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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Siderúrgicas defendem desoneração junto a governos estaduais

Publicação: 30/04/2014 00:12 Atualização: 30/04/2014 07:38

São Paulo – A despeito da crise no setor energético que o Brasil enfrenta e da necessidade de reduzir as pressões da produção industrial sobre o meio ambiente, o país se vale menos do que poderia de materiais recicláveis, como a sucata de ferro e aço. Só 26% a 28% da produção nacional siderúrgica usam a sucata ferrosa (sobras das próprias usinas, peças e partes de automóveis, eletrodomésticos, bicicletas e máquinas e equipamentos descartados), frente à participação desse insumo na indústria siderúrgica mundial, de 45%. Estruturado sobre uma longa cadeia desde a coleta à preparação, ao processamento e à exportação, o comércio de sucata ferrosa vende cerca de 800 mil toneladas por mês no mercado interno, respondendo pelo maior volume de recicláveis.
Estudo inédito elaborado pelo Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que as grandes empresas concentradas no Sudeste, principalmente em São Paulo e Minas Gerais, comercializam 300 mil toneladas mensais da sucata ferrosa. O levantamento de dados sobre o setor, divulgado ontem, foi encomendado pelo Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa), que trabalha numa investida junto aos governos de vários estados para desonerar o setor na expectativa de aumentar o consumo.
A criação de estímulo tributário para levar a indústria siderúrgica a aumentar a demanda pela sucata ferrosa foi defendida pelo coordenador do estudo Painel de Indicadores Setoriais para o Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa, Gesner Oliveira, economista e professor da FGV. “Existe um grande potencial de crescimento do setor como gerador de emprego e de oportunidades, além dos benefícios de um insumo mais eficiente em termos de emissão de gases”, afirmou.
As estimativas são de que cada tonelada de aço reciclado representa uma economia de 1,140 mil quilos de minério de ferro, 154 quilos de carvão e 18 quilos de cal. Outras duas possibilidades de incremento do comércio de sucata ferrosa estariam no aumento dos leilões de veículos antigos e nas diretrizes do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Segundo o presidente do Inesfa, Marcos Fonseca, a instituição tenta levar ao Conselho de Política Fazendária (Confaz) a discussão sobre a desoneração do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Desde 2005, o setor está desonerado do PIS-Cofins.
PREÇOS Outro descontentamento das empresas está nos preços negociados no mercado brasileiro, que são, em média, US$ 80 a US$ 100 por tonelada mais baratos frente à cotação do produto no mercado internacional, segundo Fonseca. No ano passado, o segmento entrou em conflito com a indústria siderúrgica sobre a proposta de tarifação das exportações de sucata. O presidente do Inesfa disse que a venda no mercado externo é fonte importante de receita das empresas – o Brasil exporta o correspondente a 3,5% do volume de sucata consumida internamente –, sobretudo num período como 2014, em que o comércio vislumbra a queda da demanda do setor siderúrgico.
Faltam números precisos sobre o tamanho desse comércio, mas as informações conhecidas sobre o segmento atacadista brasileiro de resíduos e sucata em geral dão pistas: há cerca de 6,3 mil empresas atuando no ramo, com receita líquida operacional estimada em R$ 7,9 bilhões em 2011 (último dado disponível) e 55,8 mil empregos diretos. 

(*) A repórter viajou a convite do Inesfa
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2014/04/30/internas_economia,523924/siderurgicas-defendem-desoneracao-junto-a-governos-estaduais.shtml

