PIB foi negativa no segundo trimestre".
Participando de evento em São Paulo, ele destacou que a projeção do BC para o PIB é a que consta do Relatório de Inflação, de expansão de 1,6 por cento para 2014. O mesmo vale para as contas sobre a inflação.
INDÚSTRIA E VAREJO
O IBC-Br é mais uma indicação de perda de força da economia brasileira no segundo trimestre, já reforçada pelos resultados do varejo e da indústria que, respectivamente, recuaram 2 e 0,6 por cento sobre o primeiro trimestre.
Em junho destacadamente notaram-se os efeitos negativos da Copa do Mundo sobre ambos os setores, devido à redução de dias úteis e fechamento do comércio.
"O fato é que a economia já vinha em processo acentuado de enfraquecimento nos últimos meses e, sobre esses fatores, somaram-se as paralisações e feriados por conta da Copa", disse o diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira. "A Copa foi o tiro de misericórdia".
As expectativas dos especialistas, ouvidos em pesquisa Focus do BC, são de que o PIB crescerá apenas 0,81 por cento em 2014, bem aquém dos 2,5 por cento vistos em 2013. O cenário deste ano, em que a presidente Dilma Rousseff busca a reeleição, também envolve inflação e juros elevados, além de baixa confiança dos agentes econômicos.
Os dados oficiais do IBGE são de que o PIB cresceu apenas 0,2 por cento no primeiro trimestre sobre os últimos três meses de 2013. Mas boa parte dos analistas não descarta a possibilidade de que esse número seja revisado para mostrar contração com a divulgação do resultado do PIB do segundo trimestre, marcada para o próximo dia 29.
"Temos uma situação que mostra estrangulamento da capacidade produtiva, e não conseguimos ver à frente melhora muito rápida porque precisaria haver mais investimentos", disse o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
Para ele, o segundo trimestre deve ter queda de 0,1 por cento sobre os três meses anteriores e o dado do primeiro trimestre seria revisado para zero, embora não descarte números piores.
O IBC-Br de junho teve queda de 2,68 por cento na comparação com igual período de 2013 e acumula alta de 1,41 por cento em 12 meses, ainda segundo dados dessazonalizados.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Apesar de preços em queda, safra 2014/2015 deverá crescer

