Cleide Silva - O Estado de São Paulo
24 Agosto 2014 | 23h 01
Entidade diz que estímulo ao crédito, anunciado pelo governo, melhora o cenário, mas consultores não veem recuperação
O presidente da Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, ainda aposta numa
melhora das vendas de veículos no segundo semestre, principalmente após as
medidas de apoio ao crédito anunciadas pelo governo na quarta-feira.
A recuperação, contudo, não será suficiente para
reverter as perdas da produção na primeira metade do ano. Apenas deve
minimizá-las para uma retração de 10%, o que significará voltar à produção de
quatro anos atrás, quando 3,3 milhões de veículos deixaram as linhas de
montagem. No ano passado foram 3,7 milhões.
“Essa melhora no segundo semestre
aponta que teremos em 2015 uma performance muito melhor do que em 2014”, diz
Moan. O executivo ressalta a importância do setor ao comentar a extensão da
cadeia automotiva como um todo. “Demonstra o papel fundamental que o setor tem
para o desenvolvimento da indústria brasileira.”
Moan cita ainda que, no ano
passado, a cadeia automotiva foi responsável pela arrecadação de R$ 180 bilhões
em impostos, o equivalente a 12% de todo o que foi pago em impostos no País.
Sem sinais. O diretor de pesquisa
da consultoria GO Associados, Fabio Silveira, está menos otimista que Moan.
“Não vejo, por enquanto, sinais mais fortes de que haverá uma retomada neste
ano”, diz. Ele projeta queda de 12% na produção de automóveis, o que
significará “um baque” para o setor, com reflexo direto nos resultados
financeiros.
“É difícil hoje uma montadora
ganhar dinheiro no Brasil”, admite o presidente da Volkswagen, Thomas Schmall.
Silveira ressalta que houve um
processo de contração acentuada da rentabilidade operacional das empresas,
esmagadas pelo custo de financiamento do capital de giro. “A queda na
rentabilidade e na produtividade levou os empresários a terem mais cautela em
relação ao futuro e muitos deixaram de fazer investimentos”, afirma o
economista.
Paulo Butori, presidente do
Sindipeças, confirma que o setor não está investindo o necessário em
modernização. Há alguns anos, estatísticas indicavam que, para cada R$ 1
investido pela montadora, as autopeças investiam R$ 1,70. “Essa conta está
longe de ocorrer”, diz o executivo.
As montadoras, por sua vez, não
alteraram seus planos de investimento e falam em aplicar R$ 75,8 bilhões no
período 2012-2018. Com novas fábricas e ampliação das atuais, o País terá um
excesso ainda maior de capacidade instalada – que hoje já está em mais de 1
milhão de unidades, pois as fábricas estão preparadas para produzir 4,5 milhões
de veículos ao ano.
Com
tantos fabricantes (já são 21 atualmente e mais oito estão se instalando no
País), “vislumbro um monte de gente se acotovelando”, diz Butori. “Será um jogo
sem rentabilidade, com todo mundo tentando se manter, pois a oferta será imensa
para uma demanda retraída.” / C.S.
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