quinta-feira, 24 de abril de 2014


Dejetos industriais comprometem a água em SP


Por Marleine Cohen | Para o Valor, de São Paulo

Dez milhões de litros de poluentes descartados ilegalmente nos mananciais, por hora. Essa é a carga de efluentes que o parque industrial instalado nos 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo despeja de forma regular em rios e lagos, com graves danos ao meio ambiente e à saúde pública. O volume corresponde, por dia, a dois lagos do parque do Ibirapuera cheios de resíduos industriais tóxicos lançados sem tratamento na natureza, um prejuízo comparável ao esgoto residencial não tratado que geram 11,9 milhões de habitantes, ou perto de metade da população da RMSP.
Os dados, que integram o estudo "Descarte ilegal de efluentes industriais na Região Metropolitana de São Paulo", do grupo de economia da infraestrutura e soluções ambientais da Fundação Getulio Vargas (FGV), coordenado pelo ex-presidente da Sabesp e docente da instituição, Gesner Oliveira, foi o estopim para uma discórdia entre seus autores e a Cetesb.
Segundo o estudo, embora o volume de dejetos industriais descartados ilegalmente na RMSP seja inferior ao total de esgotos residenciais que deixa de ser coletado e tratado pelas redes públicas, as características da sua carga poluidora tornam os efeitos nocivos ao meio ambiente equiparáveis. Estima-se que cada litro de esgoto industrial seja, em média, 6,6 vezes mais poluidor do que o esgoto residencial.
"É paradoxal que na RMSP, onde o estresse hídrico é comparável ao de algumas regiões do sertão nordestino, continuemos poluindo nossos mananciais com efluentes tão perigosos. Esse descarte obriga as concessionárias de saneamento a captarem água a mais de 80 km da capital, a custos elevadíssimos. Equacionar essa questão certamente poderia reduzir o risco de desabastecimento de água na região", diz Gesner Oliveira.
Além de apontar para um quadro ainda muito delicado em toda a área investigada, o estudo da FGV aventou algumas sugestões à Cetesb, não sem antes lhe imputar um diagnóstico igualmente preocupante. Segundo Oliveira, "dados da própria agência mostram que 42% das águas monitoradas em 2012 foram classificadas como péssimas, ruins ou regulares, sendo que três pontos de captação em particular - Braço de Taquacetuba, Rio Cotia e Rio Tietê - registraram situação crítica.
No caso do lançamento de efluentes industriais em mananciais, ainda de acordo com o professor da FGV, os resultados revelaram que há um grande desafio pela frente: "No mesmo período, pontos de coleta de amostras de água apresentavam 50% delas fora dos padrões para contaminantes como manganês, alumínio e ferro dissolvido".
A criação de um selo de lançamento sustentável de efluentes, o condicionamento da renovação de alvará à conformidade do descarte de dejetos e o fortalecimento da fiscalização da Cetesb -cujo orçamento total para a gestão e controle ambiental foi de R$ 387 milhões em 2013 e de R$ 348 milhões em 2012 - são algumas das alternativas propostas pelo grupo.
As conclusões a que chegou o estudo da FGV foram recebidas com algumas ressalvas pela Cetesb. Para os técnicos da agência, ainda que o documento tenha "o mérito de dar o pontapé inicial a essa discussão", é preciso "proceder a algumas correções".
"A carga poluidora, para nós, é muito clara. Nosso maior problema na RMSP não é o efluente industrial; é a coleta e tratamento do esgoto doméstico", rebateu Eduardo Mazzolenis, da diretoria de controle ambiental. Segundo o engenheiro, havia, em meados dos anos 90 - época em que se deu início ao programa de despoluição do rio Tietê - um total de 1.250 indústrias que respondiam por 90% da poluição gerada. Em seis anos, elas foram multadas e enquadradas. "Entre 1992 e 1998, 94% da descarga foi resolvida. Depois disso, não houve implantação de novas indústrias na RMSP", argumenta Mazzolenis.
Embora bem mais recente, uma análise da progressão da aplicação de multas pela Cetesb, entre 2010 e 2013, aponta que de fato houve um recuo, passando de 83 penalidades, no início da década, para 52, ano passado, o que gerou cerca de R$ 780.000,00 para os cofres públicos, ao longo de quatro anos.
Para Nelson Menegon, da diretoria de engenharia e qualidade ambiental da Cetesb, "um dos critérios que aponta uma melhoria da situação é que, entre 2000 e 2013, a barragem da Penha, ponto de medição no trecho metropolitano, passou do nível zero de concentração de oxigênio dissolvido n'água (OD) para o nível um". De maneira geral, valores de OD menores que 2 mg/L representam uma restrição à manutenção da vida nos cursos d'água, a hipoxia - o que explica que esta melhora não se tenha traduzido ainda na presença de espécies aquáticas nos rios da cidade.
Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, acolhe com muita cautela a ideia de que a situação tenha melhorado. "Está menos ruim", avalia, recorrendo ao exemplo do rio Ipiranga, um dos mais emblemáticos de São Paulo. Em 1992, era um dos cursos d'água mais poluídos do país, lembra ela. Tinha resíduos altamente tóxicos na água - cádmio, mercúrio, zinco - e havia contaminado o solo. "Hoje, a qualidade da água passou de péssima para ruim, sendo que 60% da carga de poluentes que recebe é de lixo doméstico que não foi tratado." Uma análise da situação do rio Tietê na altura da ponte das Bandeiras - outro ponto de monitoramento da SOS Mata Atlântica - revela que a qualidade das águas, ali, passou de "péssima" para "regular" em três décadas. Hoje, flutuam no leito do rio "lixo morto, pneus, sofás, isto é, parte da poluição difusa da cidade".
Segundo Malu, embora o estudo da FGV deva ser visto com imparcialidade, há que destacar que a preservação dos mananciais na RMSP ainda carece de uma fiscalização mais rigorosa e uma reformulação da legislação. "Hoje, a poluição industrial não deve ser associada às grandes companhias, mas às pequenas empresas, como os postos de gasolina, as tecelagens e curtumes que não têm condições de não poluir; trabalham com produtos de baixa qualidade - detergentes baratos, corantes tóxicos - e descartam seus efluentes nos rios."
Para ela, outro grave problema é a atual redação da Resolução Conama de 1993, atualizada em 2005, que classifica os rios em quatro grupos, permitindo, assim, que alguns se prestem tão-somente ao descarte de lixo. "Para complicar, o licenciamento ambiental é auto-declaratório: se o industrial não informar que seus efluentes são perigosos, não há fiscalização."

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Analistas passam a ver inflação do ano acima do teto


SOFIA FERNANDES DE BRASÍLIAMARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO
23/01/2014 - Folha de S. Paulo

A inflação no Brasil deve ultrapassar o teto da meta estipulada pelo governo neste ano e fechar o ano em 6,51%, segundo estimativa central de analistas do mercado financeiro, divulgada ontem pelo Banco Central.

Se a projeção se confirmar, será a primeira vez desde 2004 que a inflação fura o limite de tolerância, fixado pelo próprio governo, para o aumento de preços.

Um dos pontos que mais contribuíram para a estimativa de alta do mercado foram os reajustes já concedidos neste ano (veja alguns exemplos no quadro ao lado).

Na semana passada, todos os cinco aumentos autorizados pela Aneel estavam na casa dos dois dígitos. Dentre eles, a distribuidora AES-Sul (RS) foi autorizada a dar o maior aumento, de 28,86%.

"O mercado esperava uma retração maior nos preços administrados [controlados pelo governo], o que não aconteceu, sobretudo com a energia, que teve uma alta muito acima do esperado neste mês", afirmou a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.

INFLAÇÃO A 8%
No mercado, já há analistas prevendo que a inflação possa furar o teto do governo já em junho.

Para Fábio Silveira, economista-chefe da consultoria GO Associados, a inflação acumulada em 12 meses deve chegar a 6,9% em maio e continuar em aceleração até setembro, quando ele prevê que baterá 8%. Depois disso, ele projeta uma desaceleração dos reajustes para fechar o ano com alta de 6,8%.

"O importante não é bater 8%, é a aceleração que a inflação esperada teve nos últimos meses; começou com 5,5%, alcançou 6,5% e agora está pulando para 7,5%, 8%".

Além dos preços de energia, os alimentos seguem em alta em abril. Os remédios com preços controlados pelo governo também foram reajustados em 5,68%.

Com isso, dados prévios da inflação neste mês, calculados pelo IBGE, indicam que a inflação segue pressionada. O aumento do grupo alimentação e bebidas passou de 1,11% para 1,84% nos 30 dias encerrados em meados de abril, ante o mesmo período encerrado em março.

Silveira afirma que este movimento reflete reajustes observados no atacado em março, de produtos como café, arroz, feijão e carnes.

Em abril, os preços no atacado estão recuando, mas ainda em ritmo lento, diz o economista, o que é insuficiente para derrubar a inflação.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem reiterado que o ciclo de aumento de juros, iniciado em abril do ano passado para debelar altas de preços, ainda surtirá efeitos.

Segundo Alessandra Ribeiro, esse efeito tardio já está nas contas de analistas para a inflação deste ano.

O instrumento que resta, diz Silveira, é forçar queda adicional do dólar, que depois de superar R$ 2,30 está ao redor de R$ 2,20. Ontem, a moeda à vista fechou negociada a R$ 2,244. "A essa altura do campeonato, o câmbio é a via mais rápida."

