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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Na contramão, consumo acelera no Centro-Oeste

Por Arícia Martins | De São Paulo
Nem todas as regiões do Brasil viram o nível de consumo desacelerar com força no começo deste ano. No Centro-Oeste, o varejo cresceu muito acima da média nacional entre janeiro e março, tendência que deve continuar ao longo de 2014. Para economistas, o bom desempenho do agronegócio tem impulsionado a geração de empregos, os ganhos de renda e, por conseguinte, compras de bens de maior valor nessa área do país. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou só 0,2% na passagem do último trimestre de 2013 para o primeiro de 2014, feitos os ajustes sazonais, o setor agropecuário teve expansão de 3,6%.
As contas nacionais dão uma pista sobre o descompasso entre o comportamento do comércio em geral e na média do Distrito Federal e dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do varejo restrito - que não incorpora automóveis e material de construção - subiu 2,2% nos primeiros três meses do ano no Centro-Oeste, bem acima da média nacional, de 0,3%. No comércio ampliado, que inclui os dois setores, a diferença é ainda maior: as vendas cresceram 3,5% na região e encolheram 0,2% no país.
Nas projeções da GO Associados, a receita agrícola bruta de grãos e de culturas permanentes (café, cana, fumo e laranja) vai subir 7% entre 2013 e 2014, para R$ 293,5 bilhões, puxada principalmente pela soja, movimento que tem influência positiva sobre o comércio de regiões produtoras. Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da consultoria, calcula que cerca de 30% da receita de R$ 91,4 bilhões da safra da commodity ficará no Mato Grosso, principal Estado produtor do grão.
"Essa ainda é uma região de prosperidade, ao contrário de Estados onde a indústria tem maior peso", diz Silveira, que ainda aponta que os efeitos da renda agrícola sobre a economia regional não são pontuais. "Essa renda vira poupança de famílias e empresas, o que garante uma circulação monetária ao longo de todo o ano."
Para Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o mercado de trabalho mais aquecido tem favorecido o consumo no Centro-Oeste. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), também do IBGE, o contingente de ocupados aumentou 2,6% na região, na comparação do primeiro trimestre com o mesmo período do ano passado, ante avanço de 2% na média nacional. Já a taxa de desemprego do Centro-Oeste ficou em 5,8% nos primeiros três meses do ano, patamar inferior ao percentual consolidado do país, de 7,1%.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, também mostra um quadro mais positivo no Centro-Oeste. De janeiro a abril, a criação de empregos formais subiu 1,1% no total do país e 2,2% na região. Das 60 mil vagas com carteira abertas no primeiro quadrimestre no Centro-Oeste, 19,6% vieram da agricultura. Ainda segundo o Caged, o salário médio de contratação aumentou 1,8% no Brasil e 3,2% no nesta parte do país em abril, em relação a igual mês de 2013.
Na opinião da economista da CNC, a confiança dos consumidores da região em relação à manutenção de seus empregos e a satisfação com o nível de renda influenciam seu perfil de compras e de endividamento, que também têm divergido da média do Brasil. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC, apontou que, em maio, 68,6% das famílias estavam endividadas no Centro-Oeste, parcela mais alta do que a do total do país, de 62,7%.
Isso não necessariamente significa uma capacidade menor de consumo, já que estes consumidores estão contratando crédito de maior qualidade e, por isso, não têm sido tão afetados pelo aumento dos juros, diz Marianne. Ela destaca que essa região é que tem a maior fatia de famílias com financiamento de carro (21,7%), dado condizente com a alta de 0,4% das vendas de veículos, motos, partes e peças em Goiás nos 12 meses até março. No Brasil, o varejo nesse setor caiu 0,3% em igual período. Por outro lado, nos Estados do Centro-Oeste, há menos consumidores com dívidas em atraso (19,7%, ante 20,4% na média nacional).
Na avaliação do presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomercio-GO), José Evaristo dos Santos, o varejo do Estado pode sofrer algum impacto negativo em junho e julho, já que Goiânia não foi escolhida como cidade-sede da Copa e vai "perder" o efeito benéfico que o aumento do turismo poderia ter para Brasília. Além disso, os jogos diminuem o movimento nas lojas. Mesmo assim, ele aponta que o desempenho do setor deve seguir superando a média do país. "Mantida a geração de empregos e a satisfação do trabalhador em relação à renda, com um endividamento não muito elevado, isso já é suficiente", afirma Santos.
A CNC trabalha com expansão de 4,9% para o volume de vendas do varejo restrito em 2014. A entidade não faz estimativas regionais, mas, tendo em vista o perfil do Centro-Oeste, Marianne avalia que o comércio nesses Estados pode crescer um pouco mais do que a média do Brasil neste ano.
Leia mais em:
http://www.valor.com.br/brasil/3580808/na-contramao-consumo-acelera-no-centro-oeste#ixzz34LDkmh5o

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