25.8.2014
Por Roberto Rockmann | De São Paulo
O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto costuma dizer que o cenário macroeconômico do Brasil ao longo das últimas décadas tem enfrentado dois obstáculos recorrentes: déficits vultosos em transações correntes e escassez de energia. Explorar a camada pré-sal poderá mudar isso, já que o país poderá contar com um excedente de exportação superior a 1,5 milhão de barris por dia a partir da próxima década.
Transformar o futuro em realidade não será tarefa fácil. O principal obstáculo é a política de preços dos derivados de petróleo. O controle sobre os preços dos combustíveis, em especial gasolina e diesel, desde 2008 somou-se à política de incentivo à aquisição de veículos, com redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI). De um lado, se aumentou a frota. De outro, a gasolina teve seu preço subsidiado, o que reduziu a competitividade do setor sucroalcooleiro, que pisou no freio.
Entre 2010 e início de 2014, as importações do derivado da gasolina cresceram 490%, segundo estimativas de Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "Hoje 12% da gasolina nacional é importada e 17% do diesel vem de fora e, a se manter essa política, esses números irão aumentar e a participação do etanol cairá ainda mais", observa.
O controle de preços tem impacto direto sobre o caixa da Petrobras. Segundo estimativa de Pires, cerca de 60% do caixa da empresa está diretamente relacionado às vendas de gasolina e diesel.
Sem liberdade para acompanhar os preços internacionais, a estatal enfrenta um cenário que combina investimentos crescentes no pré-sal e alta do endividamento. No balanço do segundo trimestre, a Petrobras atingiu uma relação de dívida líquida e Ebitda de 3,9 vezes e uma relação entre dívida e de capitalização de 40%, acima dos 35% estipulados pelo conselho da petroleira. Para driblar os percalços, a estatal tem trabalhado em aumento da eficiência e venda de algumas operações consideradas não estratégicas.
O governo federal já acenou que poderá reajustar os preços dos derivados para reduzir a defasagem dos preços dos combustíveis no Brasil em relação ao exterior. Seria a primeira vez que isso seria feito em um ano eleitoral desde 2001, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. "A expectativa é de que possa ser feito em duas etapas, com parcelas de 5% cada", diz o economista Fabio Silveira, da GO Associados.
Para ele, a recuperação da capacidade de investimento da estatal está ligada à resolução da política de preços. "Uma decisão a favor de reajuste leva meses para ser sentida na melhoria da margem e capacidade de investimento da empresa, que tem sido corroída ao longo dos últimos anos", aponta.
O setor tem apresentado déficit na balança comercial. Desde a década de 1980 não se assistiu à construção de nenhuma nova refinaria, tendência apenas revertida na metade da década passada, com o sinal verde dado à construção da Refinaria Abreu Lima (PE) e aos projetos de outras três refinarias. Em 2012, a balança setorial ficou negativa em US$ 13,7 bilhões, segundo dados da GO Associados. Um ano depois, o número piorou: US$ 27,9 bilhões. Para este ano, prevê-se déficit de US$ 22,5 bilhões.
Fonte Internet: Valor Econômico, 25/08/14
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