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Cinco desafios econômicos do próximo Governo

O economista Gésner Oliveira apresentou o cenário futuro da economia durante o CFO Club, promovido pelo Experience Club
 
Restabelecer a credibilidade, aumentar os investimentos em infraestrutura, equilibrar as contas públicas, corrigir a estrutura de preço relativo e assegurar consistência nos programas sociais são os cinco desafios que o candidato que ganhar a eleição presidencial, em outubro deste ano, deverá enfrentar. Este cenário econômico foi revelado pelo economista Gésner Oliveira, que atuou como secretario adjunto de Política Econômica e Secretário de Acompanhamento Econômico do Governo Federal e participou do grupo que formulou o Plano Real. A apresentação foi realizada durante o CFO Club, evento promovido pelo Experience Club - mais ampla e eficiente plataforma de networking e negócios do mercado.
 
“Existe um desconforto. O mundo está repleto de tensões e sem fortes perspectivas de crescimento e este cenário gera menos oportunidades e é menos promissor. Acabou o período de bonança externa para o Brasil”, ressaltou Oliveira. Nos anos 90, o problema do País era a inflação. Hoje, o grande desafio é o crescimento sustentável, que consiste em aumentar a renda per capita. Essa será a busca da próxima década. Ele ainda afirmou que a economia mundial não oferece mais as oportunidades do passado. Além disso, o Brasil decepciona ao combinar desaceleração com pressão inflacionária e precisará de ajustes a partir de 2015, independente de quem vencer as eleições.
 
“O mundo sorriu para o País na década passada. Isso foi positivo para o aumento do consumo, mas o Brasil perdeu a chance de crescer em infraestrutura e produtividade, sem a qual morreremos na política internacional”, afirmou. Por isso, aumentar os investimentos em infraestrutura é um dos principais desafios para o próximo governo. A boa notícia é que estes gargalos são grandes oportunidades para as empresas.
 
A taxa de investimento em infraestrutura é ineficiente para o crescimento do País e isso atrapalha no aumento da produtividade. Ele ainda enfatizou que a Posição do Brasil em infraestrutura é a pior em relação aos países do BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em todos os setores a demanda aumentou. Na ordem de áreas que precisam de investimentos, os portos brasileiros estão em primeiro lugar. Na sequência vem saneamento, rodovias e ferrovias, aeroportos, energia e telecom. “A demanda cresceu em todos os segmentos e o investimento em infraestrutura teve queda entre 2008 e 2011. Para ter bons resultados seria necessário investir R$ 5 trilhões em 20 anos, ou seja, R$ 240 bilhões ao ano”, estima Oliveira.
 
Apesar de todos os desafios, vale ressaltar que hoje o Brasil possui estabilidade econômica. “Não importa quem ganhará as eleições, não haverá grandes mudanças na economia. Antes os candidatos traziam agendas opostas, hoje é clara. É muito bom estar em um ano eleitoral e não estar discutindo o que vai acontecer no Brasil. Diferente do que aconteceu no período Collor, por exemplo.”
 
CENÁRIO MUNDIAL
 
O economista explicou que o cenário mundial justifica o panorama que o novo governo enfrentará a partir de 2015. “Restabeleceu-se o eixo de desenvolvimento do mundo e houve desaceleração das economias emergentes. O hiato da taxa de crescimento entre os BRICS e os países desenvolvidos começa a fechar”.
 
Os Estados Unidos está se recuperando. Houve redução do desemprego, o PIB avançou e há expansão moderada do mercado doméstico. “As boas notícias dos EUA repercutem sobre as previsões monetárias. O Real e Yen tiveram desvalorização expressiva em 2013 com as mudanças nos EUA”, disse Oliveira. Na União Europeia a situação é frágil e há dificuldade de retomada. O desemprego ainda é elevado e a competitividade dos produtos europeus é limitada. “O dinamismo dos BRICS arrefeceu. A Índia está com problemas para manter a aceleração e não consegue conservar uma economia sustentável. Já a África do Sul e Brasil têm dificuldades de crescimento”, destacou o economista.
 
Sobre o economista Gésner Oliveira
 
Gesner Oliveira é economista pela FEA-USP, mestre pela Unicamp e PhD por Berkeley (EUA), além de autor de diversos artigos e livros no Brasil e no exterior. Tem passagem pelo Governo Federal na área macroeconômica como Secretario Adjunto de Política Econômica e Secretário de Acompanhamento Econômico. Participou do grupo que formulou o Plano Real em 1993-94. Conhece profundamente as políticas microeconômicas, regulatórias e setoriais, tendo presidido o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em 1996-2000. Foi sócio e consultor pelas Tendências e colunista da Folha de São Paulo em 2000-07. Presidiu a Sabesp durante o período 2007-2010. Atualmente, é sócio-diretor da GO Associados e professor da Fundação Getúlio Vargas.
 
Sobre o Experience Club
 
Comandado pelo empresário Ricardo Natale, é a mais ampla e eficiente plataforma de networking e negócios do mercado. Através de um calendário anual de eventos de experiências e de conteúdo, os executivos que fazem parte do top management das empresas mais representativas do país se encontram frequentemente com o objetivo de promover relacionamento profissional de alta qualidade, trocar informações relevantes para o dia a dia corporativo e incrementar o conhecimento. 
 
Fonte: http://www.segs.com.br/so-seguros/156184-cinco-desafios-economicos-do-proximo-governo.html

terça-feira, 22 de abril de 2014

Com pressão inflacionária, real pode manter a alta

22/04/2014 - 05:00
Por Marta Watanabe

Fonte: Valor Econômico

A pressão inflacionária deve concentrar as atenções do governo nos próximos meses. Por isso, no campo da política cambial, o controle da alta de preços deve ser prioridade em relação à competitividade para o comércio exterior, o que piora o quadro já pouco animador para a exportação de manufaturados, com perspectivas de uma continuidade da valorização da moeda nacional -no patamar atual, de R$ 2,20, ou mesmo a R$ 2,10. Essa é a opinião do economista Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados.
"Há uma mudança de cenário em razão do calendário político, com eleições este ano, e por conta da impressionante elevação da inflação nos últimos meses", diz o economista. Para ele, o patamar do dólar em torno de R$ 2,40 ficou para trás. "Agora a pergunta que fica é qual o piso da taxa de câmbio: R$ 2,10 ou R$ 2,20, um pouco mais ou um pouco menos?"
"Por enquanto, a preocupação do governo federal é com a pressão inflacionária e não deve haver iniciativa para retorno da desvalorização cambial", diz Lia Valls, do Ibre-FGV. A perspectiva para as indústrias exportadoras, diz Lia, não é boa, principalmente quando se leva em consideração a baixa demanda internacional por produtos dessa classe.

