Por Rodrigo Pedroso
Fonte: Valor Econômico
A política de controle de preços do governo também provoca desequilíbrio na balança comercial da Petrobras. O déficit gerado pelas trocas comerciais da estatal somou US$ 24,4 bilhões no ano passado, o triplo do saldo negativo do ano anterior, de US$ 8,6 bilhões, de acordo com dados da abertura por empresas feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Com fatia de 84,4% da corrente de comércio de petróleo e derivados, a piora no saldo comercial da Petrobras influenciou a balança do setor.
Depois de ter participação de 12,8% nas exportações totais do país em 2012, a parcela do setor de petróleo e derivados nos embarques recuou para 9,4% no ano passado, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Trata-se da menor fatia desde 2005, quando petróleo e derivados representaram 7,9% dos embarques.
Os desembarques desses produtos, por outro lado, acompanharam o ritmo relativamente acelerado das importações em 2013. O setor aumentou a participação nas importações totais do país para 15%. Em 2009, menor participação dos últimos 13 anos, as compras externas do setor corresponderam a 11,6% do total importado.
Com isso, o peso de petróleo e derivados na corrente de comércio exterior brasileiro ficou em 12,2% em 2013, próximo do registrado nos anos anteriores. Esses movimentos em sentidos opostos da exportação e da importação resultaram no pior déficit da balança de petróleo e derivados desde 2000.
Os dados da ANP mostram saldo negativo de US$ 13,1 bilhões ano passado. O pior saldo em 14 anos foi o de 2000 -déficit de US$ 5,52 bilhões. Nem a inclusão de plataformas de petróleo como item exportado poderia tornar positivo o saldo comercial da balança da indústria do petróleo. A venda de plataformas despertou atenção ao atingir US$ 7,7 bilhões no ano passado - o recorde era US$ 1,49 bilhão, em 2008 - e tornar-se o quinto item mais importante da pauta de exportação do país. A conta de 2013 incorpora os registros atrasados referentes a importações de petróleo e derivados realizadas no ano anterior.
Segundo analistas ouvidos pelo Valor a contribuição desse grupo não será tão negativa em 2014, com manutenção da fatia dos importados e avanço da exportação para níveis mais próximos de anos anteriores. A previsão é de déficit, mas bem menor que o de 2013.
As mudanças do peso das petroleiras no total exportado e importado nos últimos anos se devem à política adotada pelo governo para o setor, de acordo com Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Os preços administrados para os combustíveis no mercado interno desestimularam a produção e consumo do etanol, aumentando a demanda por gasolina. Os estímulos fiscais para a indústria automobilística e os incentivos para a compra de automóveis também pressionaram as importações.
Nesse quadro, o cronograma de investimentos da Petrobras para refinarias foi prejudicado pela defasagem entre preços internos e externos de combustíveis. Com a oferta crescendo em ritmo menor do que a demanda, mais um impulso foi dado às compras externas. "Em 2009 não importávamos gasolina. De 2010 até o fim do ano passado, a importação do combustível cresceu e hoje representa 13% do consumo interno vem do exterior", afirma Pires.
Para este ano, Pires prevê crescimento das importações, mas em um ritmo mais baixo em função da desaceleração do consumo interno, e recuperação das exportações. O CBIE prevê déficit menor para a balança do setor neste ano, de US$ 5,4 bilhões.
Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados, vê o início de um movimento de "recuperação de produção e credibilidade" da estatal entre 2014 e 2015. Com o cronograma do pré-sal em andamento, mas com anos à frente até começar a ter efeito substancial na produção, o aumento da extração de petróleo e o avanço tímido do consumo interno de combustíveis esperado por ele para este ano vai ser sentido na balança.
"O difícil é prever a velocidade dessa recuperação. Não dá para esperar aumento forte da produção de imediato. Por outro lado, neste ano o consumo interno não será tão preponderante, pois a economia vai crescer pouco, assim como as exportações totais, causando tanto a melhora na balança do setor quanto o aumento do peso dele no comércio exterior", diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário