08/04/2014 às 05h00
Depois de um março muito complicado, abril começou com bons sinais para a inflação: arrefecimento do ciclo de alta dos preços agrícolas no atacado e possibilidade de menor pressão cambial ao longo do ano.
O Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) encerrou o mês passado com alta de 1,48%, abaixo do fechamento do IGP-M, que ficou em 1,67%. Isso significa que o nível de inflação nos 30 dias fechados do mês de março já foi inferior ao dos 30 dias entre 20 de fevereiro e 20 de março. Esse nível menor veio dos preços agrícolas no atacado. Eles ainda subiram muito (5,58%), mas menos do que no IGP-M (6,16%). A alta dos preços industriais no atacado também foi menor que no IGP-M: 0,56% ante 0,76%.
Os preços da alimentação ao consumidor continuam em aceleração, mas o ritmo diminuiu. No IPC referente ao IGP-DI, o item alimentação subiu 1,66%, um pouco acima do 1,55% do IGP-M, mas essa alta (0,11 ponto a mais) é bastante inferior à registrada entre o IGP-10 (que mede a inflação entre os dias 10 de cada mês) e o IGP-M, que foi de 0,34 ponto (o item alimentação subiu 1,21% no IGP-10 de março).
A desaceleração da alta no atacado já era esperada pelos pesquisadores do Ibre, responsáveis pelas coletas dos IGPs. Mesmo assim, a confirmação tem ares de boa notícia, porque no boletim Focus as projeções para o IPCA continuam subindo. Passaram de 6,30% para 6,35% na última semana.
Na contramão do mercado, o ex-presidente do BC Francisco Lopes, responsável pelas estimativas da Macrométrica, reduziu sua projeção para o IPCA deste ano de 6,1% para 5,8%. A principal razão é a taxa de câmbio, que ele estima que pode fechar o ano em R$ 2,30, cotação que tem "algum risco de downside". Lopes apoia sua previsão na "determinação do BC em prolongar o ciclo de elevação da Selic" (para a qual projeta mais uma alta de 0,25 ponto em maio). A alta da Selic está tendo o efeito previsível de "derreter" a taxa de câmbio, com as reservas internacionais estabilizadas no patamar de US$ 377 bilhões, aponta Lopes.
Com financiamento externo suficiente para cobrir o déficit em conta corrente e sem perspectiva de surpresas nos cenários externo e interno (a atividade fraca está no preço e a novidade política, se houver, seria positiva para o mercado com eventual melhora da oposição, segundo Lopes), "a especulação contra o câmbio tornou-se muito pouco interessante" diz.
Lopes não é o primeiro analista a ponderar que o câmbio pode trazer algum alívio para a inflação ao longo do ano, ainda que a ajuda possa se materializar perto demais das eleições e não impeça que o IPCA, acumulado em 12 meses, ultrapasse o teto da meta de inflação na véspera da eleição presidencial.
Em meados do ano passado, a inflação teve os menores índices do ano, com 0,03% em julho, antecedido por 0,26% em junho e seguido por 0,24% em agosto. Quando esses percentuais forem substituídos pela inflação mais pressionada deste ano, as taxas em 12 meses devem superar o teto de 6,5%.
Semana passada, a mesma possibilidade (de menor pressão cambial) entrou no radar do economista Fabio Silveira, da GO Associados. Os capitais em fuga da Rússia, observou ele, estão se movendo em direção aos demais emergentes, entre eles o Brasil, o que influencia na trajetória de pequena apreciação do real. Silveira pondera que é cedo para reduzir as projeções para o IPCA, porque as commodities continuam pressionadas, e em alta, no mercado global.
Mais do que uma apreciação efetiva, o cenário desenhado pelo câmbio em março e no começo de abril, tira de cena a possibilidade de desvalorização adicional (e mais forte) ao longo do ano. Em 2012, a taxa sofreu desvalorização média de 16,7%, provocando impacto de 0,60 ponto no IPCA, segundo cálculos do BC. Em 2013, a desvalorização média foi de 10,5%, com impacto no IPCA de 0,35 ponto. O câmbio médio do ano passado foi de R$ 2,16. Se a média do ano até o início de abril for mantida, a desvalorização de 2014 será menor que as duas anteriores.
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