Silveira lembra que com a apreciação do real frente à moeda americana o exportador perde flexibilidade de preços para exportação de manufaturados. "Um recuo do dólar de R$ 2,40 para algo em torno de R$ 2,20 dá diferença próxima a 10%, o que tira rentabilidade e compromete a competitividade no mercado externo."

Lenta recuperação de Europa e EUA vira barreira à exportação

22/04/2014 - 05:00
Por Marta Watanabe e Vanessa Jurgenfeld

Fonte: Valor Econômico


A falta de reação mais consistente na demanda da União Europeia e a concentrada pauta de exportação brasileira para os Estados Unidos em itens aeronáuticos devem dificultar a esperada recuperação no embarque de manufaturados ao exterior este ano, como resultado da desvalorização mais acentuada do real frente ao dólar desde o segundo semestre de 2013.
A expectativa era que esses dois mercados - historicamente entre os mais importantes para exportação de manufaturados brasileiros - pudessem neutralizar o impacto da crise argentina na exportação brasileira. No primeiro trimestre, porém, a exportação de manufaturados caiu 8% contra iguais meses de 2013, queda mais acentuada que a média da exportação total, que recuou 2,5%.
Na mesma comparação, o embarque de manufaturados para a União Europeia recuou 6,7% e, para a Argentina, 11,1%. A exportação de manufaturados para os Estados Unidos surpreendeu de forma positiva, com alta de 6,6%, mas sobretudo ancorada em aeronaves e suas partes e peças, o que joga dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento neste mercado.
Nas últimas semanas, a mudança de sentido no câmbio, com a apreciação do real contra o dólar, levou algumas consultorias a revisar o patamar de dólar previsto para o fim do ano e trouxe mais incerteza para as indústrias exportadoras.
"Além de ser uma alta concentrada em poucos itens, é uma exportação que não se sustenta no decorrer do ano", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos.
Na avaliação das empresas, porém, apesar de não haver demanda robusta para diferentes itens, os Estados Unidos ainda são o mercado externo onde há mais expectativa de crescimento quando comparado com países da Europa.
"Acredito numa recuperação mais rápida dos Estados Unidos do que na Europa", disse Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG. "Na Europa, é mais onde todo mundo sofreu. Os negócios não crescem, com exceção da Alemanha."
Schmelzer Jr. faz um comparativo que demonstra algumas diferenças entre as duas regiões. Cita que, nos últimos dois anos, o mercado de motores elétricos nos Estados Unidos caiu, mas a WEG cresceu em volume, ganhando participação de mercado. Em 2013, no entanto, a empresa constatou que o mercado americano de motores elétricos em geral não caiu. "E isso é um bom sinal [para a economia americana]", diz, referindo-se à retomada. "Na Europa, a gente não tem essas informações. As notícias são de muita dificuldade ainda", acrescentou.
Na calçadista Democrata, Anderson Melo, gestor de exportação, explica que no primeiro trimestre o crescimento da exportação ocorreu por expansão de vendas para América Latina, que respondeu por 60% do aumento, Ásia (25%) e, em terceiro lugar, a Europa (15%). O mercado europeu, diz Melo, reage de forma leve e gradativa. "Há melhoras pontuais nas vendas para Espanha e Holanda." Para os Estados Unidos, onde o fornecimento da empresa é para marcas de terceiros, o volume ficou estável.
Na Fundição Tupy, há algum otimismo com o mercado do Nafta, que inclui Estados Unidos, porque os segmentos de automóveis e veículos comerciais vêm apresentando sinais de crescimento, principalmente o mercado de picapes. Mas, segundo o presidente da Tupy, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, há dúvidas em relação ao mercado americano por conta do setor de mineração. "Em 2013, o segmento teve desempenho aquém do esperado e, em função disso, estamos cautelosos."
Em relação à Europa, Tarquínio é um dos poucos empresários que dizem ver alguns sinais positivos. "Apesar de 2013 ter começado bastante difícil, os últimos meses de 2013 passaram a esboçar um cenário de recuperação", afirmou.
Segundo Reinaldo Maykot, vice-presidente de vendas e marketing da Embraco, os Estados Unidos mostraram até agora uma recuperação mais acentuada do que os países da Europa. Maykot diz que o lado positivo é que pelo menos a Europa não está mais em queda.
Para alguns economistas, o cenário para o resto do ano indica continuidade do baixo crescimento nos Estados Unidos e quase nenhuma expansão na Europa. A GO Associados estima 2,5% de crescimento da economia americana este ano. A taxa não é de um "crescimento extraordinário", capaz de indicar elevação de demanda de manufaturados brasileiros, diz o economista Fabio Silveira. "A avaliação é de crescimento lento, já que há dúvida sobre o crescimento sustentado da indústria, da massa salarial e do varejo."
"Em relação à Europa, é preciso comprar um banquinho e sentar", afirma Silveira. A consultoria estima crescimento de 0,6% para a zona do euro, o que é considerado um avanço para uma região que até o ano passado apresentava retração econômica. "Mas entre a melhor situação fiscal dos países e a criação de um maior dinamismo econômico há um longo terreno a percorrer", avalia. No primeiro trimestre, as exportações de manufaturados à União Europeia caíram 6,7% contra iguais meses de 2013.

