A balança comercial brasileira fechou 2013 com superávit de US$ 2,56 bilhões, mas esse pequeno saldo positivo não impediu a piora no resultado comercial com importantes parceiros no ano passado, na comparação com 2012. Houve elevação de déficit com os Estados Unidos, redução de superávit com a Ásia e o saldo com a União Europeia, positivo desde 2000, migrou para o vermelho no ano passado.
A mudança foi provocada por fatores diversos, como recuo das exportações de petróleo, queda de preços das commodities e importação em ritmo relativamente forte. Em 2014, a expectativa é de melhora modesta nos saldos dessas trocas.
Afetado principalmente pela queda na exportação de petróleo e álcool, as trocas com os americanos terminaram 2013 com déficit maior que o do ano anterior. No acumulado de 2013, o saldo negativo foi de US$ 11,42 bilhões, mais que o dobro do déficit de US$ 5,76 bilhões em 2012. Nas trocas com a Ásia houve queda de superávit, embora menor. O saldo positivo em 2013 foi de US$ 4,43 bilhões, contra US$ 6,45 bilhões em 2012. Com a China, porém, principal destino de exportações, o superávit avançou de US$ 6,98 bilhões em 2012 para US$ 8,72 bilhões.
A deterioração maior aconteceu nas trocas com a União Europeia. Depois de manter, de forma ininterrupta, desde 2000 superávit com o bloco, o Brasil fechou o ano passado com déficit de US$ 3 bilhões. Em 2012 o superávit foi de US$ 1,38 bilhão.
Para 2014, os analistas acreditam que a China continuará gerando uma demanda importante para as exportações brasileiras, mas sem crescimento extraordinário de superávit. Fernando Ribeiro, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que o crescimento das vendas ao exterior em 2013 foi impulsionado pela China que, mesmo com a economia em desaceleração, manteve um ritmo de compras acima dos demais parceiros comerciais brasileiros.
Os embarques aos chineses aumentaram 10,8% na média diária do ano passado ante o ano anterior, enquanto as exportações totais brasileiras recuaram 1% na mesma comparação. Em 2014, diz Ribeiro, os chineses devem seguir ganhando espaço.
Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento da UERJ (Cedes-UERJ), lembra que o superávit com os chineses em 2014 deve ficar muito próximo ao do ano passado. "Pode haver uma elevação do saldo, mas deve ser muito tímido, marginal, por conta do crescimento do país asiático em patamares parecidos ao deste ano."
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), há risco de o superávit com os chineses diminuir, por conta de queda no preço das commodities. A demanda da China por minério de ferro e soja deverá se manter estável em relação a este ano, calcula ele. Isso porque a previsão de crescimento para o país asiático em 2014, diz Castro, é parecida com a de 2013, em torno de 7% a 7,5%. "Os preços, porém, deverão cair." Ele projeta recuo de 3% no preço do minério de ferro em 2014, na comparação com o preço de dezembro. Para a soja em grão, na mesma comparação, prevê queda de 9,2%.
"Ao mesmo tempo, a moeda chinesa tem passado por uma ligeira valorização, o que deve tornar as exportações da China mais caras", diz. De qualquer forma, Castro não acredita que isso afetará de forma drástica as importações de produtos made in China. A balança do Brasil com o país asiático, portanto, deve fechar 2014 com um superávit parecido com o de 2013, ou talvez um pouco menor.
A expectativa de muitos analistas é que a recuperação de produção de petróleo melhore, em 2014, o resultado das trocas com outro parceiro importante do Brasil, os Estados Unidos. A melhora esperada, porém, não é espetacular, porque se restringe a uma redução do déficit apresentado no ano passado.
O restabelecimento da produção de petróleo e combustíveis, diz Branco, pode propiciar uma melhora na balança com os Estados Unidos. O petróleo é um dos principais itens da pauta de exportação. Em 2012, representou um quinto dos embarques do Brasil aos americanos. Em 2013, a queda de produção, porém, afetou o desempenho das vendas. De janeiro a novembro de 2013, foram vendidos para os americanos US$ 3,2 bilhões em petróleo, queda de 40,2% em relação a igual período de 2012.
Ribeiro, da Funcex, lembra que os Estados Unidos são um dos parceiros históricos para o qual as exportações brasileiras seguem perdendo espaço. Ele acredita que o saldo melhore em 2014 por conta de uma exportação maior de petróleo, mas destaca que o problema não é só esse. A tendência de perda de clientes americanos para terceiros, diz, seguiu no ano passado. "Em 2014, nossa inserção no mercado norte-americano deve continuar bem complicada."
Fabio Silveira, economista da GO Associados, também prevê alguma melhora no comércio com os Estados Unidos em 2014 por conta do petróleo, mas avalia que o crescimento da economia do país ainda continua baixo, apesar da recuperação. Além disso, o Brasil continua perdendo espaço no mercado norte-americano devido à falta de competitividade.
Um dos grandes motivos de preocupação dos analistas é o comércio com a União Europeia. A instabilidade econômica da região, que já causou deterioração na balança em 2013, não promete ser diferente em 2014. Assim como em 2013, segundo Castro, da AEB, a balança brasileira com os europeus também deve terminar 2014 deficitária. A economia ainda instável do bloco europeu não promete aumento de demanda dos produtos exportados pelo Brasil.
Branco, do Cedes-UERJ, diz que os países europeus estão tentando ampliar as exportações e procurando novos mercados. Entre eles, países emergentes, como o Brasil. As trocas com o bloco europeu já refletiram isso em 2013, com elevação das importações brasileiras originadas da UE em 5,5% e o recuo de 3,6% dos embarques para o bloco, levando em conta a média diária.
Para Silveira, o protecionismo dos países europeus também tem dificultado as exportações brasileiras para a região. As negociações para um eventual acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia geram expectativas de avanço em 2014, mas os economistas não acreditam que isso fará diferença nas trocas no curto prazo. "Teoricamente o acordo deve sair em 2014, mas isso não irá alterar a dinâmica do comércio com a União Europeia no ano que vem", diz Castro.
Além disso, paralelamente aos esforços de um acordo com o Mercosul, os europeus, dentro da estratégia de abrir novos mercados, têm mantido negociações com vários países. Um dos que podem afetar de forma significativa a exportação brasileira é o acordo Trans Atlântico, entre Estados Unidos e União Europeia, que deve versar tanto sobre padrões de comércio como de investimento. Vera Thorstensen, do Centro de Comércio Global e Investimento da FGV-SP, diz que esse acordo permitirá aos Estados Unidos elevar as exportações de commodities para a Europa e concorrer com as vendas brasileiras.
Para alguns analistas, o mercado latino-americano vai compensar o recuo das vendas aos europeus. "Mas não dá para esperar algo muito diferente do que vem sendo observado nos anos anteriores", diz Ribeiro, do Ipea. Em 2013, lembra, a Argentina ganhou espaço principalmente com a compra de automóveis e autopeças de fornecedores brasileiros. O abrandamento das restrições a produtos brasileiros também contribuiu para o crescimento de 8,1% nas vendas aos argentinos na média diária do ano passado em relação a 2012.
Branco, pondera, porém, que não se pode esperar para este ano outra "boa surpresa" que o comércio com os argentinos propiciou em 2013. "Há muitas ingerências políticas no comércio com a Argentina e provavelmente o resultado não se repetirá da mesma forma."
Silvio Campos Neto, economista da Tendências, também acredita que não se pode esperar muito da Argentina para o resultado da balança comercial. O que ele classifica como voluntarismo nas políticas comerciais do governo argentino torna difícil a previsão do comportamento da demanda pelos produtos brasileiros. "É um país de complementaridade de setores industriais e com peso importante. Mas é um país complicado e com uma situação econômica desfavorável", afirma.
Assim como outros analistas, Lia Valls, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), também não prevê mudanças na composição dos principais parceiros brasileiros neste ano em relação ao resultado de 2013. A única exceção fica por conta da Argentina. "A relação pode piorar, há sempre um risco, pois a pauta tem grande peso em automóveis."
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