Colheita deverá atingir 198,5 mi de toneladas e proporcionar maior renda ao produtor rural e redução da inflação.
Mesmo com a forte retração dos preços de soja, milho e algodão registrada nas últimas semanas, a próxima safra brasileira de grãos, que será plantada em setembro e colhida em março do ano que vem, deve crescer e atingir 198,5 milhões de toneladas, segundo projeções da consultoria GO Associados.
Esse maior volume de produção pode segurar a inflação de alimentos e garantir rentabilidade ao agricultor, mesmo com o cenário adverso neste momento, prevê o diretor de pesquisa da consultoria, Fabio Silveira.
Com semente, fertilizante e defensivos em casa, comprados quando os preços das commodities estavam em alta e mais favoráveis ao bolso do produtor, a expectativa é que a área plantada de soja cresça cerca de 3%, atingindo 31 milhões de hectares na safra 2014/2015, de acordo com a previsão da consultoria Informa Economics FNP.
No caso do algodão, a expectativa é de avanço de 11,6%, para 1,250 milhão de hectares. Para o milho e feijão, porém, o cenário é de retração e, para o arroz, de manutenção da área, segundo a Associação Brasileira de Sementes e Mudas.
SAFRA RECORDE
Em meados deste mês, o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos sinalizou uma safra americana recorde de soja, de 103 milhões de toneladas, e um maior volume de estoques mundiais de grãos.
Isso foi uma ducha de água fria nos preços das commodities, que já vinham com tendência de baixa por causa do corte de estímulos monetários feito pelo Banco Central americano. Nos últimos 30 dias, a cotação da soja caiu 7,45%; do milho, 6,88%; e do algodão, 4,94%, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). “Os produtores estão apreensivos, mas não vão reduzir a área com soja”, diz Antonio Chavaglia, presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano, que reúne 6,2 mil produtores.
Ele acredita que o que pode ocorrer em resposta ao preço baixo é a não abertura de novas áreas para a produção do grão. Essa também é a avaliação de Ricardo Tomczyk, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso, o principal Estado produtor de soja no Pais. “Deve diminuir a abertura de novas áreas.”. Em Mato Grosso, por exemplo, é esperada expansão de 5% da área plantada, mesmo com o preço mais baixo. Em Maringá, Norte do Paraná, outra importante região produtora, a expectativa é de manutenção da área de 650 mil hectares com soja, segundo o vice-presidente da Cocamar, José Cicero Aderaldo. Ele observa que os insumos foram comprados em junho. Essa antecipação de compra aparece na entrega de fertilizante, que cresceu 6,9% no primeiro semestre ante igual período de 2013, segundo David Roquetti, presidente da Associação Nacional para Difusão de Adubos.
BOMBRIL
Silveira, da GO Associados, compara a agricultura ao Bombril, marca de palha de aço com “mil e uma utilidades”, numa referência aos impactos positivos da safra. “A produção agrícola da safra 2014/2015 deve segurar a inflação e também ampliara renda do produtor.” O economista argumenta que se trata de contribuição “rara”, porque normahnente quando o preço cai, a produção é afetada. Mas, nesse caso, como os agricultores já tinham comprado os insumos com uma relação de troca favorável, a tendência é de manutenção ou acréscimo de área e o atunento de volume deve compensara queda no preço.
Outro fator que pode jogar a favor dos produtores é o câmbio. Silveira lembra que na época da comercialização da safra, em março de 2015, a expectativa é de uma taxa de câmbio mais elevada, com dólar a R$ 2,40. Isso significa que o produtor poderá obter mais reais pela soja, que é cotada em dólar no mercado internacional.
“Com os dois pés no freio”
A reviravolta nos preços internacionais dos grãos registrada nas últimas semanas fez o produtor paranaense Jorge Pedro Rare, que planta soja e milho em 100 hectares no município de Doutor Camargo, redobrar a cautela e ficar apreensivo “A gente está com os dois pés no freio.
” Em julho de 2013, a saca de soja estava cotada na sua região a R$ 67 e, na semana passada, R$ 55. No caso do milho, o valor do produto encolheu 36% em um ano: de R$ 28 para R$ 18 a saca dogrão. Colocar o pé no freio para o agricultor é não fazer investimentos em maquinário. “Não tenho coragem de comprar uma máquina. E melhor ficar com um trator mais simples do que comprar um mais moderno e ter dificuldade para pagar. ”
ANTECIPAÇÃO
Uma estratégia usada pelo agricultor para atenuara queda na rentabilidade por causa dos preços menores é não antecipar a venda do produto. “Em 2013, vendi 30% da safra de soja antecipadamente.” Já neste ano, por causa do preço menor, Frare decidiu esperar, na expectativa de que alguma alta de preço ocorra por causa do clima ou da desvalorização do real frente ao dólar.
Queda na produtividade afeta área de serviços
A desaceleração no crescimento da produtividade brasileira é nitidamente sentida na indústria, mas já está afetando o setor de serviços e pode começar a prejudicar o mercado de trabalho.
Segundo essa análise, do vice-presidente do Insper e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, o próprio governo tem sua parcela de culpa no problemas da produtividade.
Lisboa explica que, apesar da forte recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, os principais motores do crescimento brasileiro vêm se deteriorando significativamente desde a crise global.“Infelizmente, após 2009 a produtividade, que crescia 1,2% ao ano, passou a crescer próximo de zero. Isso afetou, sobretudo, a indústria, e nos últimos anos vem contaminando também o setor de serviços, que é o grande empregador, então ameaça prejudicar o mercado de trabalho”, afirmou.
O economista, que até o ano passado era vice-presidente do Itaú, argumenta que nos últimos anos o Pais tem sido dominado pela visão do desenvolvimentismo nacional, de que o problema da economia é a demanda, ou seja, é preciso estimular as pessoas a comprarem mais e as empresas a investirem mais.Mesmo assim, ele defende parcialmente os esforços dos governos Lula (do qual fez parte no primeiro mandato) e Dilma, afirmando que houve um grande empenho em alocar recursos para investimentos, mas que acabou fracassando.
Para Lisboa, o motivo desse fracasso foi justamente a questão da produtividade. Na sua visão, a maioria das medidas de proteção adotadas pelo governo para tentar blindar alguns setores contra a competição externa não deu certo. “Na hora em que se faz uma regra de conteúdo local, por exemplo, o consumidor desse setor vai pagar mais caro por equipamentos e insumos importados, ou comprar produtos nacionais de pior qualidade.A proteção de um setor reduz a produtividade de setores que estão à frente na cadeia produtiva, ou reduz a renda das familias”, explica.
Para Lisboa, setores se tomaram dependentes
Com a ressalva de que as medidas de proteção não são necessariamente ruins, Marcos Lisboa diz que o Brasil se fechou muito nos últimos anos e diversos setores se tomaram dependentes, o que dificulta a retiradas das restrições, mesmo quando essas medidas não são bem-sucedidas.Isso acaba criando distorções, como no caso da indústria automobilística, “que tem 60 anos de proteção e até hoje tem dificuldade de competir”.
Questionado sobre as recentes declarações do governo, de que o problema recente da economia brasileira não é a falta de demanda, mas a escassez de crédito, Lisboa insiste na tese da produtividade.O crédito é consequência desse processo, das dificuldades que o setor produtivo vem passando”.
Fonte:O Popular

Queda de preços agrícolas pode ajudar Brasil a atingir meta de inflação

30/07/2014 - Uol/ Da redação

A tendência de queda nos preços domésticos e internacionais das principais commodities agropecuárias poderá ser um grande aliado do governo brasileiro para que a inflação feche o ano dentro da meta oficial, disseram especialistas ouvidos pela Reuters.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,52% em 12 meses até junho, acima da meta oficial de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou menos.

