O anúncio da conformação da Aliança do Pacífico, em
nosso próprio espaço geográfico, nos pegou no contrapé e serviu para acirrar o apelo
para que o Governo se lance, de vez, em negociações de acordos comerciais, na
ânsia de evitar a perda irreparável dos poucos espaços que ainda restam para
nossos bens industrializados nos mercados mundiais.
Até os EUA e a União Europeia estão negociando a
abertura recíproca de seus mercados. É bem verdade que o Brasil, em meio às manobras
dilatórias da Argentina, também tem buscado lançar sua bandeira a favor da
retomada da negociação Mercosul-UE.
Mas antes de nos comprometer em novos empreendimentos
negociadores, e mesmo com vistas à possível retomada da Rodada Doha, deveríamos
adotar, de uma vez por todas, um modelo de negociação de espectro mais amplo,
que inclua dispositivos regulatórios, deixando de nos aferrar apenas ao conceito
clássico de acesso a mercados, voltado basicamente para calendários de
desgravação tarifária.
Hoje, diante da grave defasagem competitiva que vive a indústria brasileira, a negociação de acordos comerciais deveria estar focada em uma dimensão estratégica, que adote, a partir de nossos interesses, padrões globais e uma regulação transfronteiriça para nosso comércio.
Trata-se de estabelecer instrumentos comerciais que
nos possibilitem integrar nossas práticas de mercado aos padrões de vanguarda no
comércio e nas cadeias de produtividade dos mercados internacionais,
ajudando-nos, com isso, a superar ou, pelo menos, mitigar a persistente crise
de competividade em que vive o país na indústria de transformação.
Ainda que já tardiamente, não podemos postergar o
início de um debate mais aprofundado que identifique, sob essa nova
perspectiva, os reais interesses da classe empresarial, que é, afinal, o
principal beneficiado - ou prejudicado - nas negociações comerciais. Cabe a ela
opinar, em primeira mão, dentro de cada segmento produtivo e comercial, sobre o
alcance das concessões a serem efetuadas e dos pleitos a serem apresentados no
quadro negociador, de forma a orientar e balizar a posição brasileira. Só assim
os acordos comerciais poderão trazer benefícios estruturais para a economia do
país.
A proposta do setor empresarial ao Governo deve ser abrangente
e precisa, arrolando suas pretensões e também seus limites. Caberá ao Governo e
aos negociadores brasileiros a responsabilidade de defendê-la, ao coordenar-se
com o Mercosul e na mesa de negociações extra-bloco.
A realidade hoje impõe repensar nosso modelo
negociador. A menos que nos conformemos em participar como meros coadjuvantes
das cadeias de produção global, impedindo-nos de escapar da perversa armadilha
de sermos grandes fornecedores de “commodities”, mas produtores de manufaturados
apenas para o mercado doméstico, crescentemente tolhido, aliás, pela
competividade externa.
Regis Arslanian é diplomata e sócio da GO Associados
Fonte: http://oglobo.globo.com/
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