Os preços do café, que registraram patamares mínimos em 2013, devem continuar sem sustentação este ano em decorrência da oferta abundante, segundo analistas e representantes do setor. Uma recuperação mais significativa só deve ocorrer em 2015. Isso porque se espera, para o ano que vem, que a demanda mundial continue crescendo e uma diminuição da produtividade dos cafezais, reflexo do menor investimento nos tratos culturais nos anos de baixa de preços.
O índice composto de preços da Organização Internacional do Café (OIC) - que agrupa vários tipos de café, como os naturais brasileiros, suaves colombianos e robustas - ficou em US$ 1,0099 por libra-peso em novembro, 5,6% abaixo da média de outubro, e atingiu seu nível mais baixo em seis anos e meio.
Na avaliação de Moris Mermelstein, consultor da MM Commodities, os preços podem cair ainda mais em relação aos patamares atuais. Ele prevê que o café arábica negociado na bolsa de Nova York, hoje pouco acima de US$ 1 por libra-peso, poderá recuar para cerca de 95 centavos de dólar no segundo trimestre. No mesmo período, o café robusta transacionado na bolsa de Londres, poderá ir a um patamar entre US$ 1.300 e US$ 1.400 a tonelada, ante os US$ 1.700 em meados de dezembro. Nos dois casos, novas quedas são esperadas por conta da oferta elevada.
Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffees, estima que "sem a ajuda do café robusta, o arábica não vai conseguir subir sozinho". "Não deve passar de 120 a 125 centavos [a libra-peso do arábica] e deve ficar entre 105 e 110 centavos", projeta para 2014.
Para ele, o comportamento do mercado vai depender de alguma medida adicional do governo brasileiro e de como vai se desenvolver a safra brasileira. Em sua visão, o mercado pode encontrar alguma sustentação em outubro ou novembro deste ano.
Em 2013, o governo brasileiro anunciou várias medidas para ajudar a sustentar as cotações da commodity, como o reajuste do preço mínimo do café arábica, leilões de contratos de opção de venda, renegociação das dívidas e a intenção de reduzir a área cultivada com o grão.
Mas o mercado continua apostando na baixa dos preços do café, avalia Fábio Silveira, da GO Associados. A razão está nos elevados estoques mundiais e no crescimento pouco significativo do consumo global do grão, observa. Silveira estima que este ano os preços continuarão baixos e poderão subir um pouco em 2015, mas não devem voltar nem ao nível de 2012. "Para voltar a US$ 1,70 [por libra-peso o arábica] vai demorar muito", afirma. Em 2011, o preço do café arábica atingiu nível recorde, superando os US$ 3 por libra-peso.
De acordo com o economista, os melhores tratos culturais durante os anos de preços mais altos terão efeitos positivos sobre a produtividade dos cafezais ainda "durante um bom tempo", o que continuará gerando grande produção num cenário de oferta global já elevada. "O consumo aumentou muito menos [em relação à produção] e 'digerir' essa diferença leva tempo", acrescenta.
Para a GO Associados, o preço internacional médio do café arábica deverá ter uma perda adicional de 5% em 2014, situando-se em US$ 1,196 por libra-peso, ante uma queda de 28% registrada no ano passado sobre 2012. A projeção leva em conta a expectativa de novo incremento do estoque global, expansão da produção em países de menor produtividade e evolução lenta da economia mundial.
Já Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), acredita que os preços da commodity possam subir cerca de 10% este ano. A estimativa leva em conta cenário semelhante visto em 2002, quando as cotações do produto despencaram depois de anos de altas significativas.
Entretanto, o atual ciclo de baixa do café deve se estender um pouco mais porque a produção não foi drasticamente reduzida como após a crise em 2002, explica Braga. Isso porque grandes produtores, como Colômbia, Vietnã e Indonésia adotaram políticas para sustentar a renda de seus cafeicultores, o que acabou estimulando a produção.
O diretor do CeCafé estima que em dois a três anos o cenário ainda seja de maior produção global de café frente à demanda, situação que vai "refrear" altas mais significativas.
A queda dos preços do café no mercado internacional fez recuar as receitas do Brasil com a exportação da commodity. Conforme o CeCafé, de janeiro a novembro de 2013 ante igual intervalo de 2012, o valor das exportações brasileiras do grão (verde e industrializado) recuou 17,9%, para US$ 4,733 bilhões. Em 2011, quando os preços atingiram níveis recorde, a receita bateu US$ 7,896 bilhões no mesmo período.
Mas o consumidor brasileiro ainda tem sido pouco favorecido pelo recuo das cotações internacionais. No mercado doméstico, de modo geral, os preços do café no varejo ficaram estáveis no ano passado até agosto e setembro. Depois começaram a registrar ligeira queda, conforme Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Segundo ele, há um intervalo de tempo para que a indústria possa atender ao pedido de reajuste do varejo para o preço de entrega, que varia de três a seis meses, dependendo da negociação comercial. A mais recente pesquisa do Sindicafé aponta que o preço do café tradicional, no fim de novembro, em São Paulo, foi de R$ 12,55 por quilo.
Com base em dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a GO Associados estima que os estoques globais finais na safra 2013/14 (outubro de 2013 a setembro de 2014) vão totalizar 36 milhões de sacas, ante 34 milhões de sacas em 2012/13. Para o ciclo 2014/15, o estoque deverá ser ainda maior - 39 milhões de sacas. Para o Brasil, a GO Associados projeta estoque final de 7,6 milhões de sacas em 2013/14 e de 8,2 milhões de sacas em 2014/15, volumes muito superiores às 2,2 milhões de sacas observadas no ciclo 2011/12.
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