Mas um alívio deve vir com a queda generalizada nas cotações de produtos como soja, milho e trigo. Apesar de não aparecerem diretamente nos carrinhos de supermercado, essas commodities têm forte repercussão em cadeias como as de carnes e de produtos de panificação.

"O balanço final deve ser de uma inflação mais contida, se depender do agronegócio", disse o diretor da consultoria Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.

O milho está sendo negociado no menor patamar em quase quatro anos no mercado à vista brasileiro, e o trigo na mínima de 20 meses, segundo levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo. Em apenas dois meses, a soja já perdeu 6,5%.

As quedas ocorrem num momento de ampla oferta global, por safras recordes no Brasil e a expectativa de uma grande colheita de grãos nos Estados Unidos no fim deste ano.

Na Bolsa de Chicago, a referência de preços para a soja em novembro acumulou perdas de 11% nos últimos dois meses, e o milho para dezembro recuou 20%.

Neste cenário, a LCA Consultores reduziu sua projeção para o IPCA em 2014 a 6,3%, ante estimativa de 6,5% feita em junho.

"A queda dos grãos foi o principal fator", disse o economista da LCA Étore Sanchez. "A gente estava batendo no teto. Qualquer surpresinha estourava, e agora já está um pouco abaixo da meta, tem uma margem."

Sanchez lembra que uma parcela importante dos itens que compõem as medições do IPCA estão diretamente ligados às cotações dos grãos.

Carnes (bovina, suína e de aves) e seus produtos industrializados, leite e derivados, ovos, farinhas, massas e panificados, além de óleos vegetais, têm a soja, o milho ou o trigo como importantes insumos de produção.

O peso destes itens no IPCA de junho chegou a cerca de 10%, mais do que o peso dos grupos educação e comunicação somados e quase a mesma relevância dos gastos com saúde e cuidados pessoais.

"Quando sobem os preços dos grãos, sobe o preço de tudo. A ração animal é baseada nisso e puxa o preço inclusive de outros bens substitutos", ressaltou Ferraz, da FNP.

Influência do câmbio
No mercado de commodities, em que os preços domésticos estão diretamente atrelados às cotações internacionais, não se pode ignorar a influência do câmbio. E é aí que as divergências começam.

A cotação do dólar frente o real, que flutua atualmente ligeiramente acima de R$ 2,20, pode tornar os preços da soja, do milho ou do trigo mais elevados no mercado doméstico em caso de uma desvalorização da moeda brasileira.

É o que prevê o diretor de pesquisa econômica GO Associados, Fábio Silveira.

"No último trimestre, quando estivermos nos estertores das eleições, a gente entende que a taxa de câmbio (dólar) vai subir, dada a necessidade de recompor a competitividade das exportações brasileiras", disse. "E aí os preços agrícolas deverão devolver um pouco dessa perda de preço doméstico que deve ocorrer agora no terceiro trimestre."

O economista projeta a taxa de câmbio terminando o ano entre R$ 2,35 e R$ 2,40 por dólar. O repique de preços das commodities em real, puxado pelo dólar, faria com que o IPCA fechasse o ano em 6,6%, segundo ele.

Para Sanchez, da LCA, o dólar também deverá terminar o ano no patamar de R$ 2,35 a R$ 2,40, mas ele acredita que o efeito sobre os preços dos grãos será sentido apenas no ano que vem.

Ele lembra que há um intervalo de alguns meses entre o preço das rações ser sentido no mercado de carnes e para ser repassado aos compradores, nos açougues.

"O câmbio vai ter uma influência na inflação como um todo, mas não por causa (dos preços) da soja. Os efeitos no preço da soja seriam sentidos em 2015. A cadeia dos eletrodomésticos é mais rápida, por exemplo."

Economistas consultados pelo Banco Central, que chegaram a prever, no início de maio, uma inflação de 6,52% em 2014, já projetam índice de 6,41% ao final do ano, segundo a pesquisa Focus.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Relação de troca piora para o sojicultor em MT no mês de julho, diz GO Associados

SOJA31 de Julho de 2014 | atualizado em 31/07/201


POR REDAÇÃO GLOBO RURAL



agricultura_soja_colheita (Foto: José Medeiros/Ed.Globo)
Depois de quatro meses seguidos de melhora, a relação de troca de soja por fertilizantes encerra julho com leve piora para o produtor de Mato Grosso. O cálculo foi divulgado nesta quinta-feira (31/7) pelo economista Fábio Silveira, da GO Associados.
A conta se baseia em preços médios da tonelada de adubo e da saca de 60 quilos do grãos. Segundo Silveira, a cotação do fertilizante ficou estável na comparação com junho, a R$ 1,17 mil por tonelada enquanto a soja baixou de R$ 56,70 para R$ 54. Com isso, o agricultor mato-grossense precisou do equivalente a 21,7 sacas do grão para comprar o insumo. Em junho, a relação estava em 20,7 sacas por tonelada.
“O preço doméstico da soja diminuiu 3% em comparação com o mês anterior, por influência, em boa medida, da queda de 11% da cotação internacional do produto na Bolsa de Chicago”, informa o economista.