Para Lia Valls, economista do Ibre-FGV, o crescimento americano precisaria ser muito forte para permitir ao Brasil uma diversificação maior da pauta de exportação aos americanos. Em relação à Argentina, um vizinho considerado sempre imprevisível, e onde houve uma política de restrições de importações, Lia explica que os dados do primeiro trimestre, com queda de 11,1% no valor exportado de manufaturados, confirmam as perspectivas negativas.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

GO Associados aponta estagnação na produção de veículos


Gustavo Porto | Agência Estado

A GO Associados revisou nesta quarta-feira, 16, a estimativa de produção brasileira de veículos e aponta agora uma estagnação no setor em 2014, ante 2013, com 3,713 milhões de unidades fabricadas. A consultoria previa anteriormente uma alta de 1% e atribuiu a revisão ao fraco desempenho nas exportações para a Argentina. "No ano passado a produção só cresceu (9,8%) por conta da disparada nas exportações (27%), principalmente para argentinos que compraram carros para se proteger da inflação. Mas eles não vão comprar carros duas vezes e a produção brasileira volta ao ritmo normal de estagnação dos últimos anos", disse Fabio Silveira, diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados.
Por conta do mercado travado com a Argentina, Silveira estima uma queda de 7% nas vendas externas em 2014, ante uma alta no mesmo porcentual na avaliação anterior. Ontem, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, discutiu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, uma forma de ampliar o financiamento para a retomada das exportações à Argentina. A GO Associados prevê ainda aumento de 0,8% na comercialização de veículos nacionais e importados no Brasil em 2014 ante 2013, de 3,767 milhões para 3,8 milhões de unidades. Caso a previsão seja concretizada, as vendas de autos, comerciais leves, caminhões, ônibus e tratores devem ser semelhantes ao recorde de 3,805 milhões de veículos de 2012.
Segundo Silveira, a leve alta nas vendas ainda ocorrerá principalmente por conta do crescimento na massa real de rendimento, de 1%. O freio no consumo virá da alta nos juros, do endividamento das famílias e do fim do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos. Do total estimado para ser comercializado este ano, 3,121 milhões de veículos são nacionais, alta prevista de 2% ante os 3,061 milhões de 2013, e 679 mil são importados, queda de 4% sobre os 707 mil do ano passado. Se considerados apenas os veículos leves, as vendas devem crescer 2,1% entre 2013 e 2014, para 2,937 milhões de unidades.
Fonte: http://atarde.uol.com.br/economia/noticias/1584732-go-associados-aponta-estagnacao-na-producao-de-veiculos

GO Associados aponta estagnação na produção de veículos

16 de abril de 2014 | 16h 36

GUSTAVO PORTO - Agencia Estado

SÃO PAULO - A GO Associados revisou nesta quarta-feira, 16, a estimativa de produção brasileira de veículos e aponta agora uma estagnação no setor em 2014, ante 2013, com 3,713 milhões de unidades fabricadas. A consultoria previa anteriormente uma alta de 1% e atribuiu a revisão ao fraco desempenho nas exportações para a Argentina. "No ano passado a produção só cresceu (9,8%) por conta da disparada nas exportações (27%), principalmente para argentinos que compraram carros para se proteger da inflação. Mas eles não vão comprar carros duas vezes e a produção brasileira volta ao ritmo normal de estagnação dos últimos anos", disse Fabio Silveira, diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados.

Por conta do mercado travado com a Argentina, Silveira estima uma queda de 7% nas vendas externas em 2014, ante uma alta no mesmo porcentual na avaliação anterior. Ontem, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, discutiu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, uma forma de ampliar o financiamento para a retomada das exportações à Argentina. A GO Associados prevê ainda aumento de 0,8% na comercialização de veículos nacionais e importados no Brasil em 2014 ante 2013, de 3,767 milhões para 3,8 milhões de unidades. Caso a previsão seja concretizada, as vendas de autos, comerciais leves, caminhões, ônibus e tratores devem ser semelhantes ao recorde de 3,805 milhões de veículos de 2012.

Segundo Silveira, a leve alta nas vendas ainda ocorrerá principalmente por conta do crescimento na massa real de rendimento, de 1%. O freio no consumo virá da alta nos juros, do endividamento das famílias e do fim do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos. Do total estimado para ser comercializado este ano, 3,121 milhões de veículos são nacionais, alta prevista de 2% ante os 3,061 milhões de 2013, e 679 mil são importados, queda de 4% sobre os 707 mil do ano passado. Se considerados apenas os veículos leves, as vendas devem crescer 2,1% entre 2013 e 2014, para 2,937 milhões de unidades.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Entrevista com Gesner Oliveira, doutor em Economia, ex-presidente do Cade e sócio da GO Associados especialista em regulação da concorrência

