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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Conflito no Iraque pode elevar em US$ 2 bi o déficit do petróleo

26/06/2014 às 05h00
Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo

A escalada da violência no Iraque desde o início do mês deve afetar negativamente o resultado da balança comercial brasileira do setor neste ano. O ataque de sunitas a várias cidades, inclusive à refinaria Baiji, a maior do país, deflagrou uma guerra civil que está levando a uma disparada dos preços do barril de petróleo.
Analistas preveem que a elevação de preço - que chegaria a 10% - terá influência maior nas importações de derivados do que nas exportações do óleo cru. Nas contas da consultoria GO Associados, o déficit da balança de petróleo e derivados do Brasil neste ano pode aumentar em até US$ 2 bilhões.
Cálculos do Valor Data mostram que, entre 30 de maio e ontem, o preço do barril de petróleo tipo WTI, que baliza os preços dos derivados no Golfo do México, subiu 3,7% e chegou a US$ 105. O aumento é similar ao observado no barril do tipo "brent", utilizado mais para exportação pelo país. Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados, estima que o valor do WTI deve aumentar para US$ 111 nas próximas semanas. Levando em conta a elevação esperada, o Brasil venderia mais caro o petróleo, mas também compraria derivados por um valor mais elevado.
Na projeção da consultoria, o déficit da balança de petróleo e derivados neste ano subiria dos US$ 20,5 bilhões projetados no início do ano para US$ 22,3 bilhões, com impacto maior dos derivados. Em relação ao petróleo cru, a venda mais cara diminuiria o saldo negativo esperado em US$ 500 milhões, para US$ 2,4 bilhões. A conta de derivados aumentaria para déficit de US$ 12,4 bilhões e a de outros energéticos com preços ancorados no preço do óleo bruto para US$ 7,6 bilhões.
O déficit esperado para este ano é menor do que os US$ 24,3 bilhões de saldo negativo que a balança do setor registrou ano passado. Silveira nota, entretanto, que se forem descontados os US$ 4,6 bilhões em registros atrasados referentes a importações realizadas nos últimos meses de 2012, a tendência de aprofundamento do déficit segue, estimulada pelo aumento de preços, mesmo que seja temporário.
"De janeiro a abril deste ano tivemos déficit de US$ 8,7 bilhões, abaixo dos US$ 11,1 bilhões do mesmo período do ano passado. Mas naquela época grande parte dos registros já haviam sido contabilizados", afirma Silveira.
De janeiro a abril, quando a Agência Nacional do Petróleo (ANP) divulgou o mais recente relatório com esses dados, houve aumento tanto da produção quanto do volume exportado de petróleo pelo país no período. Neste ano, o volume produzido cresceu 7,2%. O volume do óleo cru extraído no Brasil no início do ano passado foi prejudicado por paralisações para manutenção de plataformas em bacias maduras.
"Juntando a base baixa do ano passado, que cresce a partir de agora, e o fato de que a produção de derivados está praticamente estagnada neste ano, com aumento de 0,2% de volume apenas, o incremento do óleo bruto neste ano não sana a diferença entre o que exportamos de óleo cru e o que compramos de derivados em volume. Com isso, o déficit do setor tende a aumentar quando o petróleo sobe", diz Silveira.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), também concorda que o aumento da produção brasileira de petróleo dever desacelerar até o fim do ano. Enquanto o governo prevê em 7,5% o incremento da produção nacional, ele acredita que o aumento vai alcançar 5%. O Brasil chegaria, assim, ao nível de produção registrado em 2011.
"A maior exportação de volume de petróleo já está aparecendo na balança deste ano. A questão é que derivados está estagnado e os dois preços andam juntos. Ganha-se de um lado e perde-se do outro", diz Pires.
Mesmo se o conflito no Iraque se acirrar e uma guerra civil mais duradoura se instalar, o analista não prevê que os preços possam subir muito acima do previsto. Pires diz que hoje há uma oferta grande de petróleo no mercado mundial e de fornecedores diversos, como Estados Unidos, Brasil, México e países africanos. Desde a invasão americana ao Iraque, em 2003, o país não restabeleceu o nível de produção da época da ditadura de Saddam Hussein. "Os iraquianos estão fora do mercado mundial há um bom tempo. Uma interrupção total da produção deles não vai ter efeito devastador nos preços", afirma o analista.
Outro fator atenuante para uma perspectiva mais pessimista para a balança do setor, no médio prazo, é o incremento da mistura de biodiesel para diesel dos atuais 6% para 7% em novembro e a possibilidade de o governo aumentar para 27,5% a mistura de etanol na gasolina consumida no país até o fim do ano.
Os planos de compra e venda da Petrobras também podem diluir parte do impacto do aumento do preço do barril de petróleo. Caso a alta dure poucos meses e volte ao patamar de US$ 100, a estatal pode adiar compras previstas até que o preço esteja mais favorável, de acordo com José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
"Há muito de especulação nesses preços. Contratos comerciais não variam diariamente. É claro que as importações são mais afetadas do que as exportações com o petróleo mais caro, mas, no curto prazo, não deve haver alterações grande nem para um lado nem para o outro", afirma Castro.


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