Aumento pode estimular queda do dólar, o que ajudaria a conter os preços
Previsão é que alimentos não deem trégua em abril e que inflação possa estourar teto em maio
MARIANA CARNEIRO e GABRIELA BAZZO DE SÃO PAULO
Fonte: Folha de S. Paulo
Fonte: Folha de S. Paulo
A inflação de março acima da prevista aumentou no mercado a aposta de que o Banco Central tenha que subir mais a taxa de juros para conter a escalada dos preços.
A taxa Selic (juro básico) está hoje em 11% ao ano e sobe desde março de 2013, quando estava no menor nível histórico de 7,25% ao ano. Ainda assim, a inflação tem se mostrado renitente, variando ao redor de 6% ao ano.
A alta dos juros tem dois efeitos sobre a inflação: tende a reprimir o consumo, o que desincentiva aumentos de preço, e atrai investidores estrangeiros, aumentando o fluxo de dólares para o país. Com isso, a cotação da moeda americana cai, o que ajuda a baixar preços de importados.
A taxa de juros em 11% ao ano já está provocando uma atração de estrangeiros, o que explica a recente desvalorização do dólar.
A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC será em maio e as expectativas se concentram em mais uma elevação dos juros, para 11,25% ao ano. Para analistas, contudo, a resistência da inflação pode levar o BC a estender esse reajuste.
"A aceleração da inflação reduz muito a margem de manobra para o Copom parar o ciclo em maio e também aumenta a probabilidade de altas para além do mês que vem", diz Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs.
"O Copom terá que subir a Selic bem mais, se não agora, certamente após a eleição."
MAIS ESTRANGEIROS
Uma nova alta dos juros tende a tornar o Brasil ainda mais atrativo para estrangeiros, reforçando a queda do dólar. Segundo Alberto Ramos, enquanto as taxas de juros de longo prazo dos EUA seguirem estáveis e abaixo de 3% ao ano, haverá interesse de estrangeiros em investimentos atrelados à Selic no Brasil.
Ontem, a taxa americana para títulos públicos com vencimento em dez anos estava em 2,69% ao ano.
Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC, afirma que analistas ainda não incorporaram o cenário de dólar mais barato às expectativas de inflação, apesar de a moeda americana estar abaixo de R$ 2,30 desde o fim do mês passado.
Isso porque ainda é dúvida por quanto tempo esse período de trégua dos estrangeiros com o Brasil vai durar. "Estamos dependentes de acontecimentos externos", diz.
Enquanto isso, a previsão é que os alimentos continuem subindo com força em abril.
Carnes bovina e de aves, além de leite e ovos, estão no radar de alta dos economistas. Além disso, preços que nada têm a ver com a seca estão impulsionando a inflação, como os de serviços (cuja alta está em 9,1%).
Para Fábio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, a ajuda do dólar será insuficiente contra a carestia.
Sua previsão é que o limite estipulado pelo próprio governo para a inflação (6,5%) estoure em maio. "Mesmo com juros elevados, a inflação está andando sozinha. Estamos entrando em um perigoso processo de comportamento inercial da inflação."
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