14/04/2014 às 12:40 - Por: Juliana de Moraes e Matheus Medeiros



Economista pela USP (Universidade de São Paulo), mestre e doutor em Economia pela Unicamp (Universidade de Campinas) e Universidade de Califórnia, Berkeley (EUA), respectivamente, Gesner Oliveira foi presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de 1996 a 2000, além de ter atuado na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda nos anos de 90 e ocupado a Presidência da Sabesp em meados desta década.
Hoje, sócio da GO Associados e professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração FGV (Fundação Getúlio Vargas), Oliveira coordena uma equipe de consultoria em projetos de infraestrutura e na elaboração de estudos e pareceres para subsidiar processos de revisão de atos de concentração junto ao Cade, além de auxiliar na avaliação de riscos concorrenciais, processos administrativos no âmbito do Conselho e na reparação de danos contra cartéis.
Nesta entrevista, ele que é autor de obras sobre Concorrência e Regulação, fala sobre os temas nas áreas de concessão pública, caso dos setores de energia elétrica e de gás natural, apontando as oportunidades de melhoria para as agências reguladoras brasileiras.
A seguir, confira a íntegra da conversa com Gesner Oliveira.
SindiEnergia Comunica - Em entrevista ao DCI, o sr. comentou que “Planejamento público e privado, boa regulação e gestão constituem o tripé da infraestrutura que ainda falta ao país”. No que tange à regulação, quais setores, a seu ver, enfrentam os maiores problemas pela ausência de um regramento para a atuação no mercado?
Gesner Oliveira - Em geral, todos os setores regulados no Brasil tem, em maior ou menor grau, alguma fragilidade. Eu diria que o setor que enfrenta maiores problemas é o setor portuário. Há uma série de sobreposições de competências, de fragilidades na área regulatória. E, a própria Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) tem problemas, que são comuns a outras agencias reguladoras, mas que são muito claras nesta agência.
Depois, avalio que vem o setor de saneamento. O segmento tem um marco regulatório que é a Lei 11.445, mas depende muito de regulação subnacional, municipal ou estadual. Dos mais de 5.500 municípios do país, a esmagadora maioria ainda não tem uma boa regulação e nem capacitação. Então, precisamos ainda de capacitação para formar pessoas e fazer um processo de construção seccional para haver agências com excelência técnica, independentes, enfim, órgãos que possam entregar aquilo que se espera de uma agência reguladora.
Em seguida, eu diria que vem a área de transportes, incluindo a área de terrestres (ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres), que também tem dificuldades em particular. Há muita incerteza em relação ao modelo ferroviário. Acho que isso é um problema. Eu diria que talvez as áreas de energia elétrica e telecomunicações são áreas em que as agências federais são um pouco mais consolidadas, ainda assim, seriam necessários mais recursos, maior independência, mas de qualquer maneira eu acho que já houve certa consolidação. 
SindiEnergia Comunica - No específico caso do setor de energia elétrica, como avalia o atual estágio da regulação?
Gesner Oliveira - Eu entendo que temos uma boa regulação. Há questões básicas para o bom funcionamento de um órgão regulador: excelência técnica, autonomia econômico-financeira, linha orçamentária e não ter interferência do executivo, contingenciamento do tesouro, dos recursos que são da agência! Além disso, é necessária uma prática de prestação de contas permanente. Então, os reguladores tem que prestar contas.
Eu diria que, desses atributos, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) tem uma boa excelência técnica. Talvez pudesse ser reforçada com mais recursos humanos, uma integração mais profunda com os centros de ensino e pesquisa do país. Como se trata de uma agência federal, de atuação regional, o fortalecimento dos convênios com as agências estaduais é muito importante. É claro que ela depende, em parte, da qualidade da regulação estadual que precisa ter uma contraparte que faça jus aos desafios e mais independência e autonomia econômica financeira e gerencial.
Não é possível que o presidente de uma agência precise de autorização do ministro para certas atividades. Avalio que a vinculação administrativa com os ministérios ainda é excessiva. Ainda falta nas agências reguladoras esse processo de construção institucional.
SindiEnergia Comunica - No segmento de gás natural, existem muitas críticas à falta de regulação para este mercado. Considerando que houve recentes leilões para a exploração deste insumo energético, quais prejuízos entende que pode haver pela falta de regras para a atuação no setor?
Gesner Oliveira - Toda vez que se introduz um elemento importante na matriz energética e não há regras previstas, isso gera insegurança. Isso ocorre não só em relação a esse segmento, mas também quanto ao conjunto dos setores porque qualquer insumo energético que você introduza altera a estrutura de preços relativos. Se há dúvidas em relação a isso, há dúvidas em relação a todos os componentes da matriz.
É sabido que, a qualquer momento, pode haver uma mudança brusca de preços relativos, portanto prejudicando o cálculo econômico, aumentando o risco e diminuindo o investimento. Entendo que não só pra esse item específico, mas para o conjunto de itens, regras claras, estáveis e discutidas são fundamentais!
SindiEnergia Comunica - É sua a afirmação: “Os serviços de energia elétrica e telecomunicações se valem cada vez mais de redes comuns, exigindo coordenação e critérios gerais de respeito à competição, e não regulações específicas”. Em sua opinião, a Comissão Conjunta composta pelas Agências Reguladoras (Anatel, ANP e Aneel) para lidar com conflitos entre prestadoras de setores distintos não é suficiente?
Gesner Oliveira - Acho muito importante haver o esforço de uma comissão que procure coordenar as ações entre as agências reguladoras. O compartilhamento de rede é cada vez mais importante, pois caminhamos para um mundo como uma rede absolutamente integrada.
Quando consideramos as redes inteligentes, não há razão para haver dissociação até mesmo entre as redes mais tradicionais, como saneamento, telecomunicações e energia. A integração é o caminho natural, a exemplo do que ocorre com o transporte nos modais. Isso vai exigir cada vez mais regulações integradas. A atividade da comissão mista em agências vai ficar cada vez maior.
Eu, pessoalmente, sempre achei que as agências multissetoriais são superiores às agências unissetoriais. As experiências da Austrália e da Nova Zelândia são muito positivas nesse sentido. E mais, também a área de regulação deveria estar integrada com a área de defesa da concorrência. O exemplo australiano, novamente, é muito interessante, pois o tema concorrencial é tratado como um tema regulatório, que no fundo é a mesma coisa.
Quando eu estava no Ministério da Fazenda (como secretário adjunto da Secretaria de Política Econômica, de 1993 a 1995), cheguei a propor a discussão de uma eventual “super agência”. Mas, chegamos à conclusão de que se trata de muita energia gasta, não vale a pena. Se houver uma rede de convênios entre as agências, com integração dos órgãos, de forma bem feita, essa solução pode nos suprir perfeitamente.
Nós não precisamos perder tempo na fusão das entidades. Agora, conceitualmente, se eu pudesse propor - e já tive oportunidade como consultor - num país que está começando, optaria pelo sistema integrado. Mas, para uma nação que já tem um modelo, proponho que haja cooperação entre as agências existentes.
SindiEnergia Comunica – Mas, considera que essas comissões compostas por representantes de diversas agências são suficientes para discutir realmente essa questão das redes comuns?
Gesner Oliveira - Eu acho que as comissões precisariam ser reforçadas com um ambiente de cooperação muito estreito entre as agências, entre as altas direções. Deve haver agilidade. Tenho impressão que um dos maiores dramas do Brasil é você passar do tempo burocrático para o tempo econômico.
O tempo burocrático é muito moroso, é muito contraditório e às vezes as decisões que vão para as instituições ficam meses, anos e emperram o desenvolvimento do negócio. Tenho a impressão de que, para ser mais ágil, deve haver um esforço de maior integração e maior mandato. O assunto, muitas vezes, fica sendo discutido, dissecado, etc, mas no nível técnico. A discussão no nível técnico chega a estar avançada, mas os dirigentes das organizações reguladoras não têm a menor ideia do que está acontecendo. E isso não se transforma em atos práticos.
SindiEnergia Comunica - Neste contexto, em que sentido acredita que o fortalecimento das agências reguladoras numa ação coordenada com o Cade pode trazer maior segurança ao mercado como um todo, considerando empresas e consumidores? Pode exemplificar uma situação em que houve resultados positivos do esforço de coordenação entre os órgãos? 
Gesner Oliveira - Eu sou entusiasta dessa ideia! Avalio que se houvesse maior integração entre as agências e, por sua vez, maior integração entre a defesa da concorrência e regulação, seriam reduzidas as barreiras de entrada, práticas de cartel.
Uniformizaríamos, dessa forma, o entendimento de conceitos concorrenciais de setores regulados. Por outro lado, educaria o Cade em conceitos regulatórios. Neste momento, por exemplo, o Cade está decidindo sobre vários temas que tangem os setores regulados. Seria muito interessante que os técnicos da Aneel, Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Antaq e da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) estivessem diretamente participando desta discussão.
Quando foi discutido o projeto de lei, a nova lei do Cade, a 2529, eu sugeri que, para evitar a descontinuidade durante o período de vacância, houvesse substituição imediata de agências reguladoras: vagou um cargo de conselheiro, imediatamente entra um suplente, que pode ser de qualquer agência reguladora, o que estimularia muito a integração. Não teria o problema do interino porque você vê no lugar alguém com mandato. É usar uma ideia para uma boa integração. Aproveita-se melhor os recursos humanos como também aprecia alguém de alguma das agências.
Como está mudando a lei, a proposta é colocar um dispositivo que alteraria, como um acréscimo, as leis das agências, que permitiriam que alguém delas ocupasse o cargo. Acredito que seria uma revolução!
A partir desse mecanismo, usaríamos melhor os recursos porque mesmo sempre tendo alguém com muito trabalho, sempre haverá alguém com mais ociosidade, que poderá ser aproveitado, induzindo esse intercâmbio necessário. Já há um plano técnico, que acho que tem que ser incentivado. Você teria uma integração no plano das direções que seria extremamente saudável sem a necessidade de promover uma fusão.
SindiEnergia Comunica - A segunda edição do seu livro Direito e Economia da Concorrência, publicação em coautoria com João Grandino Rodas, chega revista, à luz da nova lei de defesa da concorrência (Lei 12529/11). Na sua opinião, a notificação de pré-fusão é a principal mudança na Lei?
Gesner Oliveira - Eu diria que é uma das principais. Há três mudanças fundamentais. Certamente essa é a grande novidade, pois mudou a dinâmica do ato de concentração no país. É uma novidade importante que colocou a legislação brasileira em linha com a internacional.
A segunda mudança importante foi a maior integração, pois havia muita fragmentação. Você tinha uma Secretaria no Ministério da Fazenda, uma no Ministério da Justiça e outra no Cade. Fundiu-se a SDE (Secretaria de Direito Econômico) com o Cade, criando o atual Cade, e se deu uma atribuição específica e distinta para a Secretaria de Acompanhamento Econômico. Isso ordenou melhor e fez os trabalhos de integração que eram muito burocráticos. Essa foi uma mudança institucional importante.
A terceira mudança importante, e que talvez tenha sido menos visível, é a integração entre agências reguladoras e de defesa da concorrência como o Cade. Como não havia agências reguladoras antes, a lei não previa a interação entre elas. E, vários artigos da atual lei estabelecem e fixam regras de interação entre agências reguladoras e defesas da concorrência. Curiosamente, esse é um fato que não tem sido muito mostrado pela mídia, não tem sido acionado pelo setor privado e não tem sido ressaltado pelo governo. Mas, me parece que é uma das principais mudanças, pois esse é um dispositivo que existe e que é autoaplicável.
A Aneel, por exemplo, pode com grande facilidade, ao ver que o Cade vai aprovar um ato e que isso a coloca em uma dificuldade, fazer uma repugnação, rediscutir, transformando a denúncia em processo administrativo imediatamente para fazer uma impugnação. Ou seja, você cria um canal via agência reguladora para o fórum de defesa da concorrência muito interessante, o que antes não havia. Não estava previsto em lei.
Evidentemente, como decisões de fusões podem ser contestadas no judiciário, o fato de não estar previsto em lei antes enfraquecia o processo. Hoje não, seria um procedimento previsto em lei.
SindiEnergia Comunica - E de, certa forma, o sr. acredita que havendo esse caminho institucionalizado por meio de uma legislação há redução “do caminho” via Poder Judiciário?
Gesner Oliveira – Entendo que pode reduzir, sim. Digamos, não é certo, mas avalio que é positivo. Quanto maior integração você tiver no plano administrativo, maior a probabilidade de resolver o problema.
Desta forma, o foco maior fica direcionado ao resultado e não há aquele “empurra-empurra” de agência pra agência. Curiosamente, é um fato que não tem sido levantado, e acho que o setor privado ainda não entendeu que este mecanismo pode acionar muito mais tanto as agências para atuarem no Cade, quanto o órgão para atuar nas entidades reguladoras. 
Produção e edição:
Moraes Mahlmeister Comunicação

Link:http://www.sindienergia.org.br/noticia.asp?cod_not=1685&verificado=1

sexta-feira, 11 de abril de 2014


Ciclo de Palestras para Jovens Talentos (CPJT) 

Nesta quarta-feira (16/04) daremos início ao Ciclo de Palestras para Jovens Talentos (CPJT) , o qual tem como objetivo estimular discussões e o compartilhamentos de experiências via palestras de especialistas em diversas áreas.

Tema:
Multidisciplinaridade: Diálogo entre Economia e outras áreas do conhecimento.

Palestrante:
Marcos F. G. da Silva é Doutor em economia - IPE/USP e professor em tempo integral da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 


Marcos tem como áreas de pesquisa: 


•Relações entre Política e Economia
•Economia e Mercado
•Crescimento Econômico: Dimensões Políticas e Institucionais
•Direito
•Justiça Social
•Economia da Corrupção e Ética

A palestra é gratuita e ocorrerá no próprio escritório da GO Associados.


Av. Brigadeiro Faria Lima, 2081 - 3ºandar  - Cj. 32
Horário: das 19h às 20h.

As vagas são limitadas e para reservá-las é imprescindível sua confirmação por meio do facebook ou enviar e-mail de confirmação da participação para: michele.turrini@goassociados.com.br

Contamos com a sua presença!

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mercado prevê juros mais elevados contra a inflação

Aumento pode estimular queda do dólar, o que ajudaria a conter os preços
Previsão é que alimentos não deem trégua em abril e que inflação possa estourar teto em maio
MARIANA CARNEIRO e GABRIELA BAZZO DE SÃO PAULO
Fonte: Folha de S. Paulo

A inflação de março acima da prevista aumentou no mercado a aposta de que o Banco Central tenha que subir mais a taxa de juros para conter a escalada dos preços.

A taxa Selic (juro básico) está hoje em 11% ao ano e sobe desde março de 2013, quando estava no menor nível histórico de 7,25% ao ano. Ainda assim, a inflação tem se mostrado renitente, variando ao redor de 6% ao ano.

A alta dos juros tem dois efeitos sobre a inflação: tende a reprimir o consumo, o que desincentiva aumentos de preço, e atrai investidores estrangeiros, aumentando o fluxo de dólares para o país. Com isso, a cotação da moeda americana cai, o que ajuda a baixar preços de importados.

A taxa de juros em 11% ao ano já está provocando uma atração de estrangeiros, o que explica a recente desvalorização do dólar.

A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC será em maio e as expectativas se concentram em mais uma elevação dos juros, para 11,25% ao ano. Para analistas, contudo, a resistência da inflação pode levar o BC a estender esse reajuste.

"A aceleração da inflação reduz muito a margem de manobra para o Copom parar o ciclo em maio e também aumenta a probabilidade de altas para além do mês que vem", diz Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs.

"O Copom terá que subir a Selic bem mais, se não agora, certamente após a eleição."

MAIS ESTRANGEIROS
Uma nova alta dos juros tende a tornar o Brasil ainda mais atrativo para estrangeiros, reforçando a queda do dólar. Segundo Alberto Ramos, enquanto as taxas de juros de longo prazo dos EUA seguirem estáveis e abaixo de 3% ao ano, haverá interesse de estrangeiros em investimentos atrelados à Selic no Brasil.
Ontem, a taxa americana para títulos públicos com vencimento em dez anos estava em 2,69% ao ano.

Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC, afirma que analistas ainda não incorporaram o cenário de dólar mais barato às expectativas de inflação, apesar de a moeda americana estar abaixo de R$ 2,30 desde o fim do mês passado.
Isso porque ainda é dúvida por quanto tempo esse período de trégua dos estrangeiros com o Brasil vai durar. "Estamos dependentes de acontecimentos externos", diz.
Enquanto isso, a previsão é que os alimentos continuem subindo com força em abril.
Carnes bovina e de aves, além de leite e ovos, estão no radar de alta dos economistas. Além disso, preços que nada têm a ver com a seca estão impulsionando a inflação, como os de serviços (cuja alta está em 9,1%).

Para Fábio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, a ajuda do dólar será insuficiente contra a carestia.
Sua previsão é que o limite estipulado pelo próprio governo para a inflação (6,5%) estoure em maio. "Mesmo com juros elevados, a inflação está andando sozinha. Estamos entrando em um perigoso processo de comportamento inercial da inflação."

terça-feira, 8 de abril de 2014

Taxa de inflação ganha ajuda em abril, mas segue rumo ao estouro da meta

Por Denise Neumann | São Paulo
08/04/2014 às 05h00
Depois de um março muito complicado, abril começou com bons sinais para a inflação: arrefecimento do ciclo de alta dos preços agrícolas no atacado e possibilidade de menor pressão cambial ao longo do ano.
O Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) encerrou o mês passado com alta de 1,48%, abaixo do fechamento do IGP-M, que ficou em 1,67%. Isso significa que o nível de inflação nos 30 dias fechados do mês de março já foi inferior ao dos 30 dias entre 20 de fevereiro e 20 de março. Esse nível menor veio dos preços agrícolas no atacado. Eles ainda subiram muito (5,58%), mas menos do que no IGP-M (6,16%). A alta dos preços industriais no atacado também foi menor que no IGP-M: 0,56% ante 0,76%.
Os preços da alimentação ao consumidor continuam em aceleração, mas o ritmo diminuiu. No IPC referente ao IGP-DI, o item alimentação subiu 1,66%, um pouco acima do 1,55% do IGP-M, mas essa alta (0,11 ponto a mais) é bastante inferior à registrada entre o IGP-10 (que mede a inflação entre os dias 10 de cada mês) e o IGP-M, que foi de 0,34 ponto (o item alimentação subiu 1,21% no IGP-10 de março).
A desaceleração da alta no atacado já era esperada pelos pesquisadores do Ibre, responsáveis pelas coletas dos IGPs. Mesmo assim, a confirmação tem ares de boa notícia, porque no boletim Focus as projeções para o IPCA continuam subindo. Passaram de 6,30% para 6,35% na última semana.
Na contramão do mercado, o ex-presidente do BC Francisco Lopes, responsável pelas estimativas da Macrométrica, reduziu sua projeção para o IPCA deste ano de 6,1% para 5,8%. A principal razão é a taxa de câmbio, que ele estima que pode fechar o ano em R$ 2,30, cotação que tem "algum risco de downside". Lopes apoia sua previsão na "determinação do BC em prolongar o ciclo de elevação da Selic" (para a qual projeta mais uma alta de 0,25 ponto em maio). A alta da Selic está tendo o efeito previsível de "derreter" a taxa de câmbio, com as reservas internacionais estabilizadas no patamar de US$ 377 bilhões, aponta Lopes.
Com financiamento externo suficiente para cobrir o déficit em conta corrente e sem perspectiva de surpresas nos cenários externo e interno (a atividade fraca está no preço e a novidade política, se houver, seria positiva para o mercado com eventual melhora da oposição, segundo Lopes), "a especulação contra o câmbio tornou-se muito pouco interessante" diz.
Lopes não é o primeiro analista a ponderar que o câmbio pode trazer algum alívio para a inflação ao longo do ano, ainda que a ajuda possa se materializar perto demais das eleições e não impeça que o IPCA, acumulado em 12 meses, ultrapasse o teto da meta de inflação na véspera da eleição presidencial.
Em meados do ano passado, a inflação teve os menores índices do ano, com 0,03% em julho, antecedido por 0,26% em junho e seguido por 0,24% em agosto. Quando esses percentuais forem substituídos pela inflação mais pressionada deste ano, as taxas em 12 meses devem superar o teto de 6,5%.
Semana passada, a mesma possibilidade (de menor pressão cambial) entrou no radar do economista Fabio Silveira, da GO Associados. Os capitais em fuga da Rússia, observou ele, estão se movendo em direção aos demais emergentes, entre eles o Brasil, o que influencia na trajetória de pequena apreciação do real. Silveira pondera que é cedo para reduzir as projeções para o IPCA, porque as commodities continuam pressionadas, e em alta, no mercado global.
Mais do que uma apreciação efetiva, o cenário desenhado pelo câmbio em março e no começo de abril, tira de cena a possibilidade de desvalorização adicional (e mais forte) ao longo do ano. Em 2012, a taxa sofreu desvalorização média de 16,7%, provocando impacto de 0,60 ponto no IPCA, segundo cálculos do BC. Em 2013, a desvalorização média foi de 10,5%, com impacto no IPCA de 0,35 ponto. O câmbio médio do ano passado foi de R$ 2,16. Se a média do ano até o início de abril for mantida, a desvalorização de 2014 será menor que as duas